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Após novos temporais na cidade de São Paulo nesta terça-feira (18), milhares de clientes da Enel, empresa distribuidora de energia elétrica, ficaram sem luz.
Até o final da manhã de segunda-feira (19), ao menos 100 mil casas estavam sem o serviço, interrompido na noite anterior. O número chegou a ser de 242 mil, segundo boletim de 22h30 de terça, emitido pela operadora.
Além dos boletins informativos que são atualizados pela empresa a cada hora, informando quantos clientes e em quais regiões estão sem energia, a Enel se limita a informar que está trabalhando para restabelecer o sistema o mais rápido possível, sem apresentar soluções para os problemas a longo prazo.
O iG também aguarda explicações da empresa. Veja os questionamentos feitos no final dessa reportagem.
Falta de luz recorrente
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Os apagões na Grande São Paulo se tornaram recorrentes nos últimos anos. Entre os casos mais recentes nos quais o número de afetados passou de 150 mil clientes, está o problema em uma linha de transmissão, no dia 5 de janeiro, que deixou 192 mil casas sem energia elétrica.
Os bairros mais afetados, na Zona Sul, ficaram de 15h até, pelo menos, 22h sem eletricidade. No dia 7 do mesmo mês, temporais deixaram 650 mil domicílios sem luz no começo da tarde na região metropolitana de SP. O número chegou a ser de 242 mil, segundo boletim de 22h30 de terça, emitido pela operadora.
No ano passado, durante o período das eleições municipais de 2024, chuvas fortes provocaram quedas de energia e deixaram mais de 537 mil clientes sem o serviço.
Ao menos 354 mil moradores ficaram da sexta-feira, 11 de outubro, até a segunda seguinte, dia 14, sem luz. Na época, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) criticou a resposta da concessionária ao apagão, afirmando que ficou “aquém do esperado”. Equipes de reparo de outros estados, como Rio de Janeiro e Ceará, foram enviadas para auxiliar na recuperação dos serviços.
A Enel começou a operar em São Paulo em 2018, quando adquiriu 73% das ações da até então chamada Eletropaulo Metropolitana. O restante das ações disponíveis no mercado foram compradas ao longo do tempo, até que a operadora obter todo o capital da empresa.
Prefeito já pediu cancelamento do contrato com Enel
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Em novembro de 2023, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), chegou a pedir para a Aneel cancelar o contrato de concessão com a Enel. O pedido aconteceu após uma série de quedas de energia que aconteceram na época, deixando milhares de pessoas sem o serviço na Grande São Paulo após fortes temporais.
“A gente já vinha há muito tempo discutindo com a Enel uma série de questões. Eu tenho, por exemplo, cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS) que estão prontas aguardando a Enel fazer a ligação de energia, tenho um conjunto habitacional para inaugurar na Vila Olimpia, que não conseguimos inaugurar porque a Enel não faz ligação de energia”, afirmou Nunes, na época.
Contrato federal
A empresa Enel é uma multinacional italiana de capital misto voltada para o setor energético. Segundo informações do site, a empresa está presente em 28 países — incluindo Estados Unidos, Canadá, Espanha e Brasil —, em cinco continentes. No Brasil, a concessionária atua no Rio de Janeiro, Ceará e São Paulo, fornecendo energia elétrica a mais de 15 milhões de residências, indústrias e comércios.
A Enel possui contrato de concessão com a Aneel, que é gerida pelo governo federal. A agência é responsável pela fiscalização e regulação das concessões de energia. É ela também que pode aplicar multas em caso de descumprimentos de acordos pré-estabelecidos, como o interrompimento do fornecimento do serviço aos clientes.
Procon-SP notificou a operadora
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O Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) de São Paulo notificou a concessionária pela interrupção prolongada dos serviços no dia 7 de janeiro deste ano. Segundo o governo federal, desde novembro de 2023 a Enel já foi notificada pelo órgão quatro vezes.
Segundo o Procon, a situação se repete a cada chuva, sem que sejam percebidas ações efetivas para a redução dos problemas, como a diminuição do prazo para restabelecimento do fornecimento de energia elétrica aos consumidores atingidos.
O órgão pediu esclarecimentos detalhados da área e do número de consumidores impactados, sobre as providências adotadas para a retomada do serviço e como a informação foi passada aos consumidores.
Em nota enviada à Agência Brasil no mês passado, a Enel informou ter aprimorado o plano de contingência, com reforço das equipes em campo, contratação de mais eletricistas próprios, o aumento da frota de geradores, e ampliação da capacidade nos canais de atendimento e do número de manutenções preventivas.
Multas acumuladas pela Enel
Segundo matéria feita pelo UOL em outubro de 2024, a Enel acumula mais de R$ 320 milhões em multas aplicadas pela Aneel desde 2018. Destas, foram suspensas a cobrança de R$ 265,6 milhões com duas ações na Justiça.
De acordo com a Aneel em resposta à reportagem do UOL, os valores correspondem a multas pelos transtornos ocorridos em 2023 e pela má qualidade do fornecimento de energia em 2022. O UOL cita que, ao contrário do período entre 2018 e 2021, as multas recorrentes deixaram de ser pagas.
As ações adotadas pelos órgãos públicos demonstram que, desde 2018, a operadora responde por transtornos no abastecimento dos clientes. O Portal iG tentou contato com a Enel, solicitando explicações sobre os problemas recorrentes citados, mas até o momento não teve retorno.
A reportagem do iG também pediu números atualizados sobre as multas aplicadas à Enel para a Aneel e para o Governo de Estado de SP. Assim que a resposta for enviada, a matéria será atualizada.