Pioneira em conteúdos da cultura drag queen, Lorelay Fox fala sobre mudança no estilo dos vídeos após uma década de carreira: ‘Essencial para mim’


Danilo Dabague, conhecido artisticamente como Lorelay Fox, iniciou sua vida na arte drag queen aos 17 anos de idade, em Sorocaba (SP). Digital influencer Lorelay Fox é uma drag queen que produz diversos conteúdos
Reprodução/Redes sociais
Digital Influencer “Lorelay Fox” faz diversos conteúdos vestida de Drag queen
Redes Sociais
Na cultura drag queen, homens e mulheres têm o passe livre para se expressarem artisticamente da forma que desejarem, como, por exemplo, usando roupas exageradas, maquiagens carregadas e, muitas das vezes, fazendo performances com toques cômicos ou teatrais.
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Uma das pessoas que aderiu a essa performance artística foi o influenciador digital e publicitário Danilo Dabague, de 38 anos, nascido e criado em Sorocaba (SP). Danilo é popularmente conhecido como Lorelay Fox, nome para a sua persona drag. Atualmente, suas redes sociais somam quase dois milhões de seguidores.
Com pautas LGBTQIA+ e, principalmente, conteúdos de drag queen, Danilo iniciou o canal no YouTube como Lorelay Fox em 2015 e, segundo ele, foi o primeiro deste tipo a viralizar na plataforma.
“O primeiro canal de drag que viralizou no YouTube foi o meu. Isso é bem bizarro pensar, porque eu criei sem a intenção de viralizar. Eu queria que desse certo, mas não imaginava que chegaria tão longe assim”, diz.
🏳️‍🌈 Ascensão
Danilo Dabage, conhecido como Lorelay Fox, iniciou a carreira na internet em 2015
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Danilo conta que, devido à falta de conteúdo drag no YouTube, surgiu a ideia de começar o canal e fazer os vídeos. Além disso, ele já era fã de diversos criadores de conteúdo da plataforma.
“Eu decidi criar um canal que eu queria assistir. Só que essa ideia veio por conta do fato de que Sorocaba estava em uma fase ruim de trabalho para drag. Nesse momento da minha vida, eu pensei: ‘Ou eu paro de ser drag, porque já não tem mais balada chamando, nem festa para eu ir ser hostess [recepção de clientes], ou eu faço alguma coisa diferente’. A partir daí que eu decidi fazer o canal para que eu também tivesse um motivo para continuar me montando”, relata.
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Drag queen é questão de gênero?
Segundo o publicitário, a produção de conteúdos sobre o tema LGBT era mais fácil na época em que começou a carreira na internet. Portanto, seu canal começou a viralizar rapidamente, já que não existiam muitas pessoas que abordassem o tema.
“Claro que existiam outros canais com temática LGBT, mas eram apenas dois e sem uma drag falando. Antigamente, eu fazia vídeos sobre pautas sociais, pautas do movimento LGBT, explicando as questões do movimento e comentando fatos que tinham a ver com isso. Se acontecia alguma situação de homofobia ou transfobia, eu comentava muito sobre isso”, relembra.
No entanto, Danilo reforça que, se antes o tema se tratava de uma novidade, hoje em dia tornou-se algo conhecido por todos. Por isso, atualmente Danilo produz conteúdos completamente diferentes, porém ainda mantém sua essência e continua se montando como drag.
“Antes tudo era novidade, então, quando nada foi explorado, tudo se torna ainda mais fácil. Quando os conteúdos começaram a ficar batidos, eu larguei a militância e passei a fazer um conteúdo de cultura pop, de coisas mais engraçadas”, explica.
“Hoje em dia, eu considero que meu estilo é uma senhora comunicadora. Porque eu considero que minha carreira mais é sobre ser youtuber do que sobre ser drag, sabe? Youtuber é o que fez dar certo minha carreira como drag. Então, a parte de comunicadora eu acho que é essencial para mim”, diz.
Lorelay Fox se monta como drag em diversos estilos
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“Hoje em dia, falo sobre filmes, TV, acontecimentos e dou muito conselho para os inscritos que me mandam pedido de conselho, além de comentar casos de fofoca e também sobre teorias da conspiração. Eu adoro falar sobre temas de terror e teoria da conspiração. É bem diferente do que era antes”, diz.
A transição de conteúdo começou no período da pandemia e foi um grande desafio, segundo Danilo. Ele conta que tinha receio em relação à aceitação do público, que poderia facilmente desgostar da ideia.
“Quando comecei a mudar o conteúdo, tive medo da aceitação do público. Mas eu consegui fazer uma transição suave, e isso foi durante um período da pandemia também, em que as pessoas estavam muito online. No fim de tudo, eu consegui me adequar bem”, diz.
🦊 Lorelay Fox
O nome Lorelay Fox é a junção de duas grandes paixões de Danilo. O primeiro nome, Lorelay, é inspirado na personagem da série “Gilmore Girls”, que conta a história de uma mãe e uma filha, e que passava na televisão aberta, segundo ele.
“Eu assistia a uma série que se chama ‘Gilmore Girls’, na qual a protagonista se chamava Lorelay. Eu amava essa série, achava a coisa mais incrível do mundo. Por conta disso, eu quis colocar o nome de Lorelay, porque eu achava um nome diferente e ‘bem gay’, sabe?”, brinca.
Já o sobrenome, Fox, que significa “raposa” na língua portuguesa, surgiu de uma cantora brasileira. A junção das duas alcunhas virou o nome oficial da sua persona drag. “O Fox veio da cantora Love Fox, que é a vocalista da banda Cansei de Ser Sexy. Eu achava ela uma diva, com uma atitude incrível”, diz.
🎭 Início da vida drag
Danilo Dabague cria diversos conteúdos humorísticos e ainda se veste de drag
Reprodução/@leoscardoso
Danilo conta que começou a se montar como drag queen aos 17 anos de idade. Ele se vestia por brincadeira, junto de seu amigo da época. O publicitário apenas começou a transformar a arte amadora em trabalho profissional ao completar 18 anos de idade. Durante o período, ele também iniciou os estudos em publicidade e propaganda.
“Sorocaba era muito diferente do que é hoje, a cidade tinha bastante coisa para os gays, como balada para drags, com muito show delas, inclusive. As drags do Brasil inteiro vinham fazer show em Sorocaba e tal. Então, era um meio muito propício para se começar. Se você era gay e ia para baladas naquela época, todo mundo conhecia drags e, enfim, gostava de ver os shows”, relembra.
Assim que começou a trabalhar na área, Danilo já fazia shows e, principalmente, trabalhava como hostess. Ele explica que, na época, ficava na porta da balada recepcionando as pessoas durante um longo período.
“Na época, eu passei quase um ano trabalhando em frente à porta de uma balada. Mas, depois, eu fiquei fazendo show e hostess em festas esporádicas. Isso continuou durante dez anos”, conta.
Danilo ainda ressalta que o maior desafio da época era que seu pai não o flagrasse montado de drag. De acordo com ele, até hoje o homem se recusa a aceitar sua arte.
“Era desafiador sair escondido de casa com as coisas de drag. Por isso, o maior desafio é esconder das pessoas que não podem descobrir. Inclusive, meu pai não fala sobre isso comigo até hoje. Mas algumas coisas estão mudando, porque estou construindo uma casa para eles”, diz.
Lorelay Fox nasceu em Sorocaba (SP) e cria conteúdos montada de drag queen
Reprodução/@rodolfocorradin
“Finalmente pude dar algum tipo de conforto financeiro para os meus pais, e tudo isso devido à minha carreira de drag. E eu jamais imaginava que uma drag ia poder ajudar a família financeiramente, coisa que eu jamais conseguiria sendo publicitário em Sorocaba”, conta.
O youtuber ainda diz que, durante muito tempo, o amigo que inicialmente se montava com ele, era quem fazia as maquiagens não só dele, mas também das outras drags do local onde trabalhava. Além disso, ele destaca a união que existe na comunidade.
“Tinha uma coisa, assim, muito de união no meio LGBT. As drags ajudavam umas as outras a se montarem, então aprendi muito com elas. Porque, por exemplo, as drags costumavam ir na nossa casa para ensinar maquiagem. Era bem legal, elas meio que adotavam umas as outras, sabe?.”
Apesar de ter aprendido o básico da maquiagem com as drags, Danilo destaca que sempre teve facilidade porque desenhava desde criança. No entanto, de acordo com o publicitário, ele só aprendeu a se maquiar verdadeiramente após a criação do canal no YouTube.
“Eu considero que eu só aprendi mesmo a me maquiar quando eu comecei meu canal, porque, até começar a produzir os conteúdos, eu ainda tinha uma técnica de maquiagem muito antiga, já que não existia tutorial. Além disso, naquela época não existia internet para ver esse tipo de coisa, tínhamos que descobrir sozinhos. Com a chegada da internet, evoluí bastante.”
💄 Cultura drag queen
Danilo Dabage, conhecido artisticamente como Lorelay Fox, é drag queen há 20 anos
Reprodução/Redes sociais
Para Danilo, o sexo do indivíduo não é importante e todo mundo pode exercer a arte e se tornar uma drag queen. “Não tem necessariamente uma obrigação de uma orientação sexual ou de um gênero”, pontua.
“Claro que, para os gays, essa arte faz parte da nossa história como homossexuais. Porém ser uma drag queen é exercer um personagem artístico que você cria para extrapolar sua arte. E eu acho que isso é falar sobre diversidade, né? Quanto mais pessoas entenderem que a arte abrange todo mundo, e que é para todos se sentirem representados pela arte drag, mais incrível será.”
Ele também comemora que o período atual é o melhor que a cultura drag queen já vivenciou. Segundo ele, figuras como Pablo Vittar, Gloria Grove, Lia Clark e até mesmo uma mulher lésbica como a cantora norte-americana Chapell Roan furaram a bolha com a arte drag.
“Nós drag queens estamos no mainstream, as drags atuais estão ocupando espaços que nenhuma outra ocupou antes. Hoje em dia, você está em um Uber e ouve tocar uma música da Gloria Groove. E nunca poderíamos imaginar que as pessoas iriam aceitar dessa forma. Claro que o preconceito ainda existe, ainda mais no Brasil, que é um país extremamente homofóbico e transfóbico”, diz.
“Se você deseja embarcar na arte de drag queen, você tem que, primeiramente, fazer para se divertir. Não dá para esperar que vai ganhar dinheiro de cara ou que vai ser uma ferramenta de militância e transgressão social. Estenda aos poucos até onde sua arte pode te levar.”
*Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida
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