Mais de 800 mil crianças estão isoladas por combates no Sudão, alerta Unicef

Mulheres e crianças deslocadas reúnem-se em um acampamento perto da cidade de Tawila, em Darfur do Norte, no Sudão, em 11 de fevereiro de 2025, em meio ao conflito entre o Exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR)

Cerca de 825 mil menores de idade estão “presos” pelos combates no entorno de uma cidade sitiada na região de Darfur, no oeste do Sudão, alertou o Unicef nesta quarta-feira (26), ao descrever o “inferno” em que vivem devido à violência e desnutrição.

“Não podemos fechar os olhos diante deste inferno na Terra”, afirma, em comunicado, Sheldon Yett, representante no Sudão do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“Estimamos que 825 mil menores estão presos em uma catástrofe crescente em e no entorno de Al Fashir”, capital de Darfur do Norte, no oeste do país arrasado pela guerra, acrescenta.

Calcula-se que 900 mil pessoas permanecem em Al Fashir e 750 mil no acampamento vizinho de Zamzam, isoladas pelo conflito ativo. Metade são crianças, segundo a organização.

Mais de 60 mil pessoas foram deslocadas no norte de Darfur nas últimas seis semanas, que se somam aos mais de 600 mil deslocados — incluídas 300 mil crianças — desde o início da guerra em abril de 2023.

“Todas as vias de acesso estão bloqueadas”, denuncia o Unicef.

A insegurança tornou “quase impossível” o envio de ajuda humanitária e suprimentos, provocando escassez “alarmante de água, alimentos, medicamentos e produtos nutritivos”.

O Unicef “calcula que 500 mil crianças estão diretamente em perigo” se a ajuda necessária não chegar.

A região já sofre com a desnutrição severa, com 457 mil crianças no norte de Darfur que sofrem de desnutrição aguda, 146 mil delas na forma mais grave e mortal, segundo a ONU.

Também houve, segundo a organização, o recrudescimento de violações graves dos direitos das crianças desde o início do ano, com 110 violações graves confirmadas e mais de 70 crianças mortas ou mutiladas em três meses em Al Fashir.

Esses números apenas refletem os casos confirmados, por isso o número real é provavelmente muito maior, segundo a organização.

“A morte é uma ameaça constante para as crianças, seja pelos combates que os cercam ou seja pelo colapso dos serviços vitais dos quais dependem para sobreviver”, insiste Yett.

A guerra entre o Exército dirigido pelo general Abdel Fattah al Burhane e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) comandadas por Mohamed Hamdane Daglo ceifou dezenas de milhares de vidas e provocou o deslocamento de mais de 12 milhões de pessoas.

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