Idosos vêm enfrentando a deterioração de suas condições de vida


A análise é da economista Ana Amélia Camarano, uma das palestrantes do XXIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, que será realizado entre 3 e 5 de abril. No primeiro dia do XXIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, que será realizado entre 3 e 5 de abril em Belo Horizonte, a economista Ana Amélia Camarano, PhD em estudos populacionais, professora da UERJ e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), vai abordar um dos seus assuntos preferidos: quem são e como estão nossos idosos? De 2000 a 2023, a proporção de velhos na população quase duplicou, saindo de 8,7% para 15,6%, um total de 33 milhões de indivíduos. A estimativa é de que, em 2070, representem 37,8% dos habitantes, o correspondente a 75,3 milhões de pessoas. No entanto, o que a economista tem a dizer é alarmante:
Embranquecimento da velhice: as mulheres brancas compõem a maioria dos idosos
Pixabay
“O que não podemos perder de vista é a heterogeneidade dos velhos no Brasil. Além do fato de 75% serem aposentados em 2023, uma proporção mais baixa do que em 2016, quando esse percentual chegava a 78%, não temos como nos referir ao grupo como algo homogêneo. A maior parte é composta por mulheres, quase 50% são negros, perto de 10% são LGBTQIA+. Mas o que mais chama a atenção é deterioração das condições de vida desses idosos”.
Camarano explica que tal situação é resultado da diminuição do número de aposentados. As mudanças nas regras de aposentadoria contribuíram para menos gente conseguir receber o benefício, mas há outro fator perverso nessa equação:
“As regras mudaram em 2019 e isso certamente influiu na diminuição do número de aposentados, mas o que pesou mesmo foi o crescimento do contingente de pessoas maduras sem trabalho e sem contribuição. São os sem-sem: sem aposentadoria e sem trabalho. Enfrentamos um paradoxo: quem tem 50 anos é considerado velho demais para trabalhar; quem tem 60, novo demais para se aposentar. O resultado é um grupo crescente com renda zero, o que não existia num passado recente, inclusive na faixa etária entre 70 e 79 anos. Ou seja, nem o BPC está alcançando toda a população que não consegue se aposentar (o Benefício de Prestação Continuada garante um salário-mínimo mensal para portadores de deficiência e idosos com 65 anos ou mais que não têm como se sustentar”.
Um outro aspecto que escancara a desigualdade social do país é que, apesar de a nossa população ser de 212 milhões, com uma maioria feminina e negra, o quadro se inverte depois dos 60 anos. As mulheres brancas se tornam a maioria (29,4%), seguidas pelas mulheres negras (25,7%), pelos homens brancos (22,4%) e homens negros (21,2%).
“Há um embranquecimento da velhice. Em 2023, a idade média de morte de um homem negro era aos 59 anos e dois meses; de uma mulher negra, aos 66 anos. Para os homens não negros, chegava a 66 anos e dois meses e, para as mulheres não negras, atingia 71 anos e quatro meses. Os homens negros morrem quase 13 anos antes das mulheres brancas”, lamenta a economista.
O percentual de indivíduos acima dos 60 com dificuldades para desempenhar as atividades básicas da vida diária também impressiona: 16% não conseguem, por exemplo, cuidar da sua higiene pessoal ou se locomover sem ajuda, necessitando de um cuidador (quase sempre um membro da família). Embora sem dados anteriores para comparação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 55 mil idosos em moradias improvisadas ou irregulares – que podem ser tendas ou barracas, o suficiente para serem considerados sem-teto. Pelo menos 15 mil deles constam dos cadastros das secretarias de assistência social: “esses estão bem visíveis para o Estado, está na hora de se fazer alguma coisa”, observa Camarano, acrescentando que há também um grupo expressivo que trabalha e consome, alimentando a economia prateada. “Em 2023, os idosos movimentaram R$ 93,3 bilhões mensais, quase 23% do total da renda das famílias brasileiras”, afirmou.
Abandono, solidão e recomeço: as histórias dos idosos brasileiros
Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.