‘Tragédia anunciada’: casarão no RJ ameaça terminar de desabar

Dos três andares do casarão, o terceiro e metade do segundo desabaram no começo de marçoArquivo pessoal

Um casarão histórico localizado no bairro da Lapa, Centro do Rio de Janeiro, ameaça terminar de desabar há mais de duas semanas. Nos últimos dias, o proprietário de um restaurante vizinho ao imóvel fez uma série de vídeos explicando que o local já virou uma “tragédia anunciada“, pedindo ajuda aos órgãos públicos antes que o pior aconteça.

A fachada do casarão desabou no último dia 8, interditando a avenida Mem de Sá, uma das principais da região central da capital fluminense. Na ocasião, parte do teto e das paredes do imóvel sucumbiram, deixando o restante em um risco iminente desde então.

Em entrevista ao Portal iG, Paulo André Jannuzzi Lagoeiro, proprietário do restaurante “Lá na Criação Lapa”, que fica ao lado do casarão, contou que já denunciou diversas vezes para a Prefeitura sobre os “sinais de colapso iminente”. O comerciante já havia avisado do risco de queda antes mesmo do primeiro desmoronamento, no começo do mês.

A quem pertence o imóvel?

Imagens feitas Por Paulo andré Jannuzzi Lagoeiro antes da primeira queda do imóvelArquivo pessoal

Localizado no número 197 da Avenida Mem de Sá, o sobrado é de propriedade da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (SMCRJ), fundada pelo então imperador Dom Pedro I no século XIX.

“Pelo que eu posso perceber, é uma associação que não se renovou. Acho que hoje os membros são pessoas idosas e por algum motivo ela foi abandonando o imóvel — que por sinal era um casarão lindo —, e foi ficando abandonado já de muitos anos para cá”, explicou Paulo André.

Ele também conta que o sobrado começou a mostrar sinais de que iria colapsar, com a presença de rachaduras e árvores crescendo sobre o telhado. 

No Facebook da associação, podem ser encontrados diversos comentários de moradores e comerciantes da região da Lapa, pedindo providências sobre o imóvel. Há, inclusive, avisos de Paulo André sobre a possibilidade de uma tragédia, feitos antes do dia 8 de março.

Invasões de moradores em situação de rua

Antes do primeiro desmoronamento, o casarão histórico contava com três andares. De acordo com Paulo André, o terceiro andar caiu inteiro, assim como metade do segundo. Por ser uma casa que, mesmo abandonada, contava com móveis, ela se tornou alvo de furtos após a queda.

O comerciante contou ao iG que a situação é agravada pela invasão de pessoas em situação de rua, que o tempo todo entram no casarão para furtar vigas de madeira e o que mais encontrarem.

“O pessoal começou a entrar diretamente para pegar esses materiais e vender. Mesmo com a casa interditada, há um constante entra e sai de pessoas. Muitos dos materiais retirados exigem que eles batam e quebrem as paredes para removê-los. E quem faz isso, na maioria das vezes, são pessoas vulneráveis, com o raciocínio comprometido pelo uso de álcool ou drogas. Por conta dessa vulnerabilidade e necessidade, eles simplesmente ignoram a interdição”, relatou o comerciante.

Lagoeiro contou que já fizeram fogueira por duas noites dentro do local, se tornando necessário o acionamento dos bombeiros para apagar o fogo.

“É como enxugar gelo. Toda vez que o poder público intervém — seja a polícia, os bombeiros ou a Defesa Civil — eles resolvem o problema por alguns minutos, mas assim que viram as costas, tudo volta ao que era antes. A solução que estão apresentando é apenas temporária, algo para dizer futuramente que tomaram uma atitude, mas, na prática, nada muda de fato. O que cobramos é uma solução real. E, se essa solução real não for possível, que ao menos seja feita a demolição imediata”, afirmou.

Ações dos órgãos públicos

Após a queda, Defesa Civil interditou o local com fitas amarelasArquivo pessoal

A proprietária do imóvel onde está o restaurante de Paulo André, Laura Jannuzzi Lagoeiro, conta que desde 2024 as rachaduras no casarão são percebidas. Em janeiro, ela esteve no Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, que trata sobre a preservação e conservação dos patrimônios da cidade, oportunidade em que foi feito um ofício para a Defesa Civil em relação ao casarão.

Outros chamados também foram feitos ao órgão público e, segundo eles informaram à proprietária, “uma faixa de plástico já bastaria para assegurar que o perigo de desmoronamento fosse afastado”.

“A Defesa Civil  interditou o meu prédio sem fazer nenhuma vistoria interna, causando um enorme prejuízo ao restaurante que nele funciona, e sem colocar nenhum motivo no despacho”, afirmou Laura. Outro imóvel próximo também sofreu interdições, que foram derrubadas após a apresentação de um laudo técnico.

Nas redes sociais, Paulo André conta que a Defesa Civil observou o local após a queda no dia 8 e apenas colocou a fita de interdição. “Eles viraram as costas e saíram. Minutos depois, o primeiro morador de rua que passou já arrebentou aquela fitinha”, disse. Confira os relatos:

O Portal iG entrou em contato com a Prefeitura do Rio de Janeiro e com a Defesa Civil estadual, mas até a última atualização da matéria não teve retorno. Tentamos contato também com a SMCRJ. O espaço segue aberto para posicionamentos.

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