Neste segundo domingo de agosto, milhares de famílias se reúnem para celebrar o Dia dos Pais. Mais do que uma oportunidade de presentear figuras tão importantes, é um momento para reconhecer a importância da figura paterna na criação de um filho. Eles são os pilares de apoio, orientadores e, muitas vezes, sacrificam suas próprias necessidades para garantir o sucesso dos seus descendentes.
Pai, o maior incentivador do sonho do filho
O empresário e motorista de aplicativo Marcelo Henrique Meira é um exemplo perfeito de comprometimento com o sonho do filho, Igor Bertoli Meira, que se dedica ao triatlo desde criança.
Com o carro plotado com o nome do filho, Meira dedica suas viagens para contar a história do filho no esporte e ainda vende mel e pasta de amendoim, uma iniciativa de Igor quando ainda tinha 11 anos de idade.
O triatleta relembra como tudo começou. Quando tinha apenas 10 anos, assistiu a uma prova de Ironman pela primeira vez, um momento divisor de águas, afinal, foi ali que decidiu praticar o esporte.
“Conhecemos um projeto, uma escolinha onde ele foi aprendendo sobre o esporte, e rapidamente foi convidado para um campeonato brasileiro, no qual participou e voltou como campeão brasileiro com 11 anos”, relembra o pai.
Atualmente com 17 anos, Igor participa de competições, e para realizar esse sonho toda a família se mobilizou, especialmente o pai.
“Eu trabalho em uma microempresa familiar e, nas horas vagas, faço corridas e dou apoio colocando o nome dele no carro. Ele até brinca que é o Igor Móvel. E é legal que o pessoal puxa conversa e ainda consigo vender o mel que é do sítio do avô, e a pasta de amendoim, que ajudam a custear as despesas”, revela.
O apoio do pai é essencial para Igor. Há sete anos competindo, o jovem já é tetracampeão brasileiro de triatlo e se orgulha em mostrar os troféus e medalhas espalhados pela casa.
“Perdi as contas, hein. Mais de 100”, declara, rindo.
No próximo ano, Igor completa a maioridade e já adianta os planos para o futuro.
“Eu pretendo, nos próximos anos, chegar às Olimpíadas, representar o Brasil, e depois pensar no Ironman, mas é um sonho.”
De um lado, o pai orgulhoso do filho, que já constrói uma carreira de atleta desde cedo; e de outro, o filho que conta com o apoio e a segurança do pai para chegar onde quiser.
“Ele é um orgulho infinito. É muito bom ver o filho fazer o que gosta e estar junto com ele. Encaixo minha rotina para que a gente vá juntos às provas. Eu não sou o técnico, mas sou um grande apoiador”, assegura Meira.
“Meu pai é o meu maior incentivador. Me leva para todos os meus treinos, acorda cedinho comigo. Me ajuda muito na divulgação do meu trabalho, muitos seguidores ganhei através do carro. O apoio dele é fundamental”, reforça Igor.
Pai (literalmente) herói
O pai que literalmente apaga incêndios, assume riscos, faz resgates delicados e, depois de um longo e difícil dia, volta para casa para matar a saudade das filhas.
Esse é o cabo Jean Renato Vieira, bombeiro que faz parte do Batalhão de Busca e Salvamento com cães e teve como última missão importante o resgate durante as enchentes no Rio Grande do Sul, em junho deste ano. Pai de três meninas, Vieira também tem um papel importante em cuidar dos filhos de outros pais.
O CBMSC (Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina) é referência internacional nas ações de busca e salvamento de vítimas com cães. Dos 11 anos trabalhando na corporação, nos últimos dois, Jean conta com a parceria da labradora Ilha.
A relação de cumplicidade entre os dois é o que move esperanças. Jean a considera como uma filha, já que ela chegou ainda filhote à sua companhia, com apenas 45 dias.
Eles treinam diariamente para serem eficientes nas missões. A dupla foi empenhada para atuar no Rio Grande do Sul, após a catástrofe natural que destruiu casas, famílias e vidas.
“Quando recebemos a missão de deslocamento, sendo pai, já surge um sentimento de insegurança, medo e angústia. E na primeira semana de missão, houve uma situação que mexeu muito com toda a equipe”, relembra.
Ele conta que equipe ficou encarregada de encontrar o pai e a filha que haviam se separado da mãe que estava há dois dias em cima de uma torre de alta tensão.
“No momento em que encontramos a menina, foi uma sensação de alento por saber que estaríamos devolvendo um ente querido. Mas ainda faltava o pai para que a mãe pudesse dar um enterro digno. E foi um sentimento de frustração nosso, porque não conseguimos localizar esse pai, e não tem como não nos colocarmos no lugar dele. Isso mexe muito com a gente”, revelou, com tristeza.
O bombeiro esteve nas missões desde maio, quando os gaúchos foram assolados pela enchente. Jean passava uma semana longe das filhas, uma tarefa difícil para ele e ainda mais preocupante para a família que o aguardava dia após dia.
“Eu me lembro das palavras que minha filha Malu falou para mim: ‘Pai, eu sei que você ajuda muitas pessoas, mas toma cuidado porque você também tem a gente em casa’”, relembra.
“Conforme elas vão crescendo, criam mais consciência das dificuldades e desafios que vou enfrentar. Quando vamos para as missões, não temos certeza se vamos voltar, mas passamos a confiança de que vamos voltar, e voltar para os braços delas”, diz.
E pensar que Vieira escolheu sua profissão bem antes de ser pai.
“A escolha partiu de uma situação muito difícil. Eu quase perdi meu pai afogado, e eu vi essa situação; foi na praia do Matadeiro. Meu pai estava tarrafeando, a tarrafa dele ficou presa na pedra, e até hoje eu gostaria de ter a oportunidade de encontrar o surfista que salvou meu pai”, relembra.
Ser bombeiro é ser herói, mas para Ana Lua, Malu e a filha mais velha, com certeza, o maior superpoder do cabo Jean é ser pai delas.
Filho é uma universidade e inspiração para a arte
Gabriel Rosa sempre soube que a música era o seu destino, mas a vida lhe trouxe uma surpresa que mudou tudo: a paternidade precoce. Aos 19 anos, ele se tornou pai, algo que não esperava tão cedo.
Esse momento exigiu dele um amadurecimento rápido e profundo, pois percebeu que um filho é, na verdade, um espelho.
“Eu não esperava ser pai tão cedo. Foi todo um processo de aprendizado, porque uma criança acaba sendo o nosso reflexo, então é um trabalho para sermos cada vez melhores para refletir o nosso melhor neles”, compartilha.
Foi nesse novo papel como pai que Rosa encontrou a faísca que consolidou sua trajetória artística. O nascimento de seu filho, Mamadu, não só trouxe novos desafios, mas também uma inspiração inigualável.
“Depois de muita pesquisa, descobri que Mamadu é um nome africano, uma variação do nome árabe Mohamed, um dos mais conhecidos no mundo. Mamadu também foi um príncipe africano. Tanto o nome quanto a história por trás dele me inspiraram a compor uma música em homenagem ao meu filho”, conta ele, com orgulho.
Hoje, Mamadu, com quase 7 anos, conhece a letra da música dedicada a ele de cor. A canção é quase como um mantra, uma ligação profunda com suas raízes. Desde cedo, Mamadu se conecta com a cultura da capoeira, uma prática que iniciou ainda no ventre de sua mãe.
“A mãe jogava capoeira com ele na barriga. Quando ele tinha 2 anos, já se aproximava dos tambores e começava a tocar o ritmo da capoeira. Fiz questão de trazer essa conexão para a música”, explica Rosa.
Nascido e criado na comunidade do Monte Serrat, em Florianópolis, Gabriel, conhecido artisticamente como Gabriel, o Rosa, já levou suas músicas autorais por diversos palcos em várias cidades do Estado. Sua arte não é apenas uma expressão pessoal, mas uma ponte que conecta sua história familiar, suas raízes e sua espiritualidade.
“Cada vez que subo ao palco, levo comigo o meu filho. A saudade é grande, mas a inspiração que ele me dá para ser sempre melhor é ainda maior”, ressalta. “Ter um filho é uma universidade. É entender que todo o esforço e trabalho são para ele. É uma emoção muito grande”, completa.