Macaco-prego-amarelo é filmado quebrando cocos em Palmas, TO


Indivíduos levam de dois a três anos para aprenderem a técnica com pedras, que exige coordenação de objetos e ações ao mesmo tempo. Macaco-prego-amarelo é filmado quebrando cocos em Palmas, TO
Durante uma trilha no distrito de Taquaruçu, em Palmas (TO), enquanto observava e fotografava as aves da região, o fotógrafo Paulo Valadão foi surpreendido com sons no meio da floresta que pareciam marteladas. Na verdade, tratava-se de indivíduos de macacos-prego-amarelo (Sapajus libidinosus) quebrando nozes do coquinho de inajá com pedras.
O morador de Campinas (SP) fez o registro no início de março, próximo às cachoeiras Escorrega-macaco e Roncadeira, onde atua o ornitólogo e guia Marcelo Barbosa. Entre avistamentos de aves como uirapuru-laranja, uirapuruzinho, vira-folha-de-peito-vermelho, arapaçu-de-lafresnaye, tem-tem-de-dragona-branca e udu-de-coroa-azul, uma grata surpresa com os primatas representou um flagrante inédito para o observador.
O fotógrafo de aves Paulo Valadão registrou macacos-prego-amarelo quebrando nozes do coquinho de inajá com pedras em Palmas (TO)
Paulo Valadão
“O grupo de macacos utilizava uma estratégia refinada para se alimentar: escolhiam superfícies de rochas com cavidades onduladas para encaixar os cocos, evitando que escorregassem ao serem golpeados com pedras”, explica Marcelo.
Segundo o biólogo Tiago Falótico, que estuda macacos-prego há mais de 15 anos, a quebra do coco é uma habilidade complexa e que exige um aprendizado avançado.
Macaco-prego-amarelo habita florestas ripárias e formações arbóreas e arbustivas dos biomas Cerrado e Caatinga
Paulo Valadão
Os macacos coordenam três objetos: o coco, a pedra (usada como martelo) e a bigorna (superfície de apoio). Eles levam de dois a três anos para se tornarem proficientes nessa técnica. E o aprendizado ocorre de forma social, pois os indivíduos mais jovens observam e interagem com os objetos utilizados pelos mais experientes nos chamados ‘sítios de quebra’, locais onde as ferramentas e os restos de alimento ficam acumulados
Ferramenta ancestral
A quebra de coco é bem disseminada em população de macacos-prego das regiões de Cerrado e Caatinga, então não é surpreendente que os macacos dessa região tenham sido observados quebrando cocos.
Primatas esmagam frutos com uso de pedras
Tiago Falótico
“Quase todas as populações estudadas nesses biomas usam ferramentas para quebra de coco se houver o recurso e as rochas disponíveis. Outros comportamentos de uso de ferramentas são mais restritos a algumas populações, tais como cavar com pedra ou varetas, que só foram observados até hoje em duas populações, a do Parque Nacional Serra da Capivara (PI) e do Parque Nacional de Ubajara (CE)”.
Falótico explica que o comportamento de “quebrar coco” está presente nessas populações há milhares de anos e que a única datação existente é do uso de ferramentas de pedra há pelo menos 3.000 anos pelos macacos-prego do Parque Nacional Serra da Capivara.
Macaco-prego usa vareta para alcançar alimento em locais de difícil acesso
Tiago Falótico
Oferta de alimentos
Os macacos-prego escolhem seus alimentos conforme a disponibilidade sazonal. Algumas espécies de palmeiras, como babaçu, macaúba, jerivá, tucum e piaçava, estão entre as preferidas, mas o uso de ferramentas não é necessário para todas.
“Em algumas delas, os macacos podem consumir a parte mole do fruto, o mesocarpo, sem precisar quebrá-los”, diz.
Membros mais velhos do bando ensinam os mais novos a usar ferramentas
Tiago Falótico
O registro de Paulo Valadão reforça a importância da observação da fauna e do compartilhamento de conhecimentos sobre o comportamento animal. Flagrantes como esse evidenciam a complexidade e a inteligência dos macacos-prego, demonstrando que a transmissão de conhecimento entre indivíduos da mesma espécie ocorre de maneira semelhante ao aprendizado humano.
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