Indígenas são hospitalizadas após confronto com a PM por falta de água em MS


Indígenas denunciam truculência por parte da PM durante abordagens; não se sabe se há policiais feridos. Três indígenas precisaram ser hospitalizadas após o confronto entre policiais do Batalhão de Choque e moradores das aldeias Bororó e Jaguapiru, na cidade de Dourados (MS), nesta terça-feira (27). O conflito ocorreu devido ao terceiro dia de bloqueio da rodovia MS-156 pela falta de água nas aldeias da região. Veja mais detalhes acima
O g1 apurou que as vítimas são duas mulheres e uma criança que estão internadas no Hospital da Vida. Nas redes sociais, vários indígenas compartilharam a forma “truculenta e desproporcional” utilizada pelos policiais contra os manifestantes.
Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), informou que além das vítimas hospitalizadas, 15 indígenas acabaram feridos por tiros de bala de borracha e bombas, outros estão com problemas respiratórios ocasionados pelos gases de efeito moral.
Segundo indígenas manifestantes, os policiais chegaram de forma repentina arremessando bombas de efeito moral. Ao revidar, os protestantes começaram a jogar pedras contra os veículos oficiais e os policiais. Equipes da polícia ainda estão na região, mas não se sabe o quantitativo de policiais que ficaram feridos na operação.
Protesto por falta de água
Desde a última segunda-feira (25), indígenas ocupam a MS-156 em forma de protesto devido a grave falta de água potável nas aldeias da região. O protesto gerou grandes congestionamentos no trecho ocupado nos últimos dias.
A falta d’água não é novidade na região, sendo este um drama que se arrasta há anos, mas ficou mais crítico nos últimos dias. Segundo os moradores, muitas famílias estão racionando água até mesmo para beber.
Indígenas foram hospitalizadas após o confronto
Divulgação
As aldeias Bororó e Jaguapiru compõem a maior reserva indígena em área urbana do país, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Juntas, elas possuem mais de 13 mil indígenas das etnias Guarani, Kaiowá e Terena, o equivalente a aproximadamente 10% dos indígenas que vivem em Mato Grosso do Sul.
Nesta quarta-feira (27), o protesto virou confronto. Segundo o relato dos indígenas manifestantes, os policiais chegaram de forma repentina arremessando bombas de efeito moral. Ao revidar, os protestantes começaram a jogar pedras contra os veículos oficiais e os policiais.
“A polícia não deveria entrar na Reserva porque é uma área indígena, federal. O que já é grave. Acontece que se trata da maior Reserva do país, ou seja, é uma ação desproporcional, irregular e que pode gerar uma revolta dos indígenas com resultados catastróficos. As autoridades públicas precisam entender e agir diante da gravidade da ação policial para evitar uma escalada”, disse Flávio Vicente Machado, representante do CIMI em Mato Grosso do Sul.
Retornos
Em nota, a Secretaria de Estado de Cidadania (SEC) do governo de Mato Grosso do Sul afirmou que a Polícia Militar teve de agir após esgotadas todas as possibilidades de negociação. Confira a nota na íntegra:
“A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, esgotadas todas as vias de negociação, e para garantir os direitos constitucionais, agiu na manhã desta quarta-feira (27) para desobstruir as rodovias estaduais que estavam bloqueadas. Com apoio do Corpo de Bombeiros Militar e de equipes da Agesul, removeram entulhos e apagaram focos de incêndio nas pistas. As forças de segurança manterão efetivo para garantir paz em todo o território sul-mato-grossense. O governo estadual reforça seu compromisso com a transparência, refutando iniciativas político-eleitoreiras, e age em prol de um caminho de justiça e respeito. Em tempo, o governo de MS, por meio da SEC, se manteve em contínuo diálogo com todos os envolvidos em busca, sempre, de uma solução pacífica, e lamenta episódios de agressões e enfrentamentos”.
Já a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou que a “desobstrução da via, para garantir o direito constitucional de ir e vir de todos. Há preso por desacato, desobediência e agressão aos policiais e um trator apreendido”.
O Ministério da Saúde, por meio da Sesai, também se posicionou:
“O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) e do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Mato Grosso do Sul, mantém um contrato para a distribuição de mais de 70 mil litros de água potável por semana via caminhões-pipa e articula com a Prefeitura de Itaporã o fornecimento de 100 mil litros de água por dia, sendo 50 mil destinados a Jaguapiru e 50 mil a Bororó. Além disso, estão em andamento a perfuração de dois novos poços, um em cada aldeia, em parceria com a Prefeitura Municipal de Dourados e a Secretaria de Estado e Cidadania, com previsão de conclusão em até 40 dias.
A Sesai também negocia uma solução conjunta com a Secretaria de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, com o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e a Sanesul. A proposta inclui a extensão da rede de abastecimento que atende a região urbana de Dourados e a formalização de convênios para operação e manutenção do sistema, visando soluções estruturais e de longo prazo.
Embora as comunidades já contem com 14 sistemas simplificados de abastecimento de água, esses não atendem plenamente à demanda local devido a altos índices de desperdício e uso inadequado da água tratada. As ações emergenciais realizadas têm o objetivo de minimizar os impactos imediatos enquanto soluções definitivas estão sendo implementadas”.
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