1° rei de bateria do carnaval de SP fará último desfile em 2025: ‘Enfrentei muito preconceito, mas deixo legado e caminhos abertos’


Pioneiro entre os homens, Daniel Manzioni está há 18 anos à frente da bateria da Acadêmicos do Tatuapé. Prestes a completar 50 anos, ele diz que vai se despedir do carnaval paulista para cuidar da mãe e da carreira de artesão. Daniel Manzioni é o 1° rei de bateria do carnaval de São Paulo e se despede do samba em 2025.
Reprodução/Instagram
Único homem à frente de uma bateria de escola de samba na disputa pelo título do carnaval de São Paulo neste ano, o dançarino e coreógrafo Daniel Manzioni vai desfilar neste ano pela última vez como rei da bateria da Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé.
Desde 2007 no cargo da escola da Zona Leste e há três décadas se dedicando ao samba paulistano, Manzioni decidiu que chegou a hora de dar adeus às competições e se dedicar aos cuidados com a mãe, de 84 anos, e a projetos artísticos pessoais.
O reinado de 18 anos rendeu a Manzioni o reconhecimento do Guiness Book como o primeiro rei de bateria da história do carnaval, onde ele está desde 2007.
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O coreógrafo atribui o sucesso de seu longo “reinado” ao fato de sempre ter tido a “postura de homem profissional” no cargo.
“Independente da orientação sexual de cada um, quando você está à frente de uma ala importante de uma escola, você representa uma comunidade inteira. Não está ali para fazer fama e conseguir destaque pessoal. É um trabalho sério desenvolvido, onde a gente se coloca na condição de humildade para aprender e respeitar os tempos e as funções de cada integrante da escola”, disse ao g1.
Daniel Manzioni é o 1° rei de bateria do carnaval de São Paulo e se despede do samba em 2025.
Montagem/g1/Caio Reis/Felipe Araújo/Divulgação
“A gente tem que ter postura de homem profissional, sem querer competir ou ofuscar a rainha e atento ao trabalho da bateria, que é o coração da escola. Seja mulher ou homem, o trabalho do rei e da rainha da bateria é de abrilhantar o trabalho coletivo da comunidade. A gente é igual aos demais integrantes da escola. Foi assim que conquistei respeito e abri espaço para que outros homens pudessem mostrar sua arte”, completou.
Com muito gingado e samba no pé, aos poucos Manzioni conquistou o respeito dos colegas da agremiação em uma posição de destaque que tradicionalmente pertence a mulheres de corpo escultural. Hoje ele é considerado o “rei eterno” da bateria da escola.
Nesses 30 anos convivendo com o mundo do samba em várias escolas, ele conta ter enfrentado muitos preconceitos. Mas nenhum deles abalou o desejo de abraçar a vida comunitária no samba.
“Quando propus ser rei de bateria, alguns achavam que eu queria usar biquíni, me vestir de mulher e me travestir, competindo com a rainha. Nada disso. Mesmo eu sendo instrutor de dança, aos poucos tive que fazer as pessoas entenderem que eu queria ser eu mesmo. Um homem que gosta de sambar, que gosta da construção dos desfiles e da vida em comunidade”, conta.
Daniel Manzioni em suas apresentações no sambódromo do Anhembi, ao longo de 30 anos de vida no samba paulistano.
Caio Reis/Divulgação
“Em 30 anos, enfrentei muito preconceito, mas deixo um legado. Abri caminho para muitos musos e reis pelo Brasil. Alguns hoje até desvirtuam um pouco o que é estar neste cargo. Mas na minha cabeça nunca saiu a certeza de que eu tinha que honrar o trabalho de tanta gente que dá duro para fazer um desfile acontecer ao longo de um ano inteiro”, declarou.
“O samba tem espaço para todo tipo de pessoa, todos os tipos de corpos. Como as mulheres lindas e talentosas, há homens igualmente belos e talentosos. Abri espaço para muitos deles no carnaval. Dá uma dor no peito ter que me despedir, mas agora mudei para o interior para cuidar da minha mãe e da minha carreira de artesão. Então, espero que ter sido o precursor disso possa ser valorizado pelas gerações que vêm aí”, afirmou.
Questionado pelo g1 sobre como resumiria seu legado, Manzioni usou quatro expresões-chave: “Respeito, carisma, samba no pé e humildade. Ninguém se destaca sem talento, ninguém alcança nada sem humildade”, comentou.
Adeus no sambódromo
O último desfile do rei eterno do Tatuapé já tem data e hora marcada: começa às 3h20, quando a quinta escola entrar no sambódromo do Anhembi, na Zona Norte, na próxima sexta-feira (28), a primeira noite de desfiles do Grupo Especial de SP.
Segundo Manzioni, a apresentação vai ser um misto de adeus com até breve.
“Por ora, não estou pensando em voltar para o samba. Sempre disse que a Tatuapé será para sempre a minha escola. Se voltar nos próximos anos, vai ser fazendo outras coisas, cumprindo outras funções. Por ora, quero cuidar da vida e da minha mãe. O coração está apertado, choro toda vez que penso no último desfile. Mas a sensação é de dever cumprido. Não vai ser um adeus, mas certamente um até breve…”
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Confira datas e horários dos desfiles
Grupo Especial: sexta-feira (28 de fevereiro) e sábado (1º de março)
Grupo de Acesso I: domingo (2 de março)
Grupo de Acesso II: sábado (22 de fevereiro)
Desfile das Campeãs: sábado (8 de março)
Segundo o sorteio realizado pela Liga-SP ainda no ano passado, a ordem dos desfiles será a seguinte:
Grupo Especial
Sexta-feira (28 de fevereiro) – 1ª noite
23h: Colorado do Brás
0h05: Barroca Zona Sul
1h10: Dragões da Real
2h15: Mancha Verde
3h20: Acadêmicos do Tatuapé
4h25: Rosas de Ouro
5h30: Camisa Verde e Branco
Sábado (1º de março) – 2ª noite
22h30: Águia de Ouro
23h35: Império da Casa Verde
0h40: Mocidade Alegre
1h45: Gaviões da Fiel
2h50: Acadêmicos do Tucuruvi
3h55: Estrela do Terceiro Milênio
5h: Vai-Vai
Grupo de Acesso I
Domingo (2 de março)
21h: Unidos de São Lucas
22h: Mocidade Unida da Mooca
23h: Independente Tricolor
0h: Unidos de Vila Maria
1h: Tom Maior
2h: Nenê de Vila Matilde
3h: X-9 Paulistana
4h: Dom Bosco de Itaquera
Grupo de Acesso II
Sábado (22 de fevereiro)
20h: Raízes do Samba
20h55: Imperatriz da Paulicéia
21h50: Unidos do Peruche
22h45: Torcida Jovem
23h40: Pérola Negra
0h35: Morro da Casa Verde
1h30: Imperador do Ipiranga
2h25: Primeira da Cidade Líder
3h20: Brinco da Marquesa
4h15: Camisa 12
Conheça o enredo da Acadêmicos do Tatuapé pro Carnaval 2025
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