Quando a paixão pelos carros antigos ultrapassa os limites do prazer, da sensação de reviver o passado, e torna-se fonte de inspiração e ensino para jovens adolescentes é porque a conexão é precisa e foi estabelecida.
Inigualável, a boa obra com o nome de Carde Arte Design Museu (a primeira letra “C” vem de carros, a letra “A” de arte, a letra “D” de design e a letra “E” de educação) será inaugurada no dia 28 de novembro, em Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira, em São Paulo.
Todos os olhos dos apaixonados por clássicos e históricos automóveis e membros de Veteran Cars Clubs se voltam para o novo museu no país. Em Santa Catarina há, pelo menos, três museus de automóveis – em Pomerode, Balneário Camboriú e Urubici. Além disso, o atual presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), com 241 clubes associados, é o catarinense Andrés Raimundo Federico Pesserl, de Criciúma.
Antes mesmo de abrir as portas ao público, o Carde Museu já é considerado o maior e mais significativo museu de automóveis do Brasil e da América Latina. Seu formato único, com design arrojado e uso de muita tecnologia, a catapulta ao cenário internacional. A envergadura do projeto teve investimento de R$ 100 milhões pela Fundação Lia Maria Aguiar. A filantropa Lia Maria Aguiar é filha e herdeira do fundador do Bradesco, Amador Aguiar.
Cerca de 100 veículos estão em exposição no museu de seis mil metros quadrados. Carros como Simca, Gordini, DKW, Interlagos, Galaxie, Maverick, Dodge, Opala, Fusca, Corcel e Passat, além de Ferraris, Lamborghinis e Cadillacs. A fundação desenvolveu uma escola de restauro em Campos do Jordão, para jovens matriculados.
A paixão pelos automóveis
Luiz Goshima, colecionador e idealizador do Museu Carde e membro honorário da Fundação Lia Maria Aguiar, considera que a formação de jovens no ofício de restaurador de veículos oportunizará amplo campo de trabalho.
Ele acredita que cada veículo do acervo não é apenas uma máquina, mas uma peça essencial para compreender a história e evolução dos automóveis. “Os carros que temos aqui são testemunhas de eras passadas, cada um com suas histórias, suas memórias e seu legado.”
Experiência imersiva no Museu do Automóvel
Visitar o Carde é embarcar em uma jornada pela história do Brasil. São nove salas temáticas que evidenciam períodos históricos no país, como a Era Vargas, de 1930 a 1954, entre a ditadura e a democracia. O museu teve a consultoria de história da professora Heloísa Starling e do Projeto República da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Já a história automotiva tem a curadoria de João Pedro Gazineu.
O design inédito do Carde foi concebido por Gringo Cardia, uma referência brasileira na criação de museus. Também obras de arte de Candido Portinari, Di Cavalcanti, José Zanine Caldas e Vik Muniz ainda ficam espalhadas pelo Carde.
A joia do museu: Lincoln V12 1938
No coração do museu de automóveis brilha uma joia rara: o Lincoln V12 1938 que transportou o Papa João Paulo II na primeira de suas três visitas ao Brasil, em 1980, e a rainha britânica Elizabeth II em 1968. O carro oficial foi encomendado pelo ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros.
Dentre os cinco fabricados, restam apenas dois exemplares. Um deles está no White House Visitors Center, o museu da Casa Branca, em Washington (EUA); o outro, que pertenceu ao colecionador Og Pozzoli, está no Carde Museu.
Berlineta nacional: Willys Interlagos nº 22
Outro destaque do museu é o Willys Interlagos, o primeiro esportivo de produção nacional, fabricado pela Willys Overland do Brasil. Produzida e vendida entre 1962 e 1965, a berlineta chama a atenção pelas dimensões pequenas: 3,78 metros de comprimento, 1,45 m de largura, 1,14 m de altura e 2,10 m de entre-eixos.
Exposto em uma sala especial temática, o Willys Interlagos nº 22 tem gravado nele uma dedicatória escrita à mão pelo icônico piloto Bird Clemente, que competiu na década de 1960: “Obrigado pelos melhores momentos da minha vida. Saudades.”
A Lenda do Uirapuru: Brasinca 4200 GT
O museu também apresenta, em sua sala de entrada, o icônico Uirapuru. O raríssimo Brasinca Uirapuru é apresentado pendurado num cajueiro de aço coberto de crochê, em uma obra do artista indígena Rudá Jenipapo. A grande colcha foi produzida por 200 mulheres do projeto social Instituto Proeza, da capital federal.
Com um motor de 142 cv de potência, a Brasinca produziu apenas 50 unidades deste modelo. Quando a operação foi vendida ao piloto Walter Hahn Junior, parceiro de corridas do jornalista Expedito Marazzi, o veículo foi rebatizado de Uirapuru. Na década de 1960, o famoso compositor e humorista brasileiro Juca Chaves costumava desfilar por locais badalados com seu Uirapuru branco, tornando-o um símbolo de luxo e sofisticação.