Condenada por estelionato contra colegas, ex-aluna da USP consegue registro de médica

Condenada por desviar quase R$ 1 milhão dos fundos arrecadados para a festa de formatura de uma turma de medicina da USP (Universidade de São Paulo), a ex-estudante da USP Alícia Dudy Muller Veiga conseguiu o registro de médica.

Alícia, de 25 anos, tem inscrição ativa e regular desde 26 de dezembro de 2024, de acordo com o site do Conselho Federal de Medicina. No documento não há uma especialidade médica registrada.
Em julho de 2024, a Justiça de São Paulo condenou Alicia Dudy Muller em primeira instância por estelionato. De acordo com as investigações, o crime foi praticado de forma continuada por oito vezes. A Justiça fixou uma pena de cinco anos de reclusão em regime semiaberto.
Alicia Muller foi acusada de desviar R$ 920 mil destinados à festa, causando prejuízo a 110 alunos. Ela era presidente da comissão de formatura da turma 106 do curso de Medicina.
Os investigadores descobriram que ela fez transferências e depósitos para ela mesma entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, com valores diferentes a cada mês. O maior deles, de R$ 604 mil
A polícia também descobriu que Alicia foi acusada por uma lotérica de tentar fazer aposta de alto valor sem fazer o pagamento. Em junho de 2022, ela tentou apostar, de uma só vez, R$ 891.530. A gerente pediu comprovante por pix, mas o valor foi de R$ 891.
Na época do escândalo, o TAB UOL ouviu representantes das empresas BRL Eventos e 2052 Produções Fotográficas sobre a expansão do segmento de festas de universitários de uma década para cá.
Segundo a BRL, as turmas fazem uma espécie de concorrência na tentativa de promover a melhor festa. E isso acaba envolvendo muito dinheiro.
Se antes os alunos alugavam um espaço e chamavam no máximo uma banda ou um DJ, agora eles querem festejar em lugares bem mais amplos e chamando atrações badaladas, pagando cachê pela apresentação. Para isso, vendem ingressos para a celebração.
Por isso, até pavilhões de eventos, como o Expo Center Norte e São Paulo Expo, em São Paulo, são disputados pelos formandos. Lugares imensos onde eles acabam gastando muito com aluguel de mobiliário e decoração.
As comidas, atualmente, ficam em buffet aberto, com separação por itens da preferência dos convidados (regional, vegetariano, japonês, etc). As bebidas incluem marcas importadas de gim, vodka e uísque.
O TAB UOL ouviu a Associação Brasileira de Empresas de Formatura e Afins, que estimou em R$ 1 milhão a R$ 3 milhões os gastos com uma formatura no modelo atual desejado pelos formandos.
Segundo a associação, cerca de 5 mil festas de formatura são realizadas a cada ano no Brasil. A associação estima que os eventos movimentem, ao todo, cerca de R$ 7 bilhões ao ano, gerando 6,5 milhões de empregos diretos.
Para efeito de comparação, a indústria automobilística gera 421 mil empregos no Brasil.
São 200 associados. Mas a entidade estima que haja 1.500 empresas de promoção de formaturas, entre outros eventos, no Brasil. Só em 2022, o Procon de SP recebeu 332 reclamações de consumidores contra empresas de formatura.
Medicina é o curso mais disputado entre as empresas especializadas nas festas de formatura. O preço pode chegar a R$ 11 mil por formando. E este valor alcança R$ 35 mil quando a universidade é privada.
Outro caso parecido aconteceu em Maringá, no Paraná, onde mais de 100 alunos de uma universidade particular denunciaram que foram lesados por uma empresa e ficaram sem a festa de formatura.
Um jantar encomendado deu problemas, segundo os alunos, porque houve atraso e descumprimento de vários itens. Na véspera do baile, tudo foi retirado do salão e a festa melou. A justiça autorizou bloqueio de R$ 3 milhões da empresa, que alegou não ter recebido os valores combinados pelos estudantes.
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