
O processo judicial é um desdobramento de uma briga que o público não conhecia, mas que é antiga. Emicida acusa o irmão de fazer saques indevidos no valor de R$ 6 milhões sem comunicá-lo Evandro Fióti fala com exclusividade sobre ruptura da parceria com o irmão Emicida
Uma briga entre os irmãos Emicida e Evandro Fióti, sócios na Laboratório Fantasma, abalou o mundo do rap e ganhou as redes sociais. Emicida acusa Fióti de fazer saques indevidos no valor de R$ 6 milhões sem comunicá-lo.
Em entrevista exclusiva ao Fantástico deste domingo (6), Fióti negou acusações de saques indevidos e falou sobre o fim da parceria. O artista comentou, ainda, como está a relação dos irmãos com a mãe.
“Não tem como ela escolher um lado, mas ela tem a compreensão do que aconteceu. Ela confia em mim e no Leandro também”, afirmou.
Emicida não quis gravar entrevista, mas mandou uma nota em que afirmou que foi surpreendido pelo processo judicial proposto pelo irmão enquanto eles negociavam amistosamente mudanças no modelo de trabalho (leia mais abaixo).
O processo judicial é um desdobramento de uma briga que o público não conhecia, mas que é antiga. “Quando eu percebi que existia um distanciamento entre nós, foi ali mais ou menos entre 2017 e 2018”, explicou Fióti.
Eles cresceram juntos, venceram a pobreza e ganharam fama. Mas, na semana passada, os irmãos anunciaram que seguiriam caminhos diferentes. “Eu acredito que a gente construiu coisas muito relevantes, mas chegou um momento que isso se esgotou”, disse Fióti.
Este racha só veio à tona em 28 de março. Emicida surpreendeu os fãs com um comunicado: “A partir desta data, Evandro Fióti não representa mais os interesses da carreira artística de Emicida.”
No mesmo dia, Fióti anunciou “uma nova fase de sua trajetória profissional”.
“Eu tenho muita saudade do Leandro que se emocionava quando eu tocava violão. Aquela foi a energia que possibilitou que a nossa família construísse uma empresa para impulsionar os nossos sonhos”, disse Fióti, quando perguntado se a parceria entre os irmãos acabou.
A trajetória dos irmãos
Irmão Emicida e Fióti anunciaram fim de parceria no rap
Reprodução/TV Globo
A Laboratório Fantasma, criada em 2010, é a empresa que agencia a carreira de Emicida.
Pelo contrato, Leandro, o Emicida, e Evandro, o Fióti, tinham 50% da empresa cada.
Em 2014, uma alteração contratual deu a Emicida noventa por cento da empresa principal. Fióti passou a ter apenas os 10% restantes.
A administração ficou à cargo de Emicida e os sócios poderiam, em comum acordo, ficar uma retirada mensal, uma espécie de salário.
Em dezembro, eles firmaram um acordo para repartir os bens. Fióti continuou na gestão, mas Emicida, agora sócio majoritário, teria se surpreendido com transferências feitas pelo irmão.
“Ele foi avisado [da transferência]. Existe um e-mail dentro dos nossos e-mails institucionais e corporativos, existem evidências disso internamente, de que ele sabia”, diz Fióti. Em vídeo divulgado pelo jornal Folha de São Paulo, Emicida disse em uma reunião concordar com os saques feitos por Fióti.
“Dinheiro nunca foi o que me mobilizou. Desde a época que eu era servente de pedreiro, desde a época que eu fui líder em uma rede de fast-food. O que me mobiliza é o que eu quero construir. E na Laboratório Fantasma nunca foi diferente disso”, afirmou Fióti.
“O que eu percebi foi que, neste lugar da ascensão econômica, a gente não foi preparado para o que isso traria, no que a gente deveria mudar individualmente na nossa vida”, afirmou Fióti.
O que diz Emicida
A defesa do cantor Emicida disse que a gravação foi tirada de contexto. Em 12 de março, os advogados de Emicida informaram que, como presidente da Laboratório Fantasma, ele revogava todos os poderes para que Fióti atuasse como procurador da empresa. Ou seja, o irmão mais novo não poderia atuar mais como gestor ou representante do grupo. Foi o começo do fim da parceria.
“O ataque foi muito desproporcional. Não é porque é só uma relação entre irmãos. Seria desproporcional em qualquer relação”, disse Fióti.
Emicida não quis gravar entrevista, mas mandou uma nota em que afirmou que foi surpreendido pelo processo judicial proposto pelo irmão enquanto eles negociavam amistosamente mudanças no modelo de trabalho.
No texto, Emicida reforçou que a Justiça já negou por duas vezes os pedidos feitos por Evandro nesse processo porque o juiz não viu fundamento. Disse ainda que as alegadas provas que Evandro diz ter e que são espalhadas nas redes foram apresentadas nos autos, e nem assim a Justiça viu fundamento.
“Estou muito triste de ter que passar por tudo isso. Não quero e não vou espetacularizar essa situação, minha família, que eu amo tanto. Peço que meus fãs, amigos e parceiros compreendam este momento difícil. Deixarei que os advogados tratem do assunto daqui pra frente e torço para que nada disse precise continuar acontecendo”, disse na nota.
“Eu espero que amanhã, segunda-feira, a gente consiga, primeiro de tudo resolver isso dentro de casa, com os poderes reestabelecidos em uma sociedade que é 50% e 50%. Conosco conduzindo esta situação com ética, de boa-fé juntos, de profissionais de advocacia que respeitem o que é um patrimônio construído com suor, sangue, história e legado negro”, disse Fióti.
Enquanto isso, o mundo do rap espera para ver se os caminhos de Emicida e Fióti, um dia, vão se cruzar novamente.