Pilotos narram formação de gelo na rota do avião que caiu em Vinhedo; 61 pessoas morreram

Aeronave Voepass Linhas Aéreas, antiga Passaredo, saiu de Cascavel (PR) às 11h58 com destino a Guarulhos (SP). Formação de gelo em aeronave que pousou em Congonhas na tarde desta sexta-feira (9).
Reprodução/TV Globo
Pilotos de aeronaves que estiveram na mesma rota do avião turboélice que caiu em Vinhedo, interior de São Paulo, na tarde desta sexta-feira (9), narram que havia a presença das chamadas cumulonimbus – nuvens densas e carregadas, evitadas pelos pilotos, além de gelo.
O piloto Pedro Santos, que passou pela região do acidente mais cedo, confirmou que as condições meteorológicas não eram boas.
“Assim que a gente decolou de São Paulo a gente tinha previsão de gelo entre os níveis de voos uno cinco zero e dois cinco zero… Uno cinco zero, 15 mil pés e dois cinco zero 25 mil pés, e assim que a gente começou a passar por esses níveis, a gente se deparou com formação de gelo na asa e o olhar é muito importante pra verificar a quantidade de gelo que está se formando porque a depender da quantidade a gente precisa fazer uma descida de emergência pra encontrar uma temperatura positiva”, declarou o piloto.
Outros pilotos ouvidos pela TV Globo que pousaram no Aeroporto de Congonhas também narraram formação de gelo severo na rota de aproximação de São Paulo.
O piloto e engenheiro Jorge Leal Medeiros, professor de transportes aéreos da Poli-USP, explica que o acúmulo de gelo é um risco.
“O ar bate na frente da asa, uma parte vai por cima a outra vai por baixo. a que vai por cima vai mais veloz, cria uma pressão negativa, faz com que o avião voe. agora se forma gelo, a aerodinâmica da aeronave muda e perde a sustentabilidade da asa”, explicou.
Segundo os especialistas, aeronaves comerciais contam com dois sistemas anti-gelo – um que evita a formação de gelo e outro que derrete a água congelada nas asas.
Em situações extremas, os equipamentos podem ser insuficientes e o piloto precisa agir rápido.
“Se ele por acaso tiver um ‘anti-ice’ bom, e se o gelo não for muito grande, ele consegue mudar a altitude do avião, mudar a camada que não tenha tanta formação de gelo. Me espanta que essa formação de gelo tenha sido tão rápida também. Por isso que temos que aguardar um pouco mais a análise desse acidente”, declarou Leal Medeiros.
Avião que caiu em Vinhedo, SP, ficou destruído
Arquivo pessoal
Roberto Peterka, especialista em segurança de voo, diz que a aeronave ATR-72, da empresa VoePAss, perdeu sustentação e não conseguiu se manter no ar.
“As imagens mostram que houve uma perda de sustentação, é o que nós chamamos de ‘stoll’. Ele [avião] sobe o nariz, perde a sustentação e normalmente entra de nariz, cai de nariz, entra no chamado parafuso. Não recupera e entra no parafuso chato pra isso aí”, disse Peterka
“Aparentemente esse é um acidente parecido com aquele da Airfrance, que teriam excedido a velocidade, a indicação de velocidade e ele entrou … ele stolou, ou seja, ele perdeu a capacidade de se manter e veio ao chão, girando, perdendo altura, perdendo altitude, mas sem deslocamento horizontal pra dar sustentação e seguir o voo”, afirmou.
Em 1994, a FAA (Anac dos EUA) chegou a proibir voos de ATR em condições de muito gelo. Centenas de voos foram suspensos na época. A decisão foi tomada depois que um ATR caiu na cidade Roselan, Indiana naquele ano, 68 pessoas morreram.
O Cenipa, órgão da aeronáutica responsável pela investigação do acidente, disse em coletiva que ainda é prematuro apontar as causas do acidente.
A Força Aérea Brasileira (FAB) confirmou no início da noite que encontrou as caixas-pretas e vai enviar elas para Brasília.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que a aeronave se encontrava em condição regular para operar, com certificados de matrícula e de aeronavegabilidade válidos, além dos tripulantes com documentação em dia.
Meteorologistas
Meteorologistas apontaram “áreas de instabilidade” e 35% de formação de gelo nas proximidades do local onde um avião com 61 pessoas a bordo caiu, na tarde desta sexta-feira (9). Não houve sobreviventes.
De acordo com o Climatempo, no momento exato em que a aeronave estava fazendo a aproximação havia um “forte vento” de cauda – o que aumenta a velocidade do avião em relação ao solo.

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