Pai de menina que morreu após inalar desodorante diz que mãe a viu aspirar aerossol outras vezes: ‘O que eu queria era minha filha viva’


Brenda Sophia Santana Melo Santana, de 11 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória antes de chegar a hospital, no domingo (9). Parentes da garota prestaram depoimento nesta quarta (12). Brenda Sophia morreu após inalar desodorante aerossol
Reprodução/Instagram
Brenda Sophia Santana Melo de Santana, a menina de 11 anos que morreu após inalar um desodorante de spray em Bom Jardim, no Agreste de Pernambuco, já tinha aspirado aerossol outras vezes antes de falecer, no domingo (9). O pai da garota, José Ailton Santana, disse ao g1 que a mãe dela viu a filha fazer isso em, ao menos, duas ocasiões.
Segundo informações dadas pela família à polícia, Brenda inalou o produto para cumprir um desafio que viu na internet.
“É porque ela vivia mais com a mãe dela em casa. Eu viva mais trabalhando. […] Nunca vi, não, (a menina inalando aerossol). Agora, a mãe dela já viu algumas vezes, umas duas vezes. […] É entregar na mão de Deus… O que eu queria era minha filha viva, mas não tem jeito”, afirmou.
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O caso é investigado pela Delegacia de Bom Jardim. Segundo José Ailton, no dia em que ela morreu, ele tinha ido à casa de amigo e deixado a menina em casa com a avó paterna.
A mãe da garota, Letícia, estava na casa de uma parente, a cerca de 500 metros da residência onde a família mora, na zona rural do município. Quando ele voltou, viu a criança desacordada na cama, com um material branco na boca.
“Tentei levantar ela, botei a mão nos pulsos, vi que não estava batendo o pulso dela. […] Corri para chamar a mãe dela e os vizinhos para socorrer”, disse José Ailton.
De acordo com o pai, Brenda foi levada pela mãe e por um vizinho para o Hospital Municipal Dr. Miguel Arraes enquanto ele ficou com os outros três filhos em casa. Depois, quando outros parentes chegaram para ficar com as crianças, ele seguiu para a unidade, onde foi confirmada a morte da menina.
Ele disse, ainda, que, só depois da morte da filha, soube que ela tinha aspirado aerossol e que a mãe já tinha visto a garota inalando desodorante — prática que pode causar sérios danos à saúde, incluindo asfixia e arritmia (saiba mais abaixo).
“Não sabia nem o que estava acontecendo ali. Fiquei foi chocado por sair de casa, chegar e ver minha filha numa situação daquela. Sei nem como explicar”, declarou Ailton.
Menina de 11 anos morre de parada cardiorrespiratória após inalar desodorante aerossol
Família depõe à polícia
Em nota divulgada nesta quarta-feira (12), a prefeitura de Bom Jardim informou que, segundo o boletim de ocorrência, a mãe disse à polícia que a menina tinha o “hábito” de cheirar desodorante e já tinha sido advertida “diversas vezes” pelos pais.
Ailton, Letícia e a avó da criança que estava com ela no dia em que a menina morreu prestaram depoimento nesta quarta (12) na Delegacia de Belo Jardim. A causa da morte será confirmada por meio de um laudo tanatoscópico, que está sendo produzido pelo Instituto de Medicina Legal (IML) de Caruaru, também no Agreste do estado.
Ao g1, o pai de Brenda disse que a avó não percebeu que a jovem tinha passado mal. “Minha mãe não ouve direito, tem problema de audição e fala. Ela [a avó] foi lá no quarto e chamou. Ela não respondeu. Aí ela [a avó] disse: ‘Não vou mexer, não, que ela está dormindo'”, contou José Ailton.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Bom Jardim, a garota sofreu uma parada cardiorrespiratória antes de dar entrada no hospital, às 16h24 do domingo.
“Apesar dos esforços dos profissionais de saúde e da realização dos protocolos de reanimação, infelizmente, o óbito foi decretado após 40 minutos de atendimento”, afirmou a prefeitura. A nota informa também que, segundo informações preliminares fornecidas pela família, a menina aspirou o aerossol pela boca.
No texto, a gestão municipal disse que se solidariza com os parentes e amigos da parente e que colocou à disposição as equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social e Combate à Fome “para acolher e amparar a família”.
A prefeitura do Bom Jardim falou, ainda, que “alerta para a importância do diálogo e da orientação familiar sobre os riscos associados ao uso inadequado de substâncias químicas e produtos domésticos, bem como os perigos relacionados ao uso de smartphones, internet e redes sociais, especialmente em desafios virtuais que podem comprometer a saúde e a vida dos jovens”.
Riscos à saúde
O aerossol é composto por partículas sólidas e líquidas suspensas no ar a partir do lançamento de um gás por meio de um spray e pode causar sérios danos à saúde se for inalado, segundo especialistas.
Ao g1, o clínico-geral Andrey Damasceno, que atendeu a criança, disse que não pode falar sobre o caso específico de Brenda por questões éticas, mas explicou que a substância consegue penetrar rapidamente nos brônquios, comprometendo a oxigenação.
O médico disse, ainda, que a gravidade do caso vai depender da quantidade de aerossóis inalados e das condições de saúde do paciente.
Já o pneumologista Alfredo Leite, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), informou que o aerossol contém uma série de produtos que podem ser aplicados na pele, mas que se tornam tóxicos em contato com o sistema respiratório.
Entre essas substâncias, estão os hidrocarbonetos, gases propelentes que podem causar asfixia e arritmia cardíaca, um conjunto de sintomas conhecido como “síndrome da morte súbita por solventes”.
Além dos hidrocarbonetos, de acordo com o pneumologista, alguns sprays contêm álcool, o que também causa irritação respiratória e pode afetar o sistema nervoso central.
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