As diferentes espécies têm essa característica em comum nos primeiros meses de vida e foram captadas pela primeira vez com as câmeras trap da Reserva Natural do Sesc Pantanal. As pintas temporárias que acompanham filhotes de algumas espécies vão além da beleza e têm um motivo importante: a camuflagem, uma estratégia fundamental de sobrevivência contra predadores. Essa característica comum nos primeiros meses de vida de onças-pardas, antas e veados foi registrada na maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal, por meio de câmeras trap.
Onças-pardas – Reserva Natural do Sesc Pantanal
O registro mais raro é o da onça-parda, que pode ser confundida com uma pequena onça-pintada. “É na fase inicial de vida que os animais são mais vulneráveis, por isso algumas espécies adotam padrões de pelos ou penas com pintas para ter melhor camuflagem ou confundir predadores e outros tipos de ameaça. Quando maior, a onça-parda tem o com coloração que varia de marrom-acinzentada claro a marrom- avermelhado escuro”, diz o gestor ambiental e analista de projetos de pesquisas do Sesc Pantanal, Vinícius Almeida.
Segundo a bióloga e pesquisadora Gabriela Schuck, não é comum o registro de filhotes de onça-parda ainda com as pintas. “As pintas somem por volta de 4 meses de vida e, nessa idade, os filhotes não acompanham tanto a mãe em longos trajetos, ficam mais reclusos aguardando alimentação. Sendo assim, fica mais difícil de registrar em armadilhas fotográficas”.
Essa espécie, também conhecida como puma, suçuarana e leão-baio, ou onça-vermelha é um dos grandes carnívoros que estão distribuídos pelo continente americano, ocorrendo desde o Sul do Chile (Patagônia), até o Norte do Canadá. No Brasil, seu comprimento chega até 1,5m (sem a cauda) e o peso pode ultrapassar 50 kg, sendo que, geralmente, é vista solitária e com hábitos noturnos. Em 2022 deixou a lista de espécies consideradas “vulneráveis” à extinção pelo Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio).
As filmagens fazem parte da pesquisa científica sobre grandes felinos realizada por meio do monitoramento com 165 câmeras traps, iniciativa do Sesc Pantanal em parceria com o Grupo de Estudos em Vida Silvestre (GEVS), Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Anta – Reserva Natural do Sesc Pantanal
Espécies diferentes com pintas em comum
Além da onça-parda, há outros “flagrantes” semelhantes da pesquisa com filhotes de veados mateiros e antas, que também possuem pintas temporárias, perdidas durante o crescimento. No caso das antas, elas ainda ganham o apelido de “melancia”, devido ao desenho das pintas parecidos com o da fruta.
“Conhecer melhor a natureza é a melhor maneira de compreender seu funcionamento e como protegê-la efetivamente. Com essas imagens, esperamos não apenas contribuir para a ciência, como também compartilhar com as pessoas essa riqueza e, assim, sensibilizá-las em prol da conservação do meio ambiente”, conclui Vinícius.
A pesquisa de grandes felinos é de longo prazo e já acumula 400 mil vídeos na Reserva Natural.
RPPN Sesc Pantanal
A Reserva Natural é a maior do Brasil e uma importante área de conservação no Pantanal. Entre as espécies ameaçadas de extinção, possui 12, entre elas a onça-pintada, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira.
Além de ser a maior do país, a Reserva é área Núcleo da Reserva da Biosfera do Pantanal, faz parte da terceira maior Reserva da Biosfera do planeta e é um Sítio Ramsar. Entre os benefícios que a RPPN presta à humanidade estão a purificação das águas, controle das inundações, reposição das águas subterrâneas, controle do fluxo de sedimentos e nutrientes do solo, reservas de biodiversidade e mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Do total de peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos na Bacia do Alto Paraguai, que totalizam 1.059 espécies, a Reserva detém 630. Isso significa que 60% destas espécies estão presentes na RPPN.
Veado – Reserva Natural do Sesc Pantanal.