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Segundo o “Washington Post”, o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) acessou registros restritos de funcionários do Tesouro e do Departamento de Estado, inclusive em cargos de segurança sensível. Elon Musk em discurso durante a Inauguração Presidencial de Trump, em Washington D.C.
Matt Rourke/ AP Photos
Agentes que trabalham para o bilionário Elon Musk no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) acessaram registros governamentais altamente restritos sobre milhões de funcionários federais mantidos pelo Escritório de Gestão de Pessoal, informou o jornal “Washington Post” nesta quinta-feira (6), citando quatro autoridades dos EUA com conhecimento dos acontecimentos.
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Poder de Musk preocupa
A rápida tomada de controle de duas agências do governo dos Estados Unidos por Elon Musk permitiu que o bilionário nascido na África do Sul exercesse um poder sem precedentes sobre uma força de trabalho federal de 2,2 milhões de pessoas e iniciasse uma dramática reformulação da administração federal dos EUA.
Musk, de 53 anos, o homem mais rico do mundo e aliado do presidente Donald Trump, criou em duas semanas um novo centro de poder em Washington ao colocar em prática uma iniciativa de corte de custos para reduzir o tamanho do governo norte-americano.
Presidente-executivo da Tesla e fundador da SpaceX, Musk tem agido rapidamente desde a posse de Trump em 20 de janeiro, destacando equipes de funcionários atuais e antigos de suas empresas como seus representantes.
As ações de Musk promoveram uma onda de pânico entre os funcionários do governo e protestos públicos em Washington e, às vezes, ameaçaram ofuscar a própria agenda de Trump.
Jornal revela que equipe de Elon Musk ganhou acesso a sistema do governo com dados pessoais dos americanos
A guerra comercial de Trump com os vizinhos Canadá e México disputou esta semana espaço nas primeiras páginas com o esforço de Musk para fechar a USAID, a principal agência de ajuda humanitária dos Estados Unidos para o mundo.
Os esforços de Musk fazem parte de uma reestruturação ampla do governo por parte de Trump, que demitiu e afastou centenas de funcionários públicos em suas primeiras medidas para reduzir a burocracia e colocar pessoas leais em cargos-chave.
Os norte-americanos estão testemunhando “uma extraordinária centralização de poder em alguém que não tem autorização de segurança de alto nível e não foi submetido a nenhum processo de confirmação do Senado”, disse Don Moynihan, professor da Escola de Política Pública Ford da Universidade de Michigan.
“Musk tem um controle centralizado e sem precedentes da estrututra básica do governo”, acrescentou.
No entanto, Musk opera de acordo com a vontade de Trump. O presidente disse a repórteres na segunda-feira (3) que o bilionário tinha que buscar a aprovação da Casa Branca para qualquer uma de suas ações.
“Elon não pode fazer e não fará nada sem nossa aprovação, e nós lhe daremos a aprovação quando for apropriado; quando não for apropriado, não daremos. Mas ele se reporta a nós”, disse.
Ao ser questionado sobre quem o preocupa mais quando se trata da perspectiva de ser demitido, um funcionário da Administração de Serviços Gerais, que gerencia propriedades e serviços federais, disse: “Musk. Ninguém está realmente falando sobre Trump”.
Elon Musk ao lado de Donald Trump durante comício presidencial em outubro de 2024
REUTERS/Carlos Barria
Trump colocou Musk no comando do que os dois chamam de Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês).
Apesar do nome, não se trata de um departamento, Musk não recebe salário do governo e a criação do Doge imediatamente gerou ações judiciais de sindicatos, órgãos de fiscalização e grupos de interesse público.
Não se sabe exatamente quem compõe o Doge. O governo Trump não divulgou uma lista dos funcionários do órgão. Também não informou como eles estão sendo pagos, quantos entraram em cada agência e se são funcionários do governo. Isso levanta questões sobre a quem eles devem prestar contas: a Musk ou a Trump como chefe do Poder Executivo.
Musk e seus tenentes do Doge assumiram o controle do Escritório de Gestão de Pessoal (OPM) e da Administração de Serviços Gerais (GSA), juntamente com seus sistemas de computador.
O OPM é o braço de recursos humanos do governo dos EUA, supervisionando 2,2 milhões de funcionários públicos. A partir daí, foram enviados e-mails na semana passada oferecendo aos funcionários federais incentivos financeiros para que se demitissem. A GSA supervisiona a maioria dos contratos governamentais e gerencia a propriedade federal.
Pelo menos quatro atuais e ex-assessores de Musk fazem parte de uma equipe que assumiu o controle do OPM, disseram fontes à Reuters. Musk visitou a GSA na última quinta-feira (30), disse uma autoridade, enquanto membros de sua equipe se mudavam para a agência.
Na sexta-feira (31), uma equipe de Musk obteve acesso ao sistema de pagamento do Departamento do Tesouro dos EUA, que envia mais de US$ 6 trilhões por ano em nome de agências federais e contém as informações pessoais de milhões de norte-americanos que recebem pagamentos da Previdência Social, restituições de impostos e outros recursos do governo.
Michael Linden, uma autoridade sênior durante a administração do ex-presidente Joe Biden no Escritório de Gestão e Orçamento — uma poderosa agência que supervisiona o orçamento federal — disse que o acesso dos assessores de Musk aos sistemas de pagamento lhes dá um possível poder extraordinário.
“Eles poderiam escolher quais pagamentos o governo federal fará”, disse Linden em uma entrevista.
Nem Musk nem a Casa Branca responderam imediatamente a um pedido de comentário.
Trump tem dito repetidamente que a burocracia federal está inchada, é ineficiente e precisa ser reduzida. Ele também acusa muitos funcionários federais de serem progressistas que querem frustrar sua agenda.
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Excesso de autoridade
Elon Musk, dono do X, da Tesla e da SpaceX, durante cerimônia de posse do presidente dos EUA, Donald Trump, em 20 de janeiro de 2025
Reuters/Amanda Perobelli
“Aqueles de nós que trabalharam nas empresas de Elon podem ver suas impressões digitais em tudo o que está acontecendo dentro do governo federal neste momento”, disse Thomas Moline, ex-engenheiro sênior da SpaceX.
“É um caso de muito medo, com os leais a Elon lutando para executar todos os seus caprichos e desejos o mais rápido possível.”
Especialistas em governança dizem que Musk parece já ter ido além do mandato concedido pela decreto que Trump assinou para a criação do Doge em 20 de janeiro.
Esse decreto determinou que o Doge modernizasse a tecnologia e os softwares federais “para maximizar a eficiência e a produtividade do governo”.
Outros decretos sobre congelamento de contratações e recrutamento dizem que o Doge deve trabalhar com outras agências para fazer recomendações.
Musk e seus assessores parecem estar fazendo muito mais do que simplesmente fazer recomendações.
Os funcionários do Doge entraram em conflito com as autoridades de segurança por causa do acesso a informações confidenciais na sede da USAID em Washington e estiveram fortemente envolvidos na redução do tamanho da agência.
O medo está tomando conta de muitos funcionários públicos, e eles foram para as redes sociais Reddit, Signal e Facebook para relatar o que está acontecendo dentro de suas agências e discutir como reagir.
Eles também alertam que o pessoal do Doge está colocando marcas d’água e incorporando identificadores como espaçamento adicional em e-mails para rastrear suspeitos de vazamento.
Os críticos de Musk, incluindo parlamentares democratas, o acusaram de uma tomada de poder hostil do governo. Os sindicatos de trabalhadores federais entraram com uma ação judicial para bloquear o acesso de Musk a sistemas de computador confidenciais.
Bifurcação
Trump durante entrevista à imprensa na Casa Branca
Andrew Caballero-Reynolds/AFP
Ecoando a linguagem que Musk usou quando cortou a força de trabalho do Twitter depois de comprar a empresa de mídia social em 2022, um e-mail foi enviado a todos os funcionários do governo intitulado “bifurcação na estrada” oferecendo-lhes demissão voluntária — um esquema para pagar os trabalhadores até setembro se eles se oferecessem para se demitir até 6 de fevereiro.
Um segundo e-mail incentivava os funcionários do governo a procurar empregos mais produtivos no setor privado. Os sindicatos de funcionários federais pediram aos trabalhadores que não aceitassem a oferta, alertando que ela pode não ser legal, pois não está claro como os pagamentos seriam financiados.
Os sindicatos que representam os funcionários entraram com uma ação judicial na terça-feira para bloquear o plano do governo de oferecer as demissões voluntárias, mesmo quando uma autoridade dos EUA disse à Reuters que mais de 20.000 funcionários estavam planejando se demitir.
Nick Bednar, professor associado de direito na Faculdade de Direito da Universidade de Minnesota, disse que era profundamente preocupante o fato de Musk e seus assessores terem um poder tão grande sobre os funcionários e os pagamentos federais “quando aparentemente eles têm muito pouca responsabilidade”.
Também é extraordinário que Musk, cujas empresas têm vários contratos com o governo dos EUA, tenha sido colocado em uma posição que levantaria tantas questões sobre conflitos de interesse, disse ele.
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