Entenda como enzima descoberta pelo CNPEM pode tornar combustível de aviação mais sustentável


Produto pode tornar setor aéreo menos dependente de combustíveis fósseis, além de criar alternativas para indústria de artigos de derivados do petróleo. CNPEM descobre enzima que torna combustível de aviação sustentável com subproduto do milho
O Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), descobriu uma enzima em bactéria capaz de transformar o óleo de destilação do etanol de milho (conhecido em inglês como DCO, ou distillers corn oil) em combustível de aviação sustentável.
Com a descoberta, o subproduto da produção de álcool de milho ganhou o potencial de diminuir a dependência do petróleo não somente na produção de combustíveis, como também na fabricação de plásticos, cosméticos e outros produtos industriais.
O estudo foi publicado na revista científica Nature Communications e recebeu financiamento de instituições públicas e privadas, incluindo a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
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“Você pode conseguir obter de forma sustentável uma molécula que é muito parecida com a que você tem no petróleo e que pode atender diferentes setores da economia, então fica claro como pode ajudar no desenvolvimento econômico sustentável”, explica Letícia Zanphorlin, pesquisadora do CNPEM.
Imagem da enzima transformando óleo de milho em hidrocarboneto. As cores representam os átomos vermelho para oxigênio, azul-escuro para nitrogênio, verde-azulado para carbono e rosa para ferro
CNPEM
🛫 Similar ao petróleo
A pesquisadora conta que a enzima identificada pelo CNPEM foi descoberta em uma bactéria que tem o genoma todo registrado em um banco de informações público. A partir dele, são selecionados os genes de interesse e replicados e testados com ferramentas de inteligência artificial.
Esta enzima transforma o óleo de destilação em compostos similares ao petróleo, criando uma alternativa ao óleo mineral e, segundo Zanphorlin, pode deixar a cadeia produtiva mais sustentável e contribuir para a descarbonização do setor de transporte quando transformado em combustível.
Zanphorlin também explicou que é preciso se atentar que o combustível desenvolvido pelo CNPEM difere do biodiesel que algumas indústrias já produzem a partir do DCO, pois o produto feito com as enzimas não cristaliza em baixas temperaturas como aqueles que são derivados de óleos vegetais tradicionais.
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🌽 Milho como combustível?
A produção de etanol de milho já é consolidada nos Estados Unidos, com o óleo de destilação do etanol de milho sendo utilizado em menor escala. O Brasil recentemente vem apresentando crescimento da indústria do etanol de milho, especialmente no Centro-Oeste.
🔎 O óleo de destilação do etanol de milho do milho difere do etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, pois o primeiro tem como principal matéria-prima os lipídios, enquanto a cana utiliza os açúcares da planta.
De acordo com estimativas do CNPEM, somente no ano de 2023 foram geradas cerca de 4,3 milhões de toneladas de DCO em todo o mundo. Enquanto no Brasil, a produção anual chegou em 145,7 mil toneladas.
“De uns anos para cá, mais ou menos uns 4 ou 5 anos, o Brasil também vem investindo bastante no etanol de milho. E o que acontece? O etanol é o mesmo. Mas a sua matéria-prima de partida é diferente. A cana-de-açúcar é uma, o milho é outro”, explica.
Segundo a pesquisadora, o óleo de destilação do etanol de milho ainda possui pouco uso no mercado, podendo ser encontrado em algumas indústrias de biodiesel e sendo utilizado como suplemento na fabricação de ração animal.
Desta forma, ela aponta para um grande potencial de crescimento a partir do avanço das pesquisas e da utilização em maior escala do óleo, contribuindo, assim, para aumentar a produção de um combustível sustentável.
“Essa molécula que a gente produz hoje é um hidrocarboneto que pode ser utilizado para combustíveis de aviação, além de outros tipos de combustíveis, especialmente para aqueles utilizados em transporte de longa distância”, diz.
Plantação de milho
Fernanda Zadra
💈 Novas oportunidades
A descoberta também tem potencial de beneficiar não apenas a indústria de biocombustíveis, mas os setores químico e petroquímico. Pois os compostos gerados pela enzima podem ser usados na fabricação de plásticos, cosméticos e outros produtos industriais.
“Você conseguir obter, de forma sustentável, uma molécula que é muito parecida com a que você tem no petróleo e que pode atender diferentes setores da economia, então fica claro como isso pode ajudar no desenvolvimento econômico sustentável”, fala.
Zanphorlin conta que essa tecnologia aumenta a chance da diminuição da dependência do petróleo. No entanto, depende também de uma mudança de infraestrutura.
“Hoje a nossa sociedade não vive sem o plástico […] Você não vai ter um petróleo hoje e amanhã você vai ter o renovável. Em algum momento você vai ter a mistura dos dois e por muito tempo, provavelmente.”
🌎 Impacto ambiental
Outro ponto que ressalta como importante na sustentabilidade é que o milho que está sendo utilizado para a extração do DCO é um milho de segunda safra. “Eles chamam de safrinha essa cadeia do milho. Porque esse milho é produzido entre as safras da soja”.
“Você não está competindo com o milho da alimentação. Você está aproveitando uma questão de sazonalidade de uma cultura que é a soja. Entre as safras de soja você planta o milho e aí então você tem o etanol e esse outro coproduto”, conta.
Desta forma, explica que se trata de um produto de uma economia circular, pois diminui o desperdício e potencializa um uso sustentável dos recursos. Além de também atuar na produção de um combustível mais limpo.
“Você está tirando da atmosfera o CO2 que já é um CO2 bem mais limpo”, finaliza Zanphorlin.
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