Casal celebra Dia dos Pais em dose dupla no interior de SP e fala sobre desafios da paternidade e luta contra o preconceito


Professor Rafael Monteiro Canavezzi, de Itapetininga (SP), foi “adotado” pela família de Robinson Canavezzi, que era viúvo e já tinha três filhos. Atualmente a família mora em Itu (SP). Rafael, Robinson, de óculos escuros, e os filhos Arthur, o mais novo e João Fernando o filho do meio moram em Itu (SP)
Rafael Monteiro Canavezzi/Arquivo pessoal
Uma família formada a partir do casamento de um professor e um técnico de informática viúvo com três filhos, celebra este Dia dos Pais em dose dupla, encarando os desafios da paternidade e do julgamento da sociedade, por fazer parte da bandeira LGBTQIA+. “Os meninos chamam o Robinson de pai e eu, Rafael, de papai”.
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O professor Rafael Monteiro Canavezzi, de Itapetininga, interior de São Paulo, tem 49 anos e conheceu seu esposo, Robinson Canavezzi, também de 49, pela internet. Não demorou muito para que eles decidissem se casar e morar juntos.
Ao g1, Rafael conta que recebeu a mensagem de Robinson, que morava em Sorocaba(SP), dizendo: “Vem comigo cuidar das crianças”, e não pensou duas vezes para responder que sim. Robinson ter filhos não foi um empecilho, pelo contrário, serviu como incentivo para que eles juntassem forças para criar os meninos e lidar com a pandemia.
“Aceitei, arrumei a bagagem e fui pra Sorocaba morar com eles. Eu fui ‘adotado’ no ‘clã’ Canavezzi, afinal, eram quatro homens e eu fui somado ao clube, agora com cinco Canavezzi’s”, lembra Rafael.
Rafael explica que o início da convivência com os meninos como padrasto foi diferente para cada integrante da família, pois cada um estava acostumado com um tipo de rotina e precisaram adaptá-la a vida em conjunto e as tarefas sendo feitas de forma remota.
“Quando vi o Rafael fiquei surpreso com a chegada dele aqui em casa pois ele nos acolheu muito bem e é por isso que eu amo ele”, relembra um dos filhos Arthur Canavezzi.
O filho João Fernando Canavezzi falou do início da relação. “Minha mãe tinha acabado de morrer, e, no começo, achei estranho as pessoas que apareciam em casa na tentativa do meu pai de buscar um companheiro para a vida, até que ele chegou. Não sabia exatamente como me sentir e, no início, tratei-o como um conhecido, ganhando intimidade aos poucos. Um ano depois, comecei a chamá-lo de pai por vontade própria”.
Rafael e Robinson se casaram e se mudaram para Itapetininga (SP) em 2020
Rafael Monteiro Canavezzi/Arquivo pessoal
Ser pai nunca foi uma vontade de Rafael até conhecer a família que seria a sua também. Hoje divide com o marido a paternidade dos três filhos: Arthur, hoje com 12 anos, João Fernando com 16 e João Henrique, com 24. O filho mais velho não mora mais com os pais, mas tem a mesma conexão que os mais novos têm com eles.
“Os meninos chamam o Robinson de pai e eu, Rafael, de papai. Nunca desejei ser pai, o ‘ser pai’ nasceu quando fiz um almoço, um lanche, cuidei de todos. A cada dia é um aprendizado e hoje eu amo ser papai”, relata Rafael.
Família Canavezzi, depois do casamento entre Rafael e Robinson, ficou com cinco integrantes
Rafael Monteiro Canavezzi/Arquivo pessoal
Preconceito
Atualmente a família mora em Itu (SP), cidade natal de Robinson e dos filhos. Depois da pandemia, quando começaram a sair juntos em família, Rafael relata alguns desconfortos com relação ao encontro com pessoas preconceituosas, porém, este preconceito não é escondido dos filhos.
“O desafio é maior pois temos a intolerância velada, pouco se importam com os sentimentos de crianças ou nossos sentimentos. Somos aceitos em muitos lugares, em outros lugares olham de canto, falam baixo, fazem comentários, mas temos que mostrar aos nossos filhos todos os tipos de preconceitos que existem na sociedade”, explica.
Rafael não é chamado de padrasto, mas sim pai dos três filhos de Robinson
Rafael Monteiro Canavezzi/Arquivo pessoal
“Temos que enfrentar [preconceito] de cabeça erguida e nunca desistir. Sempre buscar o melhor para todos. Adoramos nossa vida, nossa casa, conversamos muito, rimos, choramos, temos desafios juntos, mas nunca vamos largar a mão um do outro”, destaca Rafael.
Da esquerda para a direita estão Arthur, João, Robinson e Rafael Canavezzi
Rafael Monteiro Canavezzi/Arquivo pessoal
Amor e respeito
A vida da família Canavezzi é repleta de amor, respeito e fé. O casal enfatiza que amor é amor, independente da forma em que é apresentado ao mundo.
Segundo Rafael, família é sinônimo de estar presente, de se interessar pelo que pode ensinar ou aprender com os filhos e sempre lembrar de dizer um “eu te amo”.
Os filhos de Robinson e Rafael são instruídos sobre todos os tipos de assuntos, sem tabus, para que, de acordo Rafael, estejam preparados para o mundo, que não se parece com o país das maravilhas da personagem Alice.
“Passamos valores morais, éticos, explicamos o errado e buscamos criar para o mundo e hoje, temos a certeza que estamos acertando. Talvez nossa história inspire as pessoas a espalhar o bem, pois assim mais, bençãos virão”, finaliza o professor.
A família de Robinson e Rafael morou em Itapetininga (SP) em 2020
Rafael Monteiro Canavezzi/Arquivo pessoal
*Colaborou sob a supervisão de Carla Monteiro
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