A febre do bebê reborn: especialista reflete sobre efeitos da boneca no psicológico

A febre do bebê reborn: especialista reflete sobre efeitos da boneca no psicológicoJuliana Eichler

Nas últimas semanas, um assunto dominou as conversas e as interações nas redes sociais: o bebê reborn. Hiperrealista, a boneca vem sendo tratada como um verdadeiro membro da família por diversas pessoas, que compartilham sua rotina nas mídias e chamam a atenção dos internautas.

Até mesmo famosos como Gracyanne Barbosa, Nicole Bahls, Luciana Gimenez, Padre Fábio de Melo e Britney Spears adotaram a sua boneca. “Como já disse anteriormente, meu sonho é ter um filho. Podem me julgar, no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade. Te amo, bê!”, declarou Gracyanne ao anunciar a adoção do bebê.

A febre do bebê reborn: especialista reflete sobre efeitos da boneca no psicológico

Benício, o bebê reborn de Gracyanne Barbosa

A febre do bebê reborn: especialista reflete sobre efeitos da boneca no psicológico

Britney Spears e sua bebê reborn

Esse comportamento vem gerando debates sobre apego emocional e o limite entre um hábito saudável e o que precisa de atenção clínica. Confira abaixo a entrevista com a psicóloga Luiza Monteiro, que reflete sobre o assunto:

Como os bebês reborn podem funcionar como ferramentas terapêuticas? Os bebês reborn podem ser utilizados como ferramentas terapêuticas em contextos como tratamento de luto e traumas, na redução da ansiedade e no fortalecimento das habilidades emocionais de cuidado e empatia. Embora não haja uma grande quantidade de estudos formais sobre o uso específico dos bebês reborn na terapia, há evidências de que objetos que simulam bebês reais podem ter efeitos psicológicos benéficos quando usados de forma consciente e equilibrada com o acompanhamento psicológico contínuo, essencial para garantir que os efeitos terapêuticos sejam positivos e não prejudiquem o tratamento de cura emocional.

O apego emocional a uma boneca reborn pode ser considerado saudável? Quando isso pode se tornar um problema? O apego emocional a uma boneca reborn pode ser saudável em contextos terapêuticos bem definidos, como no luto ou no desenvolvimento do cuidado emocional, sem ultrapassar os limites da realidade. No entanto, se a pessoa se isola, começa a tratar o objeto como uma substituição para a interação humana real ou se o comportamento se torna compulsivo, de forma a interferir nas relações interpessoais reais e no bem-estar dessa pessoa, é importante procurar a ajuda de um psicólogo.

É importante sempre lembrar que o bebê reborn pode ser uma ferramenta terapêutica e não um substituto para interações humanas reais. Acompanhamento psicológico é essencial para garantir que o apego a esses objetos não prejudique o bem-estar emocional e social do indivíduo.

Por que você acha que há tanto julgamento social ou estranhamento em torno de adultos que cuidam dessas bonecas como se fossem filhos? Acredito que o julgamento social em torno dos adultos que cuidam de bebês reborn é uma manifestação das normas culturais sobre o que é “normal” ou esperado para os adultos. O fato de um adulto se apegar a uma boneca reborn (um objeto) pode ser percebido como algo “fora da norma”, já que não se encaixa nas expectativas tradicionais de como o cuidado parental deve ser demonstrado, que seria com um bebê real.

A linha entre o que é real e o que é imaginário pode parecer tênue quando um adulto se apega a uma boneca reborn como se fosse um filho verdadeiro. A sociedade tende a valorizar a percepção da realidade e o comportamento racional, e há um medo de que a pessoa que cuida da boneca reborn esteja escapando da realidade ou fugindo de um problema emocional.

Quando um adulto interage com um objeto como uma boneca, de forma tão intensa, isso pode ser visto como um sinal de que a pessoa está enfrentando dificuldades emocionais ou psicológicas, o que pode gerar estigma. As pessoas de fora podem temer que a pessoa tenha problemas mais profundos, como um transtorno mental ou um bloqueio emocional, o que contribui para o julgamento.

Pode haver risco de substituição de vínculos humanos por vínculos com objetos? Isso é motivo de preocupação? Sim, é possível e por isso o uso de bebê reborn deve ser acompanhado e orientado por um psicólogo. Se uma pessoa começa a preferir a companhia de um objeto em vez de se envolver com pessoas reais, isso pode levar ao isolamento emocional. Quando o vínculo com o objeto começa a substituir ou suprimir os relacionamentos humanos, a pessoa pode evitar lidar com emoções mais profundas ou interações sociais que exigem mais vulnerabilidade e esforço.

Isso também pode desenvolver um quadro de dependência emocional ao objeto, visto que a pessoa pode vir a evitar lidar com desafios ou dificuldades emocionais de maneira saudável. Além disso, o apego excessivo a um objeto pode interferir no desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais essenciais para estabelecer e manter relacionamentos saudáveis. A construção de vínculos humanos autênticos envolve confiança, comunicação e reciprocidade emocional, habilidades que um objeto, por mais realista que seja, não pode proporcionar de maneira significativa.

Como diferenciar um hobby ou terapia saudável de um comportamento que merece atenção clínica? Entendo que a diferença entre um hobby saudável e um comportamento que merece atenção clínica está centrada no impacto que essa atividade tem sobre a vida da pessoa. Se a atividade proporciona benefícios emocionais e não interfere negativamente no funcionamento diário, nas relações e na saúde mental, ela pode ser considerada saudável. No entanto, se a atividade começa a prejudicar o bem-estar, a qualidade de vida e o relacionamento com os outros, ela pode ser um sinal de que a pessoa está usando essa atividade como uma forma de fuga emocional, o que pode exigir a intervenção de um psicólogo.

Você acredita que o sucesso dos bebês reborn tem relação com o mundo digital e o aumento da solidão? Acredito que o sucesso dos bebês reborn está relacionado ao mundo digital e ao aumento da solidão, tanto de jovens quanto de adultos. A conectividade digital facilita interações rápidas e superficiais, mas, paradoxalmente, também pode levar a uma sensação de solidão. As redes sociais, embora permitam conexões instantâneas, muitas vezes não oferecem a profundidade emocional das interações face a face, e a sobrecarga de informações digitais pode contribuir para um isolamento emocional. A solidão, especialmente nas gerações mais novas e até em adultos mais velhos, tem se intensificado com o uso crescente da tecnologia, o que pode gerar um desejo por formas alternativas de conexão emocional.

Nesse contexto, os bebês reborn podem funcionar como substitutos emocionais para vínculos humanos reais, oferecendo uma sensação de controle, afeto e segurança. No entanto, é importante que o apego a esses objetos seja consciente e equilibrado, para que não substitua a necessidade de relações humanas autênticas, que são essenciais para o bem-estar psicológico. É preciso atenção e cautela, pois a relação com um bebê reborn pode se tornar uma forma de controle emocional, visto que eles não exigem a vulnerabilidade ou a complexidade das interações humanas e podem proporcionar uma sensação de segurança e previsibilidade emocional. Isso é especialmente atrativo em um mundo digital onde as interações podem ser rápidas e muitas vezes superficiais.

O apoio psicológico pode ser fundamental para ajudar as pessoas a lidarem com os efeitos da solidão e a encontrarem maneiras mais saudáveis de se conectar emocionalmente.

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