O preço do diesel exerce uma influência considerável no setor de transporte rodoviário, afetando desde os custos operacionais das transportadoras até os preços finais dos produtos.
De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia 2031, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a produção nacional de óleo diesel A (S10 e S500) deverá apresentar crescimento limitado até 2031, e o Brasil permanecerá como importador líquido durante todo o período do estudo.
O preço internacional do petróleo (Brent) é mencionado como um dos fatores que influenciam a cadeia de derivados, incluindo o diesel.
O custo de produção e os desafios de infraestrutura logística e refino (necessidade de unidades de hidrorrefino e geração de hidrogênio) podem impactar os preços do diesel no mercado interno.
A variação nos valores pode também ter consequências na rentabilidade das empresas de transporte e, consequentemente, os preços que os consumidores pagam pelos produtos. Portanto, compreender essa relação é primordial para analisar as tendências do mercado e as estratégias que podem ser adotadas para mitigar esses impactos.
Cenário atual do preço do diesel no Brasil
Em novembro de 2024, o preço médio do diesel comum e do S-10 atingiu níveis recordes, conforme o Índice de Preços Edenred Ticket Log (IPTL). Ele fechou a R$ 6,15, com um aumento de 0,65% em relação a outubro, enquanto o S-10 subiu 0,49%, alcançando R$ 6,217.
Segundo estimativa da Petrobrás, o preço médio do diesel no Brasil está a R$ 6,10 na primeira semana de dezembro. Na região Sul, em Santa Catarina, o valor é de R$ 6,06. No Paraná, é de R$ 6,08. No Rio Grande do Sul, é de R$ 6,11.
Esse cenário é influenciado por diversos fatores, como o valor do barril de petróleo no mercado internacional e as políticas de preços da Petrobras.
De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia 2034, a demanda global por petróleo aumentou após a retomada econômica e o relaxamento das restrições causadas pela COVID-19, especialmente na China, o que pode ter contribuído para a alta dos preços.
Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus parceiros (Opep+) implementaram cortes significativos na produção para equilibrar o mercado e sustentar os preços.
O relatório aponta que o conflito entre Rússia e Ucrânia e as sanções impostas à Rússia, além das tensões no Oriente Médio, reduziram a oferta global, causando volatilidade e pressão nos preços.
A saturação da capacidade mundial de refino e o desequilíbrio entre oferta e demanda de derivados, como o diesel, também elevaram os preços.
As empresas do setor estão enfrentando desafios. A resposta para esses obstáculos pode estar em estratégias como a adoção de tecnologias mais eficientes e a busca por fontes alternativas de energia.
Impactos no setor de transporte rodoviário
O preço do diesel e seus efeitos são evidentes em diferentes áreas do transporte rodoviário, como custos logísticos, competitividade e rentabilidade das transportadoras. Os próximos tópicos demonstram como o custo do combustível influencia o desempenho do setor.
Custos logísticos e fretes
O aumento do preço do diesel resulta em elevações diretas nos custos logísticos. Os transportadores precisam ajustar suas tarifas de frete para manter a viabilidade financeira. Isso leva a um aumento nos preços dos produtos transportados.
Custos de operação incluem manutenção, salários e taxas. A pressão constante sobre esses custos pode forçar as empresas a repassá-los ao consumidor final.
As empresas que não conseguem ajustar suas tarifas podem enfrentar dificuldades financeiras. Isso pode levar à redução da frota ou, em último caso, até à falência. Logo, a relação entre o preço do diesel e os custos logísticos é direta e preocupante.
Competitividade das empresas
Com o aumento dos custos, a competitividade entre as empresas de transporte rodoviário se torna desafiadora. Aqueles que conseguem otimizar suas operações podem manter preços competitivos, mas como fazer isso em um cenário de custos elevados?
A sustentabilidade no transporte deve ser parte da estratégia das empresas. A implementação de tecnologias que aumentem a eficiência dos veículos e reduzam o consumo de combustível é uma possibilidade. Essas inovações podem oferecer uma vantagem competitiva.
Entretanto, nem todas as transportadoras têm acesso a tecnologias. Isso cria uma disparidade significativa entre grandes e pequenas empresas.
Rentabilidade das transportadoras
Um levantamento da NTC&Logística revelou que 39% das transportadoras brasileiras enfrentaram uma queda nos lucros no primeiro semestre de 2024, um aumento de 10 pontos percentuais em relação a janeiro. Apenas 36,5% relataram melhora nos lucros, em comparação a 53,6% há seis meses.
Com margens de lucro apertadas, um aumento no custo do diesel pode levar a prejuízos. Sabendo disso, a implementação de práticas de sustentabilidade no transporte é vital. Empresas que não investem em eficiência podem ver suas margens de lucro reduzidas.
Soluções governamentais e políticas públicas
O setor de transporte rodoviário enfrenta desafios com a volatilidade dos preços do diesel. Iniciativas governamentais e políticas públicas podem contribuir para mitigar esses impactos e promover a sustentabilidade no transporte.
Papel da ANP no controle do preço do diesel
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) desempenha um papel importante na regulação do setor de combustíveis no Brasil. Ela monitora os preços do diesel e implementa políticas que visam a transparência e a competitividade no mercado.
Por meio de dados e análises, a ANP busca determinar a formação de preços e atuar para evitar práticas abusivas. Isso gera um ambiente em que as empresas podem ter acesso a informações precisas sobre o custo do diesel.
A agência também estabelece normas para a qualidade dos combustíveis, de forma a contribuir para uma maior eficiência dos veículos e buscar a redução do impacto ambiental.
Papel do Confaz
A alíquota do ICMS sobre combustíveis é estabelecida pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que é composto pelos secretários da Fazenda dos estados e do Distrito Federal.
O Confaz anunciou novas alíquotas do ICMS para combustíveis, que entrarão em vigor no dia 1º de fevereiro de 2025. Para a gasolina e o etanol, haverá um aumento de 7,14%, com o valor passando de R$ 1,3721 para R$ 1,47 por litro. No caso do diesel e biodiesel, a alíquota aumentará em 5,31%, subindo de R$ 1,0635 para R$ 1,12 por litro.
Reajustes de ICMS e o preço do diesel
O Confaz anunciou um aumento nas alíquotas do ICMS sobre combustíveis que começaram a valer em 1º de fevereiro de 2024. A alíquota da gasolina aumentou R$ 0,15, passando para R$ 1,37 por litro, enquanto o diesel teve um acréscimo de R$ 0,12, alcançando R$ 1,06 por litro.
Vale lembrar que a Lei Complementar 192, de 2022 foi aprovada para estabelecer uma alíquota única do ICMS sobre combustíveis em todo o Brasil, com o objetivo de conter a alta dos preços nas bombas.
Segundo a Agência Senado, a norma determina que o ICMS seja cobrado apenas uma vez ao longo da cadeia produtiva, ao invés de em múltiplas etapas. As alíquotas do PIS/Pasep-Importação e da Cofins-Importação para diesel e outros combustíveis foram zeradas.
Adotar um modelo mais equilibrado no reajuste do ICMS é um passo em direção à sustentabilidade no transporte. A transparência nos critérios de reajuste é essencial para que as empresas compreendam as variações nos preços.
Incentivo ao uso de combustíveis alternativos no transporte rodoviário
Uma estratégia para estimular a sustentabilidade no transporte é o incentivo ao uso de combustíveis alternativos, como biodiesel e etanol. Esses combustíveis, além de promoverem uma redução nas emissões de gases poluentes, podem oferecer uma alternativa viável ao diesel.
Programas governamentais têm sido implementados para viabilizar a produção e o uso desses combustíveis.
Este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.993/24, que estabelece programas de incentivo à produção e uso de combustíveis sustentáveis, como diesel verde e biometano, além de regular a mistura de etanol na gasolina, que agora terá um mínimo de 22% e um máximo de 35%.
A nova legislação permite um aumento anual na mistura de biodiesel no diesel convencional, visando alcançar 20% até 2030.
A nova legislação, fruto de um trabalho colaborativo com a Embrapa, visa impulsionar a descarbonização da economia e a transição energética, criando, por exemplo, o Programa Nacional do Diesel Verde.
Por fim, a promoção de combustíveis alternativos e a transparência na formação de preços são passos essenciais para mitigar os efeitos da volatilidade do diesel.