Filme contou com a supervisão artística de Daniel Rezende, diretor de ‘Turma da Mônica: Laços’ e ‘Lições’. Influenciador Isaac Amendoim é o grande destaque do elenco como o protagonista. Depois que os personagens consagrados de Maurício de Sousa ganharam três adaptações para o cinema, com duas obras bem sucedidas (“Turma da Mônica: Laços” e “Turma da Mônica: Lições”) e outra que ficou muito abaixo do esperado (“Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo”), chegou a vez do universo rural do escritor e desenhista ganhar as telas com “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” — não, o título não está escrito errado. É assim mesmo.
O filme, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (9), transpõe as histórias estreladas pelo caipira mais conhecido dos quadrinhos brasileiros de forma alegre e muito divertida. O longa não deve ter problemas para conquistar tanto o público infantil quanto o adulto, que certamente vai curtir o bom ritmo do humor interiorano e as atuações do elenco. Mesmo quem não tem (ou tinha) o hábito de ler um gibi.
A história acompanha a vida de Chico Bento (Isaac Amendoim) na fictícia cidade de Vila Abobrinha. Esperto e bom contador de “causos”, Chico passa os dias se dividindo entre as aulas da Dona Marocas (Débora Falabella), brincar com os amigos e, principalmente, pegar as goiabas que nascem da “goiabeira maraviosa” que fica nas terras do rabugento Nhô Lau (Luis Lobianco).
Assista ao trailer do filme “Chico Bento e a goiabeira maraviosa”
Um dia, Chico descobre que o coronel Dotô Agripino (Augusto Madeira) e seu filho Genesinho (Enzo Henrique) têm um plano de inaugurar uma estrada que derrubaria a goiabeira do fazendeiro. Desesperado pela possível perda, Chico junta seus amigos Zé Lelé (Pedro Dantas), Rosinha (Anna Julia Dias), Tábata (Lorena de Oliveira), Hiro (Davi Okabe) e Zé da Roça (Guilherme Tavares) para salvá-la e impedir que a região seja afetada pelo “progresso”.
Nasce uma (pequena-grande) estrela
O que torna “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” realmente acima da média é mesmo a grande revelação que é Isaac Amendoim. O menino de (atualmente) 10 anos de idade já fazia sucesso na internet com seus vídeos mostrando sua vida no interior de Minas Gerais e se mostra a escolha perfeita para viver o protagonista.
Com muito carisma e um timing perfeito para o humor, o jovem ator rouba todas as cenas em que aparece. Já na sequência de abertura, é impossível não notar o talento que ele tem, mostrando muita espontaneidade diante das câmeras e um estilo bem natural de dizer suas falas.
Lorena de Oliveira (Tábata), Pedro Dantas (Zé Lelé), Isaac Amendoim (Chico Bento), Anna Julia Dias (Rosinha) , Guilherme Tavares (Zé da Roça) e Davi Okabe (Hiro) fazem parte de ‘Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa’
Fábio Braga/Divulgação
Além disso, Isaac mostra uma boa química com o elenco, em especial com Lobianco. As cenas do fazendeiro tentando proteger a sua goiabeira do pequeno caipira são hilárias e é uma pena que eles não interajam por mais tempo no filme. Se tivesse mais momentos só dos dois atuando juntos, já valeria a pena.
O restante do elenco mirim também ganha espaço para exibir suas qualidades, como Pedro Dantas, que diverte com a ingenuidade do Zé Lelé, o braço direito de Chico. Anna Julia Dias passa bem a doçura e a leveza da Rosinha, além de ter muita sintonia com Isaac Amendoim. Os outros membros da turma funcionam bem, mesmo sem grandes cenas.
Entre os adultos do filme, Débora Falabella está idêntica à Professora Marocas dos quadrinhos e conquista pela simpatia com que trata seus alunos. Luis Lobianco também se destaca com o tom engraçado que coloca em seu Nhô Lau, assim como Augusto Madeira, como o vilão cheio de segundas intenções.
Isaac Amendoim interpreta famoso personagem de Mauricio de Sousa em ‘Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa’
Fábio Braga/Divulgação
Humor caipira e moleque
“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” não tem conexões com os filmes anteriores da Turma da Mônica. E nem precisa, já que o universo caipira criado por Mauricio de Sousa tem força suficiente para se desenvolver e mostrar boas histórias.
Um dos principais motivos é a direção de Fernando Fraiha (“Bem-Vinda, Violeta”), muito boa em criar graça com cenas tão divertidas que já fazem rir bastante nos primeiros minutos de projeção, com um bom ritmo até o final.
O cineasta demonstra que consegue conduzir bem tanto o elenco infantil quanto o adulto, fazendo com que tudo entre em sintonia e mantenha a diversão em alto nível.
O roteiro escrito por Fraiha, Elena Altheman e Raul Chequer capta muito bem o clima das historinhas de Chico Bento, com piadas que fazem o espectador manter o sorriso durante boa parte do filme e deixa que os personagens sejam realmente cativantes.
Chico Bento (Isaac Amendoim) e Zé Lelé (Pedro Dantas) pescam numa cena de ‘Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa’
Divulgação
Os roteiristas também foram felizes em adicionar uma mensagem ecológica (que também faz parte de várias histórias do personagem) sem soar forçada ou piegas no meio do entretenimento, que pode fazer muita criança se preocupar com o meio ambiente.
Outro aspecto a destacar do filme é a boa utilização dos efeitos visuais, especialmente numa sequência em que a atriz Taís Araújo faz uma participação especial como uma personagem inusitada que, se contar a sua identidade, perde um pouco da surpresa. Mas dá para revelar que esse momento da trama, além de inesperado, cumpre o papel de causar encantamento para o público. A fotografia com cores quentes também se sobressai no longa e reforça o clima de quadrinhos.
O mérito de “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” ser bem sucedido em seu objetivo também tem o dedo de Daniel Rezende. Diretor de “Turma da Mônica: Laços” e “Turma da Mônica: Lições”, Rezende, que já tinha trabalhado com Frahia em seus filmes, aparece aqui creditado como contribuidor artístico e ajudou a manter a boa qualidade que já tinha sido vista nas outras adaptações. O resultado é uma obra divertida, graciosa e com cara de Brasil, o que é ótimo.
“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” é um excelente começo para uma nova série de filmes sobre o personagem alegre e caipirão que faz gerações de brasileiros curtirem seus quadrinhos. Num ano em que o cinema nacional parece ter reencontrado seu público, a chegada de Chico e seus amigos à telona é muito mais que bem-vinda. E que venham mais “causos” tão gostosos quanto pegar fruta no pé.
Cartela resenha crítica g1
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