Voz da Plebe Rude, Philippe Seabra dá em autobiografia testemunho parcial da expansão do punk rock de Brasília


Capa do livro ‘O cara da Plebe’, de Philippe Seabra
Arte de Celso Orlandin Jr.
♫ OPINIÃO SOBRE LIVRO
Título: O cara da Plebe
Autor: Philippe Seabra
Cotação: ★ ★ ★
♪ Com fartas 624 páginas, a autobiografia de Philippe Seabra escapa de ser mera egotrip do guitarrista e vocalista da Plebe Rude, uma das bandas mais importantes da vertente punk do rock brasileiro que irrompeu ao longo dos anos 1980.
O que desculpa o tom egóico (matéria-prima de quase todo relato do gênero, verdade seja dita) e até justifica o livro O cara da Plebe – posto no mercado em novembro pela editora Belas Letras – é o fato de ninguém nunca ter escrito a biografia da Plebe Rude, cuja trajetória foi abordada somente em documentário, A Plebe é rude, estreado em 2016.
Embora nascido nos Estados Unidos, Phillipe Seabra veio morar em Brasília (DF) aos nove anos, em 1976, ano marcado pela explosão do punk na Inglaterra (a bomba já havia sido detonada nos Estados Unidos a partir de 1974).
Influenciado pelo punk rock, o adolescente veio a ser um dos integrantes da Tchurma, como ele se refere no livro à geração de roqueiros brasilienses que formariam bandas de importância capital no rock do Brasil, como Aborto Elétrico, Capital Inicial, a própria Plebe Rude e sobretudo a Legião Urbana criada por Renato Russo (1960 – 1996).
Ou seja, Philippe foi ao mesmo tempo testemunha e parte da história. Na narrativa de O cara da Plebe (por vezes gordurosa, mas com texto bem escrito pela redação final do jornalista Marcelo Ferla), o artista dá testemunho parcial de como tudo aconteceu. Ou seja, a história é filtrada pela ótica pessoal do autor do livro e se ressente da inevitável falta de isenção na apresentação dos fatos.
Quando Philippe conta a reação de Herbert Vianna ao ouvir pela primeira vez a música Minha renda (em cuja letra Philippe tira sarro do sucesso comercial alcançado pela banda de Herbert, Os Paralamas do Sucesso), em ensaio da Plebe Rude no Circo Voador, o leitor sabe do acontecido somente pela memória, a interpretação e o crivo do autor do livro.
A favor de Philippe Seabra, há o fato de ele também rememorar gozações feitas com ele próprio, caso da paródia de letra de Sou free, sucesso da banda Sempre Livre em 1984.
Feita a ressalva, a autobiografia O cara da Plebe mostra toda a trajetória do artista – e naturalmente da Plebe Rude na luta contra a censura dos anos 1980 e na convivência com o mercado fonográfico (representado pela EMI, gravadora que contratou a banda naquela década áurea) – em narrativa que avança até este ano de 2024.
A parte final do livro é interessante porque oferece uma análise em perspectiva dos fatos narrados desde os anos 1980, como a mudança de volta para os Estados Unidos em 1994 (a retomada da carreira no Brasil aconteceria somente em 1999).
Hoje com 58 anos, André Philippe de Seabra é um cara ávido por manter vivo o legado da Plebe Rude, banda cuja formação atual inclui outro remanescente da composição original, o baixista André Muller, o André X.
Nesse sentido, o livro O cara da Plebe dá alguma contribuição para o entendimento do arco da história do rock de Brasília no universo pop do Brasil.
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