Caminhos que levam até Libras: serviço público, empresas e profissões estão se adaptando à inclusão


Além de promover a acessibilidade dos surdos, a língua de sinais ainda fez surgir um novo ramo no mercado de trabalho: a profissão de intérprete. Caminhos até Libras: serviço público, empresas e profissões estão se adaptando à inclusão
Por muito tempo, a comunicação foi um problema para surdos no ambiente de trabalho. Aos poucos, graças ao uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), isso está mudando. Além de promover a acessibilidade e a inclusão, a língua de sinais ainda fez surgir um novo ramo no mercado de trabalho: a profissão de intérprete.
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“Me formei em fotografia tem dez anos já, tenho experiência, mas tem muita barreira no mercado de trabalho, não contratam. Até hoje eu não consegui trabalho como fotógrafa. A minha experiência vem de mim mesma, nas fotos de alguns eventos”, lamenta Fernanda Pazetto Ferreira, que nasceu surda e encontrou sentido na visão.
Alef Pereira é auxiliar de produção, e Fernanda Pazetto, fotógrafa
Reprodução/TV Tem
Em alguns trabalhos, o marido, que também é surdo, vai junto com ela. Na empresa onde trabalha como auxiliar de produção, ele conta com um intérprete. “Eu trabalho na produção. Às vezes tem alguma barreira, aí eu pergunto, como fazer o trabalho, eu olho. Para mim se torna fácil, porque é visual. E no RH tem dois intérpretes”, diz o auxiliar de produção Aluf dos Santos Pereira.
Para ingressar no serviço público o surdo precisa saber duas línguas: a de sinais e português. Atualmente, Jundiaí tem 18 servidores com deficiência auditiva, sendo três totalmente surdos. Um deles é o Juliano Savietto, responsável pelo controle de livros que entram e saem da Biblioteca Municipal.
Um dos três servidores públicos surdos de Jundiaí é Juliano Savietto, que trabalha na Biblioteca Municipal
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“O problema é social. A sociedade pensa que o surdo não é capaz, mas todos os surdos são capazes de trabalhar e estudar, todos podem. Na produção, você pode trabalhar com um ouvinte. Todo surdo é capaz, precisa de acessibilidade”, afirma.
Hoje, James Guilherme Mantovani é professor de Libras. Mas quando se formou em mecânica no Senai, há mais de quarenta anos, as aulas da língua de sinais ainda não eram oferecidas. Trabalhou por décadas, sem intérprete, em diferentes empresas. O que ele aprendeu na vida ensinou aos colegas.
“No começo foi difícil, não tinha comunicação, não tinha Libras, era tudo visual. Após cinco anos eu consegui melhorar na empresa e subir com a minha prática de mecânico. A comunicação foi se tornando mais fácil porque comecei a ensinar Libras às pessoas mais próximas”, relembra.
Novos tempos
Cada vez mais, os ambientes corporativos estão se tornando inclusivos. A coordenadora de controladoria Daiane da Cunha é gestora da assistente administrativa Sabrina Alves de Oliveira e fez o curso de Libras para que elas consigam se comunicar sem barreiras.
Daiane da Cunha e Sabrina de Oliveira se comunicam em Libras na empresa
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“É desafiador porque são muitos sinais, então vivo aprendendo com ela. Ela me ensina e cada dia aprendo mais. Em todas as reuniões tenho o apoio do intérprete e sempre no começo da reunião tento me comunicar com ela em Libras”, diz Daiane.
“Fora daqui, as empresas precisam ter um olhar para o surdo. Não é só por causa da comunicação, são estratégias capazes de ensinar e haver essa interação. Poder caminhar juntos”, completa Sabrina.
Guilherme de Cillo é gerente de RH de uma empresa de tecnologia de energia que oferece aulas gratuitas de Libras aos funcionários. “A gente acredita muito na inclusão como meio de trazer mais inovação para o nosso ambiente. Temos diversas iniciativas e com isso conseguimos com que esse profissional se desenvolva na carreira”, descreve.
Profissão: intérprete
O elo entre o universo sem sons e o dos ouvintes é o intérprete. A profissão está em alta e remunera por hora ou diária. Os valores vão de R$ 120 a R$ 2 mil e são estabelecidos pela federação brasileira da categoria.
Formado em direito, José Neto agora trabalha com Libras
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Formado em direito, José Neto agora trabalha com Libras. “Sou intérprete judicial, ou seja, cadastrado na Justiça do Trabalho e no Tribunal de Justiça, não só de Jundiaí, mas para outras regiões. Então as demandas que surgem com a necessidade de acessibilidade por uma das partes ser surda, eles me acionam, e eu venho interpretar”, detalha.
Os intérpretes podem atuar em diversas áreas, como jurídica e empresarial, e até nas redes sociais. Além de cursos e mentorias. É a acessilibidade chegando a todos os cantos.
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