Do boteco aos palcos: filhos se inspiram e seguem os passos dos pais na escolha da profissão


No Dia dos Pais, comemorado neste domingo (11), conheça a ligação musical e comercial entre pais e filhos de Araraquara (SP). Francisco e Lucas Colturato fazem parte de gerações de comerciantes em Araraquara. Fernando e Beto Neves são músicos profissionais e tocam na mesma banda, a Beatles Again
Amanda Rocha/Arquivo pessoal
Tal pai tal filho. Em alguns casos, a expressão é certeira e norteia comportamentos e talentos. O comerciante Lucas Steinberg Colturato, de 38 anos, e o produtor musical Fernando Neves, 38 anos, são exemplos clássicos. Ambos se inspiram nas profissões dos pais e seguem os seus passos em Araraquara (SP).
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“Ter crescido nesse ambiente de música que meu pai proporcionava e incentivava foi fundamental. É muito bom, sempre acompanhei e admirei ele como músico e poder subir com ele nos palcos é incrível”, contou Fernando, que é baterista da banda Beatles Again, fundada por seu pai em 1993.
No Dia dos Pais, comemorado neste domingo (11), o g1 mostra as influências paternas do comerciante Francisco Sales Colturato, de 60 anos, e de Roberto Neves, de 70 anos, médico e músico profissional, na vida dos filhos.
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Família sonora
Fernando Neves cresceu em um ambiente musical diverso com muita MPB, rock, jazz, reggae, pop entre outros gêneros. Mas os Beatles sempre reinaram nos altos-falantes e playlist de Roberto (Beto).
Multi-instrumentista, o médico é beatlemaníaco assumido e passou toda a sua paixão sonora ao caçula. Fernando também é versátil e além de bateria, ele toca violão e teclado.
Hoje, os dois tocam juntos em banda que é reconhecida nacionalmente e internacionalmente por tirar fielmente as músicas dos Fab Four. Enquanto o filho fica com o ritmo do bumbo, pratos e caixa, o pai manda ver na voz, guitarra e piano.
Fernando e Beto Neves em show no Cavern Club Lounge em Liverpool, Inglaterra
Arquivo pessoal
“Cresci ouvindo muito Beatles e isso com certeza se tornou um elo, não só entre nós mas entre toda a família. Me interessei por música desde criança, em uma casa sempre ouvia-se e fazia-se muita música, meu pai sempre teve bandas e ensaiavam em casa. A memória mais antiga que tenho foi aos 6 anos entrar na sala onde ficavam os instrumentos e ir direto na bateria, desde então não parei mais”, recordou.
Pai de quatro filhos, Beto contou que a princípio esperava que algum deles seguisse o caminho da Medicina, embora nunca tenha interferido na escolha de cada um. Arquitetura, Tecnologia da Informação, Administração e Música foram as áreas escolhidas.
“Meus dois filhos mais velhos também tocam bateria e violão, mas o Fernando, no entanto, sempre foi o mais musical deles. Desde pequenino tocava na bateria do irmão mais velho, sentava no piano da sala e dedilhava algumas músicas de ouvido. Aprendeu violão sozinho. Acabou fazendo graduação em Som e Imagem, e seguiu carreira como produtor musical e músico”, disse orgulhoso.
Beatlemaníacos: paixão pelos Beatles e pela música foi passada pelo pai Beto Neves ao filho Fernando
Arquivo pessoal
Sonho internacional
Entre idas e vindas, o filho-baterista já havia participado da banda Beatles Again como o 5º elemento entre 2011 e 2015, e se diverta muito ao lado do pai. Mas foi no ano passado que um sonho se concretizou quando eles foram chamados para tocar no maior evento de Beatles no mundo, a International Beatle Week, em Liverpool na Inglaterra.
“Ir para a Inglaterra com ele só pra curtir o festival já teria sido demais, mas ir para tocar ao lado dele nos icônicos palcos da beatlemania foi maravilhoso, a realização de um sonho”, disse Fernando.
Banda posa com estátuas dos Beatles durante passagem em Liverpool, Inglaterra, em agosto de 2023.
Arquivo pessoal
Para Beto, o show foi o ponto alto da carreira musical e uma realização pessoal. E o melhor de tudo foi compartilhar o momento ao lado do caçula.
“Foi o máximo. Era um sonho que eu tinha desde adolescente, e, embora já estivesse estado no festival em anos anteriores, ter sido convidado com a Beatles Again para representar o Brasil (e Araraquara também) na International Beatle Week foi algo espetacular. Para mim isso foi muito gratificante estar com o Fernando porque ele é um excelente músico, e sempre tivemos uma relação muito próxima. Estamos sempre juntos, no palco, nas viagens. Quando terminamos os shows, é dele sempre o primeiro abraço”, disse.
Balcão de gerações
Já o balcão do bar e o atendimento ao público sempre fizeram parte da vida do comerciante Francisco Sales Colturato, o Fran, e Lucas Colturato, pai e filho proprietários do Bar do Zinho, um dos pontos mais tradicionais da Morada do Sol.
O estabelecimento completou 70 anos e foi fundado pelo avô de Lucas, o saudoso comerciante João “Zinho” Colturato. Fran assumiu o bastão na década de 90, aos 30 anos, e agora é a vez de Lucas.
Francisco e Lucas Colturato trabalham juntos no tradicional bar da família. Estabelecimento de Araraquara completou 70 anos e se reinventou ao longo das décadas
Amanda Rocha/g1
Embora parecesse natural o caminho do bar para ambos, a história era outra. Tanto o irmão de Fran, Fausto, como o irmão de Lucas, Thiago, eram os mais cotados para assumirem o estabelecimento, mas os dois foram para a área da engenharia. E a função ficou para eles, cada um no seu tempo.
“Em princípio eu não queria assumir o bar, nunca pensei em trabalhar aqui, só vinha debaixo de vara. Sempre fugi do bar. Meu pai sempre pegava a gente de casa para trabalhar, todos nós ajudamos. Meu irmão mais velho ficou anos ajudando e até se pensou que ele seria o substituto do meu pai. Assim como eu pensava que seria o meu outro filho Thiago”, contou.
Antes de encarar de vez os copos, garrafas e porções, Fran passou por diversas profissões como bancário, vendedor, professor, entre outros. Já Lucas comentou que a identificação veio cedo e ele sempre alinhou a faculdade de educação física com o atendimento.
“Eu cresci praticamente aqui dentro e sempre tive uma identificação com o bar. Sou educador físico, fazia faculdade de manhã e trabalhava à tarde, mas nunca deixei de estar aqui. Agora com esse passo de assumir mais responsabilidades tenho certeza desse caminho que escolhi”, contou Lucas.
Pai está “semi aposentado” e passa o bastão para o filho Lucas Colturato que deve assumir em breve o bar da família
Amanda Rocha/g1
Mudança de perfil
Francisco recorda que um dia acordou repentinamente pensando em assumir o negócio da família. Ele contou ao pai que estava na hora dele aposentar e que administraria o bar. Zinho já havia dedicado a sua vida ao boteco, mas não arredava o pé. Aos poucos, ele foi largando o “osso”.
O comerciante comentou que como toda mudança, conflitos e choques de geração ocorreram, e o receio era que os antigos frequentadores não gostassem da nova fase.
“Tive muito conflito com o meu pai porque tinha uma velha guarda aqui que ouvia discos de Nelson Gonçalves e Odair José em uma vitrola. E de repente, nos anos 90 chega um público rock n roll. Eu pensei que fosse ter conflito de gerações, mas foi super tranquilo. Eles chegaram, dividiram espaço e até hoje é assim. De Nelson Gonçalves passou a ter Black Sabbath e Iron Maiden. É um perfil do bar”, comentou.
A guinada na administração do botequim ampliou o público e passou a misturar a velha guarda e os novos rockeiros. Hoje, filhos e até netos dos clientes da década de 1990 frequentam o lugar para tomar aquela gelada.
“Unimos diferentes gerações de frequentadores. Hoje os filhos desses roqueiros cabeludos frequentam o bar, é demais isso. São gerações, pessoal trazendo os filhos no colo. Sou muito grato por isso”, disse Fran.
Lucas é só elogio ao comando paterno em ressignificar o estabelecimento e dar espaço a todos os gêneros musicais e público. De quarta a domingo, rolam shows e feiras na Praça das Bandeiras, que fica em frente ao bar e já se tornou uma extensão do botequim.
Boteco é um ponto de encontro de diferentes gerações em Araquara
Amanda Rocha/g1
“Na época do meu avó era tudo muito diferente, não se pensava em ter esse espaço cultural, foi bem devagar desde implementar bebida diferente. Meu pai foi adaptando e não tenho nem o que falar o que ele faz, o que fez foi gigante. Nos damos super bem.Tem muito a ver a família ir aprendendo a lição de casa e ir melhorando e adequando ao momento”, disse.
E uma nova geração deve chegar daqui há alguns anos para manter a tradição familiar no comando. A filha de Lucas, Helena, tem 6 anos e já avisou ao pai o que vai fazer quando crescer.
Gerações: Lucas, Helena e Francisco Colturato em selfie. A pequena já deu a letra e quer trabalhar no bar quando crescer
Arquivo pessoal
“A Helena já me falou: Papai, eu quero trabalhar no Bar do Zinho. Ninguém sabe do futuro, mas se ela quiser, é dela. Ela é muito esperta e já põe o banquinho dela no balcão, sabe abrir as garrafas, sabe usar a maquininha do cartão, digita valor e ainda pergunta se é débito ou crédito, e não vende fiado. Ela faz uma propaganda danada do bar na escola e já trouxe os pais das amiguinhas para cá”, contou aos risos.
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