No relatório da PF (Polícia Federal) que indiciou Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas, os investigadores identificaram um plano de evasão e fuga do ex-presidente e do tenente-coronel Mauro Cid, seu ajudante de ordens na época. O esquema seria colocado em prática caso o STF (Supremo Tribunal Federal) interviesse no Executivo e ele sofresse algum “revés que colocasse sua liberdade em risco” após os diversos ataques realizados contra o Judiciário e o sistema eleitoral brasileiro.
Por que Bolsonaro iria fugir do país?
De acordo com a PF, o plano foi elaborado em março de 2021 no contexto dos diversos ataques que Bolsonaro realizou contra o STF. Os investigadores apontam que esses ataques serviam para criar um “ambiente propício” para o golpe de Estado que estava planejado para 2022.
“O modus operandi da organização criminosa era propagar a ideia de vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação e fraude no pleito de 2018, fato que poderia se repetir nas eleições de 2022. O objetivo era estimular parcela da população, associada ideologicamente à direita do espectro político, a aderir ao discurso radicalizado contra as instituições, especialmente o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e seus ministros. O ‘apoio popular’ criaria o ambiente propicio para a execução do Golpe de Estado planejado pelos investigados“, consta o relatório.
A investigação aponta também que os envolvidos no plano de golpe de Estado temiam que o STF realizasse alguma intervenção no mandato do ex-presidente ou tentassem cassar a sua chapa nas eleições de 2022. Caso isso acontecesse, a liberdade de Bolsonaro estaria em risco e ele, então, fugiria do país junto com seu ajudante de ordens.
Entenda o plano de fuga
O esquema, que tinha técnicas militares, previa também o uso de armamentos e munições, caso necessário, e contaria com ajuda do Exército Brasileiro.
A ação estava dividida em três etapas, de acordo com a investigação:
- 1) Cooptação de militares: os golpistas iriam cooptar agentes do Gabinete de Segurança Institucional para ocupar posições estratégicas nos Palácios do Planalto e da Alvorada para auxiliar Bolsonaro e Cid a saírem do local;
- 2) Criação de ambiente de apoio ao então presidente: os golpistas iriam ocupar setores críticos da infraestrutura militar, como instalações, serviços, bens e sistemas, para mostrar apoio ao então presidente e, com isso, possivelmente, inibir qualquer ação do Estado decretada pelo Poder Judiciário;
- 3) Montar e operar uma rede de auxílio para levar Bolsonaro e Cid para o exterior: após garantir a segurança do então presidente, os militares golpistas criariam uma linha de auxílio para escoltá-lo e conduzi-lo para fora do território nacional.
O plano de evasão e fuga foi encontrado no notebook de Mauro Cid, considerado o braço direito de Bolsonaro. O documento, em formato de PowerPoint, foi criado em 22 de março de 2021.