
Em Santa Catarina, 16 cidades do Oeste e Meio Oeste estão em um estado de seca moderada devido a má distribuição de chuvas e o calor intenso registrados entre janeiro e março, rios da região também foram afetados. A situação causa impactos para agricultura e pecuária e os municípios devem ficar atentos para promover ações e reduzir os danos.

A seca causa desafios no abastecimento de água e no consumo humano e animal – Foto: Luís Dorneles Lopes/Epagri
O que causou a seca?
Conforme o setor de meteorologia da Epagri/Ciram, as massas de ar quente durante o verão de 2025 foram persistentes e intensas, provocando ondas de calor no Sul do Brasil. Em Santa Catarina, esse ar quente impediu a chegada de um dos sistemas meteorológicos responsáveis pela chuva em larga escala: as frentes frias, que neste verão se deslocaram mais para o sul, atingindo o Uruguai e o Rio Grande do Sul.
“A maior parte da chuva ocorreu em forma de pancadas isoladas no final da tarde e à noite, características típicas da estação. A distribuição da precipitação foi desigual, com a escassez mais acentuada especialmente do Extremo Oeste ao Meio-Oeste”, explica a meteorologista Marilene de Lima.
Municípios afetados
De acordo com o setor de hidrologia da Epagri/Ciram, 16 municípios de Santa Catarina enfrentam seca moderada até o momento:
- Barra Bonita
- Bandeirante
- Belmonte
- Guaraciaba
- Itapiranga
- Paraíso
- Passo de Torres
- Piratuba
- Princesa
- Romelândia
- Santa Helena
- Santiago do Sul
- São João do Oeste
- São João do Sul
- Tunápolis
- Xanxerê.
Destes, apenas Passo de Torres e São João do Sul não estão localizados nas regiões Oeste e Meio-Oeste.
Em relação ao nível dos rios, a Epagri/Ciram aponta estiagem nos corpos d’água de Guaraciaba, Mondaí, Saudades, Tangará, Concórdia e Santo Amaro da Imperatriz. A situação é mais grave nos rios de Guaraciaba, Tangará e Concórdia.
“Esse fenômeno hidrológico se agrava devido às altas temperaturas nessas regiões. As altas temperaturas aumentam a evaporação da água no solo e a transpiração das plantas”, explica o pesquisador em hidrologia da Epagri/Ciram, Guilherme Xavier de Miranda Junior.
Culturas afetadas
Segundo um levantamento do Cepa (Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri), a falta de chuvas não afetou a safra de verão, como é o caso do milho e da soja 1ª safra, que está em fase de colheita. No entanto, lavouras como a soja, o milho e o feijão 2ª safra estão sendo afetadas, com uma possível redução na produtividade caso a estiagem persista.
Grãos
Em todo estado, as condições das lavouras estão ficando piores na medida em que a seca avança, de acordo com dados do monitoramento de safras. Até o final da primeira quinzena de março, 71% área plantada com milho é considerada boa, 21% média e 8% ruins. Sobre a área plantada com feijão em Santa Catarina, 86% é considerada boa, 7% média e 7% ruim.

A produtividade estimada do feijão 2ª safra deverá cair significativamente, bem abaixo dos 1,8 mil kg/ha esperados antes do agravamento da estiagem – Foto: Luís Dorneles Lopes/Epagri
“Devido à falta de chuva, a produtividade estimada deverá cair significativamente, bem abaixo dos 1,8 mil kg/ha esperados antes do agravamento da estiagem”, afirma o analista de socioeconomia e desenvolvimento rural da Epagri/Cepa, João Alves.
No caso do milho 2ª safra, João Alves relata que na microrregião de Concórdia muitas lavouras foram perdidas devido ao excesso de calor e à falta de umidade. Já nas microrregiões de Chapecó e São Miguel do Oeste, as lavouras em fase de desenvolvimento e florescimento estão sofrendo com estresse hídrico, e estima-se queda na produtividade.

Lavouras de milho podem sofrer queda na produtividade – Foto: Luís Dorneles Lopes/Epagri
Com relação à soja 2ª safra, as poucas chuvas ocorridas desde o início de março não foram suficientes para garantir o bom desenvolvimento da cultura. Em cerca de 72% da área plantada desse grão no estado, 86% da área plantada é considerada boa, 9% médias e 5% ruins. Na microrregião de Chapecó, em função da estiagem, a produtividade estimada está em torno de 2,7 mil kg/ha.
Pecuária
As pastagens também estão sendo impactadas pela falta de água, o que, somado ao estresse térmico dos animais, pode prejudicar a produção e a reprodução tanto de bovinos leiteiros quanto de corte.
“Isso pode aumentar os custos de produção devido à necessidade de uma maior suplementação com silagem e concentrados”, explica Sidinei Weirich, extensionista rural do Derp (Departamento Estadual de Extensão Rural e Pesqueira da Epagri).
Ele também destaca a atual dificuldade relacionada ao abastecimento de água, tanto para consumo humano quanto animal. “Cerca de 400 propriedades já foram atendidas pelas prefeituras municipais com água para dessedentação animal, e 200 para consumo humano”, informa o extensionista.
Sidinei também observa que os pecuaristas que seguem o sistema recomendado pela Epagri, com pastagens perenes de verão, estão enfrentando menos dificuldades com a falta de forragem para os bovinos.
“Agricultores que adotam boas práticas de manejo do solo, como o uso de palhada, plantas de cobertura e terraços, estão conseguindo manter suas culturas menos impactadas pela seca”, afirma.

Gado de corte e leiteiro também devem ser afetados pelas secas – Foto: Epagri/Divulgação/ND
Previsão de chuvas para abril
A média climática de chuvas em abril apresenta uma redução em relação aos meses de verão, variando entre 130 e 190 mm nas regiões Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina. De acordo com a Epagri/Ciram, em abril de 2025, a precipitação no Oeste Catarinense deve ficar abaixo da média histórica, com períodos de chuva alternando com dias mais secos.
Nas demais regiões do estado, a chuva se mantém próxima da média, com registros pontuais acima da média no litoral. Para os meses de maio e junho, a previsão indica chuvas dentro da média em todo o estado.
Em relação às temperaturas, espera-se que, de abril a maio, as temperaturas fiquem acima da média climatológica. Embora a tendência seja de dias mais quentes que o comum para a época, episódios de frio mais intenso são previstos para o Sul do Brasil, especialmente em maio, com noites e madrugadas de temperaturas significativamente mais baixas e formação de geada, principalmente do Extremo Oeste ao Planalto.