‘Guarda o celular, Enzo’: experimento mostra como os smartphones interferem no ensino brasileiro


Fantástico deste domingo (17) mostra o que mudou nas cidades que proibiram o uso do aparelho nas salas de aula e o que dizem os alunos sobre essa mudança. No celular, alunos fazem professora interromper aula sete vezes
Pesquisas recentes mostram que o uso de celular em sala de aula está atrapalhando o rendimento escolar e a proibição do aparelho neste ambiente pode virar lei em todo o país. Para entender a opinião de educadores, pais e estudantes, o Fantástico mergulhou neste assunto e mostra como o aparelho é usado nas escolas e o que mudou nas cidades que já proibiram o uso.
A reportagem visitou uma sala de aula em São Paulo para entender como funciona a dinâmica em um ambiente de ensino em uma era tão conectada.
Observando de longe, é possível ver como a professora Thais Carneiro, de história, se esforça para capturar a atenção dos jovens. Mas, em menos de 10 minutos, ela é vencida.
🤳Os alunos mexem no celular durante a aula o tempo todo.
“Guarda o celular, Enzo. Guardar não é virar para baixo, guardar é na sua mochila, embaixo da mesa. Né, Luana? Não são pessoas de negócios, são adolescentes ainda”, diz a professora.
Alunos usam telefone celularem sala de aula em São Paulo.
TV Globo/Reprodução
Os pedidos continuam minutos depois. Em 45 minutos de aula, o som de mensagem chegando em algum aparelho cruzou a sala de aula sete vezes.
Os próprios alunos dizem que as mensagens tiram o foco da aula.
“É só uma checada, né? Vai que tem uma fofoca nova, tem que saber, né?”, justifica uma aluna.
Mas, além das fofocas, os aparelhos também são utilizados pelos alunos para pesquisar as respostas certas.
“A justificativa, geralmente, é que precisa falar com a mãe”, conta a professora.
Thais Carneiro, professora de história, pede para alunos guardarem os celulares na sala de aula.
TV Globo/Reprodução
A realidade, no entanto, é que estão jogando ou vendo vídeo na internet. Tudo menos acompanhar o que está sendo falado em sala de aula. Um dos truques mais utilizados é tirar foto da lousa e dizer que vai copiar o conteúdo quando chegar em casa.
“Ele não vai copiar em casa e não vai conseguir acompanhar”, conta a professora.
Foco comprometido
A simples proximidade de um aparelho celular pode distrair o aluno e prejudicar a aprendizagem. Isso foi analisado em 14 países, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas.
Aluno usando o celular para jogar em sala de aula.
TV Globo/Reprodução
Atualmente, um quarto dos países decidiu proibir o uso de smartphones nas escolas. No Brasil, tem estados que já fazem isso e, durante a produção desta reportagem, São Paulo decidiu pela proibição. Falta a aprovação do governo.
Em âmbito federal, existe um projeto que pode virar lei em todo o país. Ele prevê que sejam banidos os celulares nas salas de aula e no recreio do ensino básico nas escolas públicas e particulares do Brasil.
Exemplos na prática
A cidade do Rio de Janeiro segue a cartilha da proibição do uso de celular desde o começo deste ano. Nas escolas, os alunos que levam o celular precisam entregar antes da aula.
Cada sala tem uma caixa destinada aos aparelhos.
Caixa para depósito de telefones celulares em escola do Rio de Janeiro.
TV Globo/Reprodução
Mas tem aluno que tenta furar o bloqueio. Neste caso, o procedimento é pedir pela entrega, mesmo no recreio.
Sem o celular, os grupos de alunos se juntam para jogar dominó, xadrez, futebol e bater papo.
Alunos usam o tempo livre do recreio para interagir com os colegas.
TV Globo/Reprodução
“A gente se conhecia, mas não se conhecia ao mesmo tempo”, diz a aluna Kamilly Luane Marques, de 13 anos. Ela conta que ficava no mesmo recreio do amigo Guilherme, mas nunca falou com ele antes. Agora eles interagem diariamente.
Mas a estudante diz que no começo foi difícil aceitar a proibição. “Teve algumas confusões. Foi aquele estresse, aquela abstinência do vício”, conta.
De acordo com o secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha, os diretores dizem que o foco dos alunos aumentou e que diminuíram também os casos de bullying e cyberbullying, principalmente no intervalo.
A diminuição da exposição aos celulares na escola melhorou o comportamento também em casa. É o que diz Ana Carolina, mãe de Kamilly.
“Como ela já está criando o hábito de ficar sem celular durante as aulas, que é um período bom, em casa ela se preocupa mais em brincar com o irmão”, diz.
Ambiente familiar melhorou após a diminuição do celular na escola.
TV Globo/Reprodução
Antes da mudança, era o tempo todo com o telefone. Inclusive no banho.
Regulamentação federal
De acordo com o ministro da Educação, Camilo Santana, o uso de celular nas salas de aula será regulamentado. No entanto, ele defende que essa forma pode ter dinâmicas diferentes dependendo de cada município e estado.
“A expectativa é que a gente possa aprovar isso no Senado Federal ainda esse ano e, a partir do próximo ano, as redes possam se adaptar a essas novas mudanças nas escolas”, fala.
De acordo com o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia Nelson Pretto, no entanto, essa regulamentação não deve vir em forma de lei.
“Vai criar mais um problema dentro da escola. E quando eu falo proibir, eu falo proibir de forma vertical, vindo do MEC, vindo do Congresso Nacional, vindo das secretarias. O que nós precisamos, repito, é condições concretas para que as escolas possam trabalhar com este problema. Ele é um problema e ele precisa ser trabalhado e não afastado”, diz.
Alunos deixam de usar telefones celulares em sala de aula.
TV Globo/Reprodução
O projeto de lei de alcance nacional libera o uso pedagógico e didático dentro das salas de aula. Em São Paulo, por exemplo, a professora usa a rede social para dar dicas de leitura aos alunos.
No Rio, tem horas que o celular também é bem-vindo, para ser utilizado em atividades.
E para os pais que ficam preocupados em não conseguir falar com os filhos, a dica é usar o telefone fixo das escolas em caso de emergência, como era feito antigamente.
“O principal, eu acredito, é a parceria entre a escola e os pais. As famílias compreenderem que nós não somos inimigos deles, nem das crianças”, Conclui a professora Luana Beatriz Xavier, de São Paulo.
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