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Cerca de 825 mil menores de idade estão “presos” pelos combates no entorno de uma cidade sitiada na região de Darfur, no oeste do Sudão, alertou o Unicef nesta quarta-feira (26), ao descrever o “inferno” em que vivem devido à violência e desnutrição.
“Não podemos fechar os olhos diante deste inferno na Terra”, afirma, em comunicado, Sheldon Yett, representante no Sudão do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
“Estimamos que 825 mil menores estão presos em uma catástrofe crescente em e no entorno de Al Fashir”, capital de Darfur do Norte, no oeste do país arrasado pela guerra, acrescenta.
Calcula-se que 900 mil pessoas permanecem em Al Fashir e 750 mil no acampamento vizinho de Zamzam, isoladas pelo conflito ativo. Metade são crianças, segundo a organização.
Mais de 60 mil pessoas foram deslocadas no norte de Darfur nas últimas seis semanas, que se somam aos mais de 600 mil deslocados — incluídas 300 mil crianças — desde o início da guerra em abril de 2023.
“Todas as vias de acesso estão bloqueadas”, denuncia o Unicef.
A insegurança tornou “quase impossível” o envio de ajuda humanitária e suprimentos, provocando escassez “alarmante de água, alimentos, medicamentos e produtos nutritivos”.
O Unicef “calcula que 500 mil crianças estão diretamente em perigo” se a ajuda necessária não chegar.
A região já sofre com a desnutrição severa, com 457 mil crianças no norte de Darfur que sofrem de desnutrição aguda, 146 mil delas na forma mais grave e mortal, segundo a ONU.
Também houve, segundo a organização, o recrudescimento de violações graves dos direitos das crianças desde o início do ano, com 110 violações graves confirmadas e mais de 70 crianças mortas ou mutiladas em três meses em Al Fashir.
Esses números apenas refletem os casos confirmados, por isso o número real é provavelmente muito maior, segundo a organização.
“A morte é uma ameaça constante para as crianças, seja pelos combates que os cercam ou seja pelo colapso dos serviços vitais dos quais dependem para sobreviver”, insiste Yett.
A guerra entre o Exército dirigido pelo general Abdel Fattah al Burhane e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) comandadas por Mohamed Hamdane Daglo ceifou dezenas de milhares de vidas e provocou o deslocamento de mais de 12 milhões de pessoas.