Segundo os auditores, os cemitérios Vila Formosa (Consolare), Campo Grande (Grupo Maya) e Dom Bosco (Cortel) apresentaram encostas de terreno que sofreram a ação de retroescavadeiras, revelando partes de esqueletos humanos; no da Vila Formosa um crânio foi visto solto no solo. Cemitério da Vila Formosa na Zona Leste de São Paulo (SP)
Mauro Borges/Estadão Conteúdo
Ossadas humanas expostas por escavações e até crânio solto foram encontrados por auditores do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP) durante vistorias realizadas durante o mês de novembro em cemitérios que foram concedidos pela prefeitura da capital paulista à iniciativa privada.
De acordo com o TCM, 10 cemitérios apresentaram significativa quantidade de ossos humanos não identificados e restos de material fúnebre mesclados à terra em escavação.
O relatório da auditoria mostra que as empresas responsáveis pela administração dos serviços funerários da capital estão realizando uma série de obras nas quadras gerais, local onde os sepultamentos eram feitos em contato direto do caixão com o solo.
Como a prática foi extinta em janeiro de 2024, quando o modelo de gavetas de laje passou a ser exigido, a construção de nichos no solo e columbários (estrutura de múltiplos andares erguida na superfície) gerou uma série de escavações sem que fossem efetuadas prévias e necessárias exumações.
O TCM aponta que os cemitérios Vila Formosa (Consolare), Campo Grande (Grupo Maya) e Dom Bosco (Cortel) apresentaram encostas de terreno que sofreram a ação de retroescavadeiras, revelando partes de esqueletos humanos. No da Vila Formosa, um crânio foi visto solto no solo.
Já no cemitério São Pedro (Velar), os auditores do TCMSP encontraram resíduos de exumação em contêineres comuns abertos, misturados com restos de materiais de construção.
Pedaços de madeira e de mantas mortuárias dos caixões também foram registrados pelos auditores junto a resíduos de obras, indicando que as escavações realizadas em área indevida ocasionaram exumações à revelia e descarte de ossadas de forma anônima.
O TCM afirma que, aos auditores, os representantes das concessionárias não conseguiram comprovar a destinação das ossadas enterradas nos locais onde houve exumação compulsória, limitando-se a mostrar sacos de despojos em quantidade bem inferior ao total de exumações já feitas.
Os apontamentos levantados pela auditoria foram encaminhados à SP Regula e ao prefeito de São Paulo para que tenham conhecimento da situação e adotem as medidas necessárias.
“A gravidade da situação fez o TCMSP convocar reunião com a SP Regula, agência pública responsável pela fiscalização da execução dos serviços prestados pelas concessionárias, para esta quinta-feira (28), às 11h”, afirmou o órgão.
O g1 entrou em contato com a SP Regula e aguarda posicionamento.
Iniciativa privada em cemitérios
Empresas privadas assumiram a gestão do sistema funerário da capital paulista em março de 2023 com o compromisso de reformar cemitérios, construir crematórios e aprimorar o atendimento ao público. O contrato assinado tem duração de 25 anos.
Em junho de 2023, O TCM encontrou túmulos cedendo, ossadas sem identificação e armazenadas de forma inadequada, problemas de segurança e de limpeza, cavalos pastando em meio aos túmulos, entre outras questões.