Trump 2.0 é teste de resistência para a democracia americana


Presidente assume segundo mandato renovado e com mais capital político, mas deve buscar consolidar poder no estresse às instituições estatais. Donald Trump em comício
JOSH EDELSON / AFP
Donald Trump retorna nesta segunda-feira (20) à Casa Branca fortalecido, com mais capital político do que em sua primeira Presidência, após refazer o partido à sua imagem e conquistar a maioria republicana na Câmara e no Senado. Governará como criminoso condenado, mas livre das investigações por crimes federais. Seu segundo mandato funcionará como um teste de resistência às instituições que asseguram a democracia americana.
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Diferentemente de oito anos atrás, desta vez o presidente eleito domina a engrenagem do sistema político e, cercado de fiéis correligionários, aparentemente rebaixa as proteções do Executivo e do Congresso. Com a maioria conservadora de seis juízes, a Suprema Corte afrouxou as barreiras sobre o comportamento presidencial, ampliando a sua imunidade e tornando-o mais poderoso nesta volta ao comando dos EUA.
A agenda trumpista prevê ações radicais como deportação de imigrantes ilegais, cortes de impostos, desregulamentação e expurgo dos funcionários federais que não demonstraram lealdade a ele no primeiro mandato. Para cumpri-la, Trump já fez saber, por meio da retórica impetuosa, que buscará a consolidação de poder nas forças policiais, militares e no Judiciário para perseguir adversários políticos, a quem se referiu como inimigos internos.
São argumentos que se conjugam para promover o enfraquecimento das salvaguardas do sistema democrático. Alia-se a tudo isso a desordem que predomina entre os democratas, no campo opositor.
“Em 2025, Trump e seus aliados estão mais bem equipados para escapar da resistência. Ele prometeu expurgar dissidentes e cercar-se de legalistas que aprenderam a manipular as alavancas do poder”, ponderou o escritor e comentarista político Matt K. Lewis, em artigo no jornal “Los Angeles Times”, no qual revela, como conservador de centro-direita, a preocupação de que o presidente rompa as proteções que o restringiram no primeiro mandato.
Desta forma, a lealdade prevaleceu sobre a experiência e a competência na indicação de falcões extremistas para cargos importantes como o Departamento de Defesa e o Departamento de Justiça. Trump deixou claro que o serviço público apolítico, que denomina como estado profundo, não o interessa e será reestruturado com demissões e a reativação do Anexo F, que, entre outras atribuições, exclui as proteções aos funcionários.
É dado como certo que ainda hoje, após ser empossado, Trump assinará uma volumosa quantidade de ordens executivas para desfazer as políticas do governo Biden. Na terça-feira está prevista uma grande batida policial em Chicago, cidade governada por democratas, para prender e expulsar imigrantes ilegais — um dos pilares da campanha eleitoral que possibilitou o retorno à Presidência.
Conforme observou Daron Acemoglu, Nobel de Economia do ano passado, na pior das hipóteses, Trump deixará para os americanos uma democracia que foi permanentemente mutilada. “No mínimo, ele terá demolido várias normas democráticas, como erodir a autonomia do Departamento de Justiça e, muito provavelmente, usar instituições estatais para atingir adversários”, argumentou no “Project Syndicate”.
O mantra “América em primeiro lugar”, associado ao comportamento disruptivo do presidente eleito, perturba e desestabiliza aliados tradicionais dos EUA. Trump é capaz de despejar a provocação, da forma mais genuína, e normalizar a desinformação. A cobiça à Groenlândia e ao Canal do Panamá, e a ideia de anexação do Canadá como estado americano oscilam entre o tom autêntico e o blefe.
Há oito anos, num curto discurso inaugural, dominado por notas agressivas e populistas, o presidente prometeu acabar com a carnificina americana de problemas sociais e econômicos. Entregou um governo caótico e não foi reeleito. Ele sobreviveu politicamente ao hiato de quatro anos, ainda que ameaçado por quatro processos criminais. O Trump que retoma hoje o poder presidencial americano é o mesmo, mas renovado pelo clamor da vingança.
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