Estudante baleada pela PRF tem leve melhora, mas quadro segue gravíssimo, diz hospital


Para o diretor do hospital Adão Pereira Nunes, ainda não é possível saber quais poderão ser as sequelas deixadas pelos ferimentos. Agentes da PRF prestaram depoimento na corregedoria da Polícia Rodoviária Federal nesta sexta-feira. Radiografia mostra parte da cabeça de Juliana atingida pela bala
Reprodução/TV Globo
O diretor do hospital Adão Pereira Nunes afirmou nesta sexta-feira (27) que houve uma leve melhora no estado de saúde Juliana Leite Rangel, a jovem baleada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na véspera de Natal. Apesar disso, o quadro ainda é considerado gravíssimo.
“Ontem foi feita tomografia de controle após 40h de internação, a gente viu leve diminuição do edema, a parte de inchaço da cabeça”, afirmou o diretor da unidade, Thiago Resende.
“É um caso extremamente grave, está com sinais vitais preservados, ou seja, frequência cardíaca saturação, e na verdade ela está grave porque a gente está mantendo sinais vitais preservados com medicações importantes”, acrescentou Resende, que mostrou tomografias que retratam a trajetória do projétil que atingiu Juliana.
Para o diretor da unidade, ainda não é possível saber quais poderão ser as sequelas deixadas pelos ferimentos.
“O projetil transfixou a estrutura óssea, o impacto, a energia mecânica foi para toda parte do cérebro. Isso causou um grande edema, então as sequelas futuras somente saberemos depois que a paciente for extubada e melhorar o quadro clínico dela”, disse o médico.
Os agentes da Polícia Rodoviária Federal que estavam na ocorrência em que Juliana foi baleada prestaram depoimento nesta sexta na corregedoria da PRF.
Todos estão proibidos de atuar em operações por tempo indeterminado. As armas e a viatura usadas na ação já foram recolhidas para a perícia.
Leia na íntegra a nota atualizada do hospital, das 18h desta sexta-feira (27):
“A Prefeitura de Duque de Caxias, através da Secretaria Municipal de Saúde e direção do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), informa que a paciente Juliana Leite Rangel, 26 anos, que deu entrada na unidade na noite do dia 24/12/2024, vítima de lesão por arma de fogo (PAF) na região do crânio, mantém o quadro gravíssimo.
A paciente segue internada no CTI da unidade, entubada e acompanhada pelo serviço de neurocirurgia, em conjunto com equipe multidisciplinar.
A direção do HMAPN informa ainda que, ao dar entrada na unidade, a paciente foi entubada e encaminhada diretamente para o centro cirúrgico, onde passou por procedimento, sem intercorrências. Esclarece também que, no momento, a paciente permanece totalmente sedada, ainda sem condições de redução da sedação ou avaliação de estímulos neurológicos. Na manhã do dia 26/12, foi retirado o dreno colocado durante a cirurgia. A tomografia feita após a retirada do dreno apresentou boa resposta ao procedimento cirúrgico realizado. A paciente está sem o dreno há mais de 24 horas, sem piora, e mantendo quadro neurológico inalterado, o que, neste momento, é o esperado.”
‘Eles saíram atirando’
‘Eles deram tiro para matar a família inteira’, diz mãe de jovem baleada pela PRF
A mãe de Juliana contou como foi o momento da abordagem:
“Eles saíram atirando no carro. Não pediram para a gente parar nem um minuto e saíram dando tiro no carro”, disse Dayse Leite Rangel.
“Eles deram tiro para matar a família inteira, direcionada na cabeça do meu marido. Tanto que acertou a cabeça da minha filha, que estava atrás dele.”
Alexandre Rangel, pai de Juliana, afirmou que pensou que ninguém sobreviveria. “Eu falei para ela [Dayse]: ‘Nós vamos morrer, é o nosso fim’. Mesmo o carro parado, continuaram atirando”, lembrou.
A mãe torce para que a filha melhore ao sair do hospital. “Estou pedindo a Deus pra que ela saia sem sequela nenhuma”, afirmou.
Reação com a irmã
‘Orem por ela’, diz irmã de jovem baleada durante abordagem da PRF em rodovia do RJ
Nesta quinta-feira, a irmã de Juliana contou que conseguiu falar algumas palavras para a vítima e que os batimentos cardíacos dela aceleraram.
“Falei umas palavras lindas para a minha irmã, coisas positivas: ‘Deus vai te tirar dessa minha irmã, você tem um coração lindo, as pessoas amam tanto você. Deus vai te tirar dessa, tenho fé. E o batimento dela subiu. O médico falou que ela estava me ouvindo. Isso me deu uma esperança, meu coração ficou um pouquinho aliviado. Mas a médica falou que é grave. Por isso gente, eu peço muita oração pela Juliana, orem por ela”, suplicou Jéssica Rangel.
Juliana estava com os pais a caminho da casa de Jéssica, em Niterói, para a Ceia de Natal, quando o carro da família foi alvo de diversos disparos na BR-040, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
O Ministério Público Federal abriu uma investigação sobre o caso. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, condenou a ação.
Juliana Leite Rangel, de 26 anos, foi baleada na BR-040
Reprodução/TV Globo
Segundo a mãe da moça, houve demora no socorro. “Eles não socorreram ela. Quando eu olhei eles estavam deitados no chão batendo no chão com a mão na cabeça. E eu falei: ‘Não vão socorrer não?’, questionou a mãe da jovem.
Dayse Rangel disse que quando viu os policiais, a família chegou a abrir passagem para a chegada deles ao carro, mas os agentes federais só atiraram.
“A gente até falou assim: “vamos dar passagem para a polícia”. A gente deu e eles não passaram. Pelo contrário, eles começaram a mandar tiro para cima da gente. Foi muito tiro, gente, foi muito tiro. Foi muito mesmo. E aconteceu que, quando a gente abaixou, mesmo abaixando, eles não pararam e acertaram a cabeça da minha filha”.
Como foi o caso
Alexandre Rangel, pai da jovem, contou o que aconteceu:
“Vinha essa viatura, na pista de alta (velocidade). Eu também estava. Aí, liguei a seta para dar passagem, mas ele em vez de passar, veio atirando no carro, sem fazer abordagem, sem nada. Aí falei para minha filha ‘abaixa, abaixa, no fundo do carro, abaixa, abaixa’. Aí eu abaixei, meu filho deitou no fundo do carro, mas infelizmente o tiro pegou na minha filha”.
Em depoimento, policiais da PRF reconhecem que atiraram em carro de jovem no Rio
A patrulha da PRF era formada por dois homens e uma mulher. Todos foram afastados preventivamente das funções. O caso também é investigado pela Polícia Federal.
Os agentes usavam dois fuzis e uma pistola automática, que foram apreendidos. Em depoimento, os agentes reconheceram que atiraram contra o carro. Eles alegaram que ouviram disparos quando se aproximaram do veículo e deduziram que vinha dele.
“Na hora, eu pensei que fosse bandido. Eu pensei que era bandido com carro da polícia atirando em mim porque pensei que um policial não iria fazer isso. Eles desceram falando: ‘você atirou no meu carro por quê?’ ‘Eu falei: ‘nem arma eu tenho, como é que eu atirei em você?'”, explicou.
Vitor Almada, superintendente da PRF no RJ, disse que, em depoimento, os policiais alegaram que ouviram disparos quando se aproximaram do carro, deduziram que vinha dele, mas depois descobriram que tinham cometido um grave equívoco.
Nota da PRF
“Na manhã desta quarta-feira (25), a Corregedoria-Geral da Polícia Rodoviária Federal, em Brasília/DF, determinou abertura de procedimento interno para apuração dos fatos relacionados à ocorrência da noite de ontem, na BR-040, em Duque de Caxias/RJ. Os agentes envolvidos foram afastados preventivamente de todas as atividades operacionais.
A PRF lamenta profundamente o episódio. Por determinação da Direção-Geral, a Coordenação-Geral de Direitos Humanos acompanha a situação e presta assistência à família da jovem Juliana.
Por fim, a PRF colabora com a Polícia Federal no fornecimento de informações que auxiliem nas investigações do caso.”
Nota da PF
“A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar os fatos relacionados à ocorrência registrada na noite desta terça-feira (24/12), no Rio de Janeiro, envolvendo policiais rodoviários federais.
Após ser acionada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), uma equipe da Polícia Federal esteve no local para realizar as medidas iniciais, que incluíram a perícia do local, a coleta de depoimentos dos policiais rodoviários federais e das vítimas, além da apreensão das armas para análise pela perícia técnica criminal.”
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