PKK está disposto a fazer paz com Turquia após 4 décadas de conflito

Curda-iraquiana segura uma bandeira com o rosto de Abdullah Ocalan em 27 de fevereiro de 2025 na cidade de Suleimaniyah, na região do Curdistão iraquianoShwan MOHAMMED

Shwan Mohammed

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) anunciou um cessar-fogo com a Turquia neste sábado (1º), após o apelo histórico de seu líder preso, Abdullah Öcalan, para que o grupo cesse as hostilidades e inicie negociações para sua dissolução.

“Com o objetivo de abrir caminho para a implementação do pedido de Apo [tio em curdo, apelido de Öcalan] por paz e uma sociedade democrática, declaramos um cessar-fogo a partir de hoje”, anunciou a Comissão Executiva do PKK, com sede no norte do Iraque, respondendo ao apelo de seu fundador, preso há 26 anos.

O PKK, considerado um grupo terrorista pela Turquia e seus aliados ocidentais, foi fundado em 1978 e, durante décadas, liderou uma insurgência contra Ancara buscando a criação de um estado curdo.

Essa trégua, se respeitada e levada a um acordo de paz, pode encerrar quatro décadas de guerrilha, que deixou pelo menos 40.000 mortos.

Em uma longa mensagem publicada em turco pela agência ANF, próxima ao partido armado, o PKK aprovou o apelo de Öcalan, entregue na quinta-feira em Istambul.

“Estamos de acordo com o conteúdo do apelo tal como está e declaramos que o respeitaremos e executaremos”, disse o PKK em um longo texto com letras maiúsculas.

“Nenhuma de nossas forças realizará qualquer ação armada a menos que sejam atacadas”, acrescentou.

No final de quatro meses de negociações iniciadas pelas autoridades turcas e lideradas pelo principal partido pró-curdo, o DEM, Öcalan lançou um apelo por “paz e uma sociedade democrática”, ordenando que o PKK “deponha as armas” e “se dissolva”.

A época na qual prevaleceu quando declarou a luta armada em 1984 acabou, insistiu o líder, afirmando que assumiu “a responsabilidade histórica por esse chamado”.

A liderança do PKK exige a libertação de seu fundador de 75 anos, condenado à prisão perpétua e mantido em uma ilha na costa de Istambul.

“O líder Abdullah Öcalan deve poder viver e trabalhar em total liberdade física e estabelecer relações sem restrições com quem quiser, incluindo seus amigos”, disse o grupo.

– ‘Apo deve presidir o Congresso’ –

A prova de que o líder ainda impõe respeito é que o PKK o instou a presidir pessoalmente o Congresso que levará à sua dissolução.

“Somente a liderança prática do líder Apo pode permitir a realização prática de questões como a deposição de armas”, escreveu o grupo.

“Para que o Congresso seja um sucesso, o líder Apo deve dirigi-lo pessoalmente”, pede o texto escrito novamente em letras maiúsculas, proclamando que “o chamado [de Öcalan] não é um fim, mas um novo começo”.

Autoridades turcas iniciaram o diálogo em outubro conduzidas pelo DEM, o principal partido pró-curdo representado no Parlamento, que visitou o veterano líder do PKK em sua prisão na ilha de Imrali em três ocasiões.

No dia seguinte ao discurso de Öcalan, o presidente Recep Tayyip Erdogan comemorou uma “oportunidade histórica de avançar em direção ao objetivo de destruir o muro do terror” e prometeu “monitorar de perto a conclusão bem-sucedida do processo”.

Essa reviravolta era esperada tanto pela população turca quanto pela minoria curda, a maior da Turquia (cerca de 20% da população), depois que combatentes curdos evacuaram o território turco após o último surto de violência em 2015-2016 para se estabelecerem nas montanhas do norte do Iraque e do nordeste da Síria.

As concessões do PKK são explicadas principalmente por uma nova situação regional, explica Bayram Balci, pesquisador do CERI-Science Po e especialista em Turquia. “O PKK não tem mais o apoio que teve no governo [do deposto presidente sírio] Bashar al Assad.”

“Também é possível que não possam mais contar com um apoio tão forte dos americanos no nordeste da Síria”, onde Washington mantém entre 1.000 e 2.000 soldados em nome da luta contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico.

Mas “está claro que a dissolução do PKK não significa o fim da questão curda: Öcalan insistiu na democratização da Turquia”, observa o historiador Hamit Bozarslan, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (École des Hautes Études en Sciences Sociales- EHESS), em Paris.

“Não basta depor as armas”, disse o representante do DEM, Tuncer Bakirhan, na sexta-feira. “O governo deve demonstrar vontade política e aplicar os programas” adequadamente.

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