Mulher morta por disparo de policial após batida na Avenida Brasil tinha medo de violência no trânsito; corpo é enterrado


Vítima estava com casamento marcado. Viúvo conta que foi agredido e revistado antes de socorrerem a mulher. Corpo de cozinheira morta por disparo de policial é enterrado no RJ
Ben-Hur Correia/TV Globo
Sob forte comoção de familiares e amigos, o corpo da cozinheira Elaine Esteves Pereira, de 39 anos, foi enterrado no Cemitério Parque da Paz, em Itaboraí, na tarde desta segunda-feira (12). A mulher morreu depois de ser baleada por um policial civil em um acidente de trânsito na Avenida Brasil.
Muito abalado, o viúvo Carlos André Alves de Almeida, de 48 anos, conta que foi impedido de socorrer a mulher porque estava sendo revistado.
“Os policiais vieram em cima de mim me tiraram de perto dela, me jogaram pro lado, me bateram. Foi uma abordagem violenta e nisso percebi que as costas dela sangrava e ali caiu a ficha que ela tinha sido atingida. Revistaram o carro e só depois que me soltaram eu tentei ajudar ela. A todo tempo fui tratado como um meliante, um criminoso”, relata ele.
Desabafando, o homem conta que chegou a ficar aliviado quando viu a polícia porque pensou que seria salvo de um carro que o estava perseguindo minutos antes.
“Eu achei que quando chegou ali a gente estava a salvo desse veículo que estava colidindo com a gente. Falei: ‘Amor, fica calma que é a polícia’. Achei que a polícia era a nossa salvadora, mas o que aconteceu foi uma tragédia maior”, lamentou o viúvo.
Segundo a família, ela tinha medo de brigas no trânsito e achava que as pessoas agrediriam as outras por nada. No dia 13 de setembro, Elaine completaria 40 anos. No dia seguinte, ela e o marido fariam uma festa de casamento.
“A Elaine era apaixonada pela vida. Tinha uma alegria de viver. Nunca tinha tempo ruim para ela. Sempre com sorriso no rosto, alegre, onde ela chegava era festa. Não tem como descrever ela. Como companheira, ela era meu tudo, meu chão, meu guia. Eu não tenho palavras para explicar o quanto nos amavamos. Estavamos em um momento muito feliz. Nossas filhas se formando”, lamenta o viúvo.
“A minha filha era o que ar que eu respiro. A minha filha passou tudo de tristeza depois que o pai dela foi embora, quando ela era bebê. A minha filha era guerreira, trabalhava de segunda a sábado”, completa a mãe.
Carlos André e a esposa Elaine Esteves Pereira, morta por um tiro de um policial civil na Avenida Brasil
Reprodução
Primo foi morto por tiro na Dutra
Não foi a primeira vez que a família da jovem sofre com a violência. Há 5 anos, um primo de Elaine foi morto em um tiroteio na Rodovia Presidente Dutra.
“Essa é a segunda vez que a minha família passa por isso. Não vamos suportar. Tem cinco anos que tiraram o meu sobrinho de 26 anos e ninguém fez nada. Foi na Dutra, o único filho do meu irmão. A polícia não fez nada. Ele tinha vindo do Equador para fazer a festa de 15 anos da irmã, em Nova Iguaçu, e quando voltava de uma festa e foi morto em uma abordagem da polícia. Agora, de novo isso. Tem que pegar a pessoa que fez isso. Tem que ter preparo para os policiais”, lamentou Rosângela da Silva Esteves Paiva, 58 anos, mãe de Elaine.
Sem conseguir conter as lágrimas, ela conta que a filha faria aniversário dia 13 de setembro e no mesmo dia iria oficializar a união.
“Ela iria fazer uma festa, que era o sonho de uma festa aos 40 anos. Ela estava com o vestido de noiva e o buquê comprado para casar no mesmo dia. Eu não sei o que falar, não sei o que fazer. Eu respiro por ela e quero que Deus me leve para ficar com ela”.
Mulher é baleada após carro de casal bater em veículo da polícia
Elaine deixa duas filhas e, durante o velório, Márcia Eduarda Pereira de Jesus, de 24 anos, gritava e lamentava.
“Eu te amo, eu te amo. Mãe, levanta daí. Mãe, por favor, acorda. Diz que é mentira. Meu Deus, meu Deus”.
A jovem, que pede punição para quem tirou a vida da mãe, também chorava muito. “A minha luz, a minha melhor amiga. Mãe, não me deixa. Tá doendo muito. Me desculpas por alguma coisa, mãezinha”, dizia a moça ao lado do corpo da mãe.
Marido de mulher morta na Avenida Brasil diz que ficou aliviado ao ver carro da polícia
Perseguição
A morte foi na altura de Barros Filho, na Zona Norte do Rio. Elaine e o marido haviam saído de uma festa. No caminho pela Estrada da Água Branca, um homem em outro carro parou ao lado e pediu que encostassem porque o casal teria batido no carro dele.
Carlos André afirma que nem ele nem a mulher perceberam o acidente e que ficaram com medo de parar, às 3h da manhã, e resolveram acelerar.
O outro carro foi atrás e, segundo Carlos André, chegou a bater na traseira deles de propósito. Ao tentar fugir, o marido de Elaine disse ter perdido o controle em uma curva ao chegar na Avenida Brasil, Foi quando bateu no comboio da DH.
Em nota, a Polícia Civil afirma que o carro estava “em fuga” e citou a proximidade com a comunidade de Parada de Lucas. Segundo a polícia, os tiros foram dados para “interromper a investida repentina e violenta” (veja a íntegra da nota no fim da reportagem).
Carro onde estava mulher que foi baleada na Avenida Brasil
Reprodução
O que diz a Polícia Civil
Caso é investigado pela Polícia Civil. Veja abaixo a nota:
“A Delegacia de Homicídios da Capital – DHC, informa que, durante os trabalhos ordinários realizados pelo Grupo Especial de Local de Crimes-GELC, nesta madrugada do dia 11/08/2024, por volta das 03h30min, a equipe de policiais foi surpreendida por uma colisão, na qual um veículo em fuga atingiu uma das viaturas do comboio policial, na Avenida Brasil, próximo ao Trevo das Margaridas, nesta cidade, ao lado de um dos acessos da comunidade de Parada de Lucas.
Os policiais efetuaram disparos de arma de fogo para interromper a investida repentina e violenta do veículo contra o comboio.
Após estabilização da situação, os agentes constataram que uma pessoa do sexo feminino teria sido alvejada. Imediatamente, acionaram o socorro médico, porém a mesma não resistiu aos ferimentos e veio a óbito ainda na localidade.
Apurou-se que o veículo que colidiu com a viatura da polícia estava em fuga, tendo em vista que se envolvera, momentos antes, numa outra colisão de trânsito.
Todos os envolvidos na ocorrência foram conduzidos para a Delegacia de Homicídios, e a CGPol, de imediato, acionada para conduzir as investigações.
A perícia de local foi realizada por uma equipe de peritos do ICCE/Sede.”
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