Os irmãos, de 32 e 38 anos, acusados de uma chacina em Campo Erê, no Oeste de Santa Catarina, foram condenados a 240 anos de prisão cada um no júri que terminou na noite de terça-feira (15).
Além da prisão, eles deverão indenizar em R$ 100 mil os familiares de cada vítima morta, em 50 mil cada uma das três vítima viva com ferimento e em 20 mil as três que não tiveram ferimentos.
A sessão começou na manhã de segunda-feira (13) e foi marcada pela presença de um forte esquema de segurança e pela emoção das pessoas que acompanharam todo o julgamento.
Conforme o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), foram dois de trabalho em que foram ouvidos os relatos de nove testemunhas, entre elas, as vítimas que sobreviveram ao ataque.
Irmãos condenados por quatro homicídios
Os dois homens foram condenados por quatro homicídios e seis tentativas, todos qualificados por motivo fútil, perigo comum e recurso que dificultou a defesa das vítimas.
Para duas filhas de uma das vítimas que sobreviveu à chacina em Campo Erê, que acompanharam de perto o julgamento, o sentimento é de que finalmente a justiça foi feita.
“Ver os culpados sendo responsabilizados nos dá um pouco de paz e alívio”, disse Rosinha Aparecida dos Santos.
Para Rosemira dos Santos, foi muito difícil reviver tudo durante o julgamento. “Mas foi necessário para que a verdade fosse mostrada. Esperamos que este caso sirva de exemplo, para que nenhuma família tenha que passar pelo que passamos”, conclui.
A Promotora de Justiça Susane Ramos destacou que o julgamento representa uma vitória da sociedade contra a impunidade. “Nossa atuação neste caso teve como objetivo honrar a memória das vítimas e dar voz às famílias que clamam por justiça”, completa.
Ainda, Ramos espera que o desfecho não traga apenas a sensação de justiça, mas também um alerta para que atrocidades como essa jamais se repitam.
“Trabalhamos com dedicação para garantir que os responsáveis por esse ato bárbaro fossem responsabilizados, mostrando que o direito à vida é inegociável”, descreve.
Já o Promotor de Justiça José da Silva Júnior explica que o julgamento encerra um capítulo crucial para a busca por justiça. “”Este júri representa não apenas a resposta do sistema às graves violações cometidas, mas também uma mensagem clara de que a sociedade não aceita a banalização da vida”, aponta.
Relembre os detalhes da chacina em Campo Erê
Na noite de 21 de janeiro de 2023, por volta das 20h50, na Linha Doze de Novembro, interior do município, os condenados foram até um bar local e mataram a proprietária e a filha dela.
Na sequência, na residência aos fundos do bar, os homens mataram mais duas pessoas, dentre as vítimas um idoso de 63 anos. Outras seis pessoas estavam no local, mas sobreviveram ao ataque.
As vítimas de homicídio foram: Carlos Delfino dos Santos, 63 anos, natural de Saudades; Emídia dos Santos, 53 anos, natural de Campo Erê; Marinalva dos Santos, 18 anos, filha de Emídia; e Ana Cláudia Schultz, 35 anos, natural de Saltinho.
O MPSC destacou na denúncia que as vítimas foram surpreendidas por um ataque violento e inesperado, sem chance de defesa. Os disparos foram feitos em uma área densamente povoada, colocando várias pessoas em risco.
A motivação dos crimes foi vingança pelo suicídio do irmão dos acusados, que tinha ocorrido na tarde do mesmo dia, cuja culpa os réus atribuíram à esposa deste. O objetivo do ataque era matar a cunhada, mas como ela não estava no local.
Cabe recurso da sentença, mas a Justiça negou aos réus o direito de recorrerem em liberdade.
Vizinho ouviu tiros
“Fui pegar uma caixa de cerveja no freezer e quando coloquei a chave na porta [do mercado] para abrir escutei o tiroteio. Me assustei, porque aqui, que a gente soubesse, ninguém tinha inimizade”. O relato é do comerciante Gonçalves da Silva, que ouviu os tiros da chacina.
O comerciante tem um mercado ao lado do bar e da casa onde tudo aconteceu. Ele conta os momentos de tensão que viveu. Pouco antes do tiroteio iniciar, ele estava no bar jogando truco, mas resolveu ir para casa.
“Parece que alguma coisa me avisou. Tive um sentido espiritual de sair e vim para casa. Talvez, pudesse ter sido atingido também (sic)“, comenta Gonçalves.
Ele era vizinho das vítimas e afirma que todos eram boas pessoas. A convivência era harmônica e, muitas vezes, eram os primeiros clientes do dia no mercado. Ao ouvir os tiros, pediu para que a esposa não saísse de casa e ambos se esconderam com medo de uma bala perdida.
“Foi assustador. Foi bastante tiro, de revólver, de 12. Nunca vimos uma coisa dessas”, afirma o vizinho sobre a chacina em Campo Erê.