Câncer do colo de útero: diagnóstico cresce mais de 50% em um ano na Santa Casa de Piracicaba; entenda cenário


Informação, maior acesso aos serviços de saúde, vacinação contra o HPV e campanhas preventivas podem reduzir os números da doença, alerta oncologista da unidade. Câncer de colo de útero é a quarta causa de morte por câncer em mulheres no país.
Reprodução/Freepik
O Centro do Câncer da Santa Casa (Cecan) de Piracicaba registrou 48 novos casos de câncer de colo de útero entre mulheres na faixa etária dos 48 aos 51 anos. No ano anterior, foram 32 ocorrências na unidade, segundo levantamento enviado pelo hospital a imprensa. Os números apontam alta de 50% nas notificações no período.
O crescimento é significativo e merece atenção, alerta o oncologista Fernando Medina, diretor do Cecan. As causas para essa elevação ainda estão sendo investigadas, mas alguns fatores podem ter contribuído, como:
baixa adesão à vacinação contra o HPV. A vacina altamente eficaz na prevenção do câncer de colo do útero
redução na realização do exame preventivo (Papanicolau) nos últimos anos devido também à pandemia da Covid-19
falta de acesso aos serviços de saúde e desinformação e diagnóstico tardio, o que diminui as chances de cura e aumenta a mortalidade.
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Oncologista revela que este cenário pode gerar maior demanda por serviços de oncologia, radioterapia, leitos hospitalares e equipe especializada.
Oncologista Fernando Medina alerta para importância da vacinação contra HPV
Santa Casa de Piracicaba/Reprodução
Janeiro verde
“Por isso, o Janeiro Verde é tão crucial. Ele tenta conscientizar a população sobre o câncer de colo do útero, um problema de saúde pública que afeta milhões de mulheres no mundo todo e cuja solução está na informação para prevenção e diagnóstico precoce, aumentando consideravelmente as chances de cura”, afirmou.
Ainda conforme observa o médico, a média de idade das pacientes atendidas no Cecan está consistente com os padrões nacionais e internacionais.
No entanto, o oncologista faz alerta para a importância de avaliar se este aumento se deve à maior eficiência na detecção da doença, à melhora no sistema de registro dos casos, ao aumento real de casos ou à possível subnotificação da doença no ano anterior.
Considerando que o sistema de atendimento à saúde se manteve o mesmo, Medina acredita que os números atuais possam decorrer de um possível atraso diagnóstico durante períodos anteriores, da maior conscientização da população sobre a necessidade de rastreamento ou ainda da maior efetividade dos programas de rastreamento do câncer de colo uterino na atenção básica.
“Há necessidade de avaliar as características socioeconômicas da cidade, inserida em uma das regiões mais desenvolvidas do Brasil, com maior acesso à informação e aos serviços de saúde na região, o que amplia a capacidade de diagnóstico precoce da doença”, explica o médico.
Segundo ele, o controle e prevenção da doença exigem a análise de todos os aspectos de sua ocorrência, pois o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres no Brasil e o quarto mais comum na população feminina do mundo todo, à exceção de países desenvolvidos, onde a incidência tende a ser menor devido à programas de rastreamento mais efetivos.
Anos anteriores
Os diagnósticos de câncer do colo de útero aumentaram em 30% na Unidade Oncológica da Santa Casa de Piracicaba (SP) entre 2021 e 2023. Segundo médica oncologista Mary da Silva Thereza, Em 2024, o tumor repondia por 9,5% de todos os casos de câncer tratados na instituição de saúde.
Em pouco mais de duas décadas, entre 2002 e 2023, o Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba, que também é referência em oncologia na região, a incidência de casos de tumores malignos no colo de útero aumentou em 23% no período, apontou a médica.
HPV e o câncer do colo de útero
A principal causa do câncer do colo de útero é a infecção persistente do Papilomavírus Humano, mais conhecido como HPV.
Por isso, a vacina contra o vírus HPV é a medida mais eficaz contra o desenvolvimento da doença, com 90% de proteção, garante a especialista. – Saiba mais e entenda por que, abaixo, na reportagem.
Oncologista Mary Thereza também chama atenção para o sexo seguro como forma de evitar a contaminação pelo Papilomavírus Humano
Santa Casa de Piracicaba/Reprodução
Segundo ela, 99% dos casos de câncer de colo do útero são causados pela infecção persistente do Papilomavírus Humano, mais conhecido como HPV.
“A principal via de contágio com o HPV é a sexual, de forma que o uso de preservativo é fundamental para diminuir o risco de transmissão e infecção”, disse a oncologista Mary da Silva Thereza.
🦠O que é o HPV?
O HPV é uma infecção sexualmente transmissível (IST) comum, que acomete cerca de 54,6% dos jovens entre os 16 e 25 anos, podendo causar alterações nas células do colo de útero.
“É imprescindível prevenir a infecção pelo vírus e evitar os casos graves”, disse Mary Thereza.
👩‍🦰📝Quais são os principais sintomas da doença?
O câncer do colo de útero apresenta como principais sintomas:
corrimentos
dores na região pélvica
sangramentos irregulares durante e após as relações sexuais
📃🩺Qual exame deve ser feito para diagnóstico do câncer de colo de útero?
Segundo a oncologista, é possível detectar lesões pré-cancerosas durante a realização do exame preventivo Papanicolau, que deve ser realizado periodicamente, pois quando a doença é detectada no início, ela pode ser curada na maioria dos casos. Exames de rotina devem ser feitos por mulheres a partir do início da vida sexual.
💉A quem é indicada a vacina contra o HPV?
A vacina contra o HPV está inserida no calendário nacional de imunização e é indicada para meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade e meninos de 9 a 14 anos.
A vacina é ofertada gratuitamente nas unidades de saúde para meninas de 9 a 14 anos de idade, em duas doses, com intervalo de seis meses entre elas.
🦠Quantos tipos de HPVs existem? Todos podem causar câncer de colo de útero?
A oncologista explica que existem mais de 200 tipos de HPVs conhecidos, sendo dois deles, o HPV nº16 e o HPV nº 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo de útero; embora outros tipos também aumentem os riscos da doença em menor grau.
📈Qual o grau de proteção da vacina contra o HPV?
De acordo com a médica, a vacina é uma das medidas mais eficazes para prevenir o câncer do colo de útero. “Ela é segura e eficaz e pode prevenir a infecção por HPV e o desenvolvimento de lesões pré-cancerosas, podendo chegar a mais de 90% de proteção contra os cânceres ligados ao HPV, principalmente quando tomada antes da primeira relação sexual”, disse.
⚠️Além da vacina, quais outras formas de prevenção?
“Como a proteção não é 100%, os exames preventivos devem continuar mesmo após a vacina, pois ela não trata as doenças causadas pelo HPV e já instaladas, mas pode proteger contra doenças contemplados pela vacina que ainda não tenham infectado a paciente”, explica.
A oncologista Mary Thereza também chama atenção para o sexo seguro como forma de evitar a contaminação pelo Papilomavírus Humano
💉Vacinas: baixa adesão
A adesão à vacinação, entretanto, ainda é baixa no Brasil. Segundo a oncologista, em 2021, apenas 60% das meninas na faixa etária dos 14 anos e 35% dos meninos estavam vacinados com as duas doses, quando o ideal seria manter essa taxa em 80%.
“A baixa adesão é explicada pela falta de informação e conscientização sobre a importância da vacina; crenças equivocadas de que a vacina estimula a promiscuidade sexual; e dificuldade de acesso à vacina devido a não oferta em todas as unidades de saúde”, avaliou a oncologista.
80% das mulheres entrarão em contato com HPV
Para aumentar a adesão, ela sugere a intensificação de campanhas, a desmistificação de crenças e garantia de que a vacina esteja disponível nas unidades de saúde.
Mary Thereza revela que cerca de 80% das mulheres sexualmente ativa entrarão em contato com o HPV ao longo da vida, sendo que pelo menos 5% delas vão desenvolver o tumor maligno em um prazo de dois a dez anos.
“A maioria das infeções, entretanto, é transitória e o sistema imunológico é capaz de eliminá-la”, explica.
Brasil
No Brasil como um todo, o câncer do colo de útero sofreu aumento de 25% entre os anos de 2023 e 2024, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Ele finaliza, ressaltando ser crucial que a população seja informada sobre a importância da vacina e do exame preventivo, que o acesso aos serviços de saúde seja ampliado, garantindo que todas as mulheres tenham acesso à vacinação e ao exame preventivo; e que campanhas de conscientização, como o Janeiro Verde, sejam intensificadas.
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