Cuidados paliativos: equipe realiza sonho de paciente de voltar a Recife para rever família e o mar antes de morrer


Seu Hugo morreu na madrugada de 4 de fevereiro, 11 dias depois de embarcar para a terra natal. “[Estou] feliz! Muito!”, celebrou antes do voo. Cresce número de cuidados paliativos realizados no HC da Unicamp
Quando questionado se estava feliz, Hugo Barbosa Ferreira dos Santos, paciente do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, em Campinas (SP), afirmou prontamente: “muito!”. A entrevista foi concedida à EPTV antes que Seu Hugo, que tinha um câncer no intestino, realizasse o último sonho de retornar a Recife para rever a família e o mar.
Após a família conseguir uma vaga para ele num hospital de Recife, a equipe de Cuidados Paliativos comprou duas passagens aéreas – para ele e para a médica residente voluntária Letícia Costa. Os dois embarcaram no dia 24 de janeiro deste ano. Seu Hugo morreu na madrugada de 4 de fevereiro, 11 dias depios de voltar para casa.
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Desde abril do ano passado, Seu Hugo estava internado no HC da Unicamp, já sob cuidado e acompanhamento das equipes de Oncologia, Cirurgia do Trauma e Cuidados Paliativos. Ele era de Recife e trabalhava na região de Campinas quando sofreu um acidente.
No HC, descobriu um câncer no intestino e passou por várias cirurgias, mas não deixou mais o hospital.
Com afeto e ‘último desejo’, setor do hospital da Unicamp atua para garantir bem-estar a pacientes no fim da vida; conheça histórias
Seu Hugo e a médica Letícia Costa durante o voo
Reprodução EPTV
A viagem
O desejo se tornou missão para a equipe de Cuidados Paliativos. “Fizemos uma primeira saída para fora do hospital. Fomos em uma padaria, ele reviu o melhor amigo aqui em Campinas. Ficamos 4 horas fora do hospital e vimos que era possível que ele saísse com segurança”, contou Roberta Antoneli, enfermeira paliativista.
Então, foi a vez de providenciar o necessário para a viagem. “A gente tentava de tudo. Transporte aeromédico, liguei pra Recife, e não dava certo. Aí as meninas falaram ‘olha, só se a gente colocasse ele num voo comercial’. Eu falei ‘eu vou'”, contou Letícia Costa.
“Alguém até perguntou ‘mas você é doida?’. Eu sou um pouco, então ‘bora'”, brincou a médica voluntária.
“Faz um ano que ele começou esse sofrimento todo. Ele ama recife, é de lá que ele vem. E já que não há cura pra ele, o sonho dele é voltar pra terra dela, pra casa dele”, disse Lúcio Barbosa, irmão de Hugo, à reportagem.
Antes da viagem, Seu Hugo demonstrou a felicidade em viajar: “finalmente deu certo”, comemora. Quando fala sobre a internação no hospital, o bom humor permanece. “Foi maravilhoso. Foram, eu diria, momentos de aprendizado”, reflete.
Hugo realizou o sonho de voltar à Recife, sua terra natal, e rever a família
Reprodução EPTV
Vaquinha para as despesas
Foi aberta “vaquinha virtual” pelo Projeto Wishes para restituir as despesas com a viagem de Hugo, de aproximadamente 11 mil reais. A realização do sonho de Seu Hugo foi possível graças ao projeto, que realiza os desejos de pacientes paliativos da Unicamp.
Os voluntários dependem da contribuição da população para tornar esses sonhos reais. Qualquer pessoa pode contribuir fazendo uma doação via PIX. Veja como contribuir acessando o site.
O que são cuidados paliativos?
Na reportagem especial Cuidados Paliativos, exibida nesta sexta-feira (14), o EPTV1 explica a importância dessa assistência e como ela é essencial para pacientes, familiares e amigos (assista ao vídeo acima).
O cuidado paliativo é uma abordagem da medicina que busca oferecer assistência aos pacientes que tenham uma doença que ameaça a continuidade da vida. O objetivo é estabelecer bem-estar e conforto, não apenas para quem vive o diagnóstico, mas também para a família e quem vive ao redor, como explica a médica Cristina Terzi, coordenadora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas da Unicamp.
“Enquanto está fazendo cirurgia, quimioterapia, radioterapia, procedimentos, os cuidados paliativos já podem estar atuando. Então, a gente vai dar esse apoio físico, social, espiritual, psicológico, entender o paciente como um paciente e não como uma doença”. Cristina é uma das responsáveis por levar esse conceito ao Hospital da Unicamp a partir de 2018. Um trabalho pioneiro no Brasil.
Embora o cuidado paliativo esteja presente nas faculdades de medicina, a especialista pontua que ainda há poucos locais que ofereçam essa forma complexa de atendimento. Para ela, ainda é preciso que as gestões e a sociedade entendam que a abordagem faz parte do respeito à saúde.
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