José Alceu, o produtor rural de MS que contracenou com Ney Latorraca em uma fotonovela nos anos 70


O ator Ney Latorraca morreu na manhã de quinta-feira (26), em decorrência de uma sepse pulmonar. Alceu e Ney contracenaram juntos na fotonovela “Eco de Paixões”, que narrava a história de um empresário dividido entre o amor pela ex-esposa e a dor de sua ausência. Despedida de Ney Latorraca: Alceu Cabral conviveu e trabalhou com o ator e diretor no Rio
Quando se pensa em grandes nomes da dramaturgia brasileira, Ney Latorraca é uma figura que sempre se destaca. Mas poucos sabem que, entre as histórias de sua carreira, está a participação em uma fotonovela ao lado de José Alceu da Silva Cabral, hoje um produtor de queijo de Mato Grosso do Sul. Essa conexão improvável entre a vida artística e o campo começou na década de 1970, quando Alceu decidiu ir atrás do sonho de ser ator.
José iniciou sua trajetória artística em Campo Grande, participando de peças de teatro amador. Ele compartilhou os primeiros palcos com Almir Sater, hoje renomado músico sul-mato-grossense, em um espetáculo realizado em 1977.
Fotonovela “Eco de Paixões”.
Reprodução
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Após a montagem da peça, os amigos seguiram caminhos diferentes: enquanto Almir foi para São Paulo para se dedicar à música, Alceu partiu para o Rio de Janeiro em busca de seu lugar no universo das artes cênicas.
No Rio, ele teve aulas no renomado Teatro Tablado, sob a orientação de Maria Clara Machado, e rapidamente conquistou espaço na televisão e no teatro. Além disso, foi selecionado para atuar em novelas e, como era comum na época, também estrelou diversas fotonovelas para revistas de grande circulação. Foi nesse contexto que ele conheceu Ney Latorraca.
Uma parceria marcante: “Eco de Paixões”
Alceu e Ney contracenaram juntos na fotonovela “Eco de Paixões”, que narrava a história de um empresário dividido entre o amor pela ex-esposa e a dor de sua ausência. Alceu relembra o trabalho com carinho: “O Ney era uma pessoa extraordinária, muito generoso em cena. Ele nunca tentava brilhar sozinho, era um verdadeiro companheiro.”
As fotonovelas eram populares na época, com produções semanais ou quinzenais que movimentavam o mercado editorial. “A convivência com Ney foi incrível. Ele tinha aquele humor característico, era brincalhão, cheio de energia. Não era difícil perceber que ele estava destinado ao sucesso.”
Uma carreira reconhecida e o retorno a Campo Grande
José Alceu, nos anos 70 e atualmente.
Reprodução
Durante sua carreira artística, Alceu conquistou prêmios como melhor ator e diretor. Ele também participou ativamente da regulamentação da profissão de ator, um marco histórico nos anos 70 e 80, quando a categoria passou a ser reconhecida oficialmente.
Apesar do sucesso, Alceu tomou a decisão de voltar para Campo Grande para cuidar dos pais idosos. Ao retornar, encontrou pouco incentivo ao teatro e cultura na região e passou a oferecer cursos gratuitos de artes cênicas.
“Era meu desejo formar talentos e incentivar a arte aqui no estado. Muitos dos meus alunos seguiram carreiras artísticas e hoje levam o nome de Mato Grosso do Sul para outras partes do Brasil.”
Atualmente, José é um produtor rural de destaque em Mato Grosso do Sul. Ele é proprietário da primeira propriedade brasileira com produção de baixo carbono e é conhecido pelo queijo mais famoso do estado. “Embora tenha seguido um caminho diferente, a arte sempre esteve presente na minha vida. Ela moldou quem eu sou.”
Ao refletir sobre a morte de Ney Latorraca, Alceu se emociona.
“É triste perder alguém tão especial. Quando recebi a notícia, foi como se uma enxurrada de memórias voltasse: as gravações, as risadas, o talento incrível que ele tinha. Ney foi um ser humano único e um grande amigo.”
Para o público, Alceu deixa uma mensagem: “Quem viveu para ver Ney Latorraca em cena teve o privilégio de presenciar um artista brilhante e uma pessoa incrível. Ele era generoso, carismático e inesquecível.”
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