
No loca, foram recuperados documentos cruciais sobre desaparecidos e violações de direitos humanos, impulsionando a luta pela preservação e justiça histórica. Inspeção do MPF no prédio do antigo IML do Rio encontra documentos históricos da ditadura
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Uma visita do Ministério Público Federal (MPF) ao antigo prédio do Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro, na Lapa, na última quinta (27), revelou um acervo histórico da ditadura militar no país.
O objetivo original da inspeção era avaliar o estado de conservação dos documentos encontrados no local. Durante a operação, foram identificados registros datados das décadas de 1930 e 1960, além de materiais do período da ditadura militar que podem conter informações cruciais sobre desaparecidos políticos e sobre as violações a direitos humanos cometidas no período.
Além do MPF, também participaram da vistoria representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (Aperj), da Secretaria Estadual de Polícia Civil (Sepol), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Grupo Tortura Nunca Mais e do Coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação.
O procurador Regional dos Direitos do Cidadão adjunto, Júlio Araujo, alertou para a necessidade de preservar o acervo do IML. Segundo ele, o material ajuda na reconstrução da memória histórica do país e para a elucidação de violações de direitos humanos.
“Foi constatada a presença de documentos de interesse histórico. A partir de agora, será fundamental debater e construir a coleta desses documentos e sua destinação ao Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro”, comentou o procurador.
14 desaparecidos políticos
De acordo com Felipe Nin, do Coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação, os documentos recuperados no antigo IML podem conter informações sobre desaparecidos durante a ditadura militar, que teve início em 1964 e durou 21 anos, até 1985.
“Foi possível localizar o paradeiro de 14 desaparecidos políticos e, posteriormente, de um 15º. Eles estavam enterrados como indigentes no cemitério Ricardo de Albuquerque. Isso indica que outras pessoas desaparecidas também podem ser identificadas a partir das informações contidas nesses documentos”, explicou Nin.
“O que vemos aqui é uma verdadeira abertura de arquivos da repressão, algo pelo qual lutamos há muito tempo. Esse processo não apenas possibilita o acesso a esses documentos, mas também contribui para a elucidação dos fatos e para a garantia da memória do país”, completou Rafael Maui, do Grupo Tortura Nunca Mais.
O grupo agora vai definir um novo local para a guarda provisória dos documentos.