Anfíbio foi encontrado durante revisão do gênero Phrynomedusa. Descoberta reacende esperança de encontro com a espécie na natureza. Espécime foi encontrada na coleção herpetológica do Museu de Zoologia (MZUSP)
Délio Baêta
Após a análise de frascos contendo antigas coleções de pererecas no acervo do Museu de Zoologia de São Paulo, pesquisadores encontraram um segundo exemplar da perereca-de-fímbrias (Phrynomedusa fimbriata), uma espécie que era até então considerada extinta.
De acordo com Délio Baêta e José Pombal Júnior, responsáveis pela publicação do artigo, o único exemplar conhecido tinha sido obtido em 1898, na região de Paranapiacaba, localizada em Santo André (SP). Desde então, diversos pesquisadores voltaram à região em busca da espécie, mas sem sucesso.
O encontro do novo exemplar reacende as esperanças de que a perereca-de-fímbrias ainda exista ao indicar uma nova área de busca para os biólogos. Isso porque este segundo exemplar foi coletado na região da Serra da Pedra Branca do Araraquara, no estado do Paraná.
“Além de continuar buscando por essa espécie na região de Paranapiacaba, agora temos uma grande porção de Mata Atlântica relativamente bem preservada na Serra do Mar onde a espécie pode ocorrer”, explica Délio.
O otimismo levou os pesquisadores a buscar financiamento para a realização de expedições para procurar mais uma vez a espécie na natureza. “Estamos viabilizando junto ao CBioClima da UNESP Rio Claro e o Projeto Dots, expedições para a região da Serra do Araraquara já no próximo ano buscando o reencontro destas espécie na natureza”.
Delio Baêta analisa coleção de anfíbios da CFBH
Arquivo pessoal
Outro ponto que anima a equipe é que, durante a revisão do gênero no qual a perereca-de-fímbrias pertence, uma nova espécie foi descrita após ser encontrada em diversas localidades no estado de São Paulo. Depois, acharam no sul de São Paulo uma nova população de outra espécie do gênero que não era registrada há mais de 50 anos.
“Estes dois registros em áreas que possuem uma ampla cobertura vegetal protegida por unidades de conservação, algumas delas historicamente amostradas em relação aos anfíbios, mostram que apesar dos avanços científicos ainda sabemos muito pouco sobre a biodiversidade brasileira e a sua distribuição”, comenta o pesquisador.
Descoberta
Délio conta que ele e Pombal Jr. notaram a semelhança do exemplar com a perereca-de-fímbrias, mas em um primeiro o consideram como uma potencial nova espécie para o gênero.
“Foi uma atitude conservadora, pois a distância entre as duas localidades (Serra do Araraquara e Paranapiacaba) e a ausência de mais informações sobre a espécie nos impediu de fazer a identificação imediata”, relembra. Assim, iniciaram o estudo taxonômico detalhado do exemplar buscando elucidar sua identificação.
Exemplar da perereca-de-fímbrias
Délio Baêta
“Não sabemos com certeza o ano de coleta, o coletor ou a localidade exata. Antigamente havia o costume da coleta e envio de material biológico a museus e/ou coleções particulares por parte de diversas pessoas. Hoje, buscando preservar nossa biodiversidade, esta é uma prática proibida, sendo a coleta de espécimes e estabelecimento de coleções zoológicas regulamentadas por leis federais e estaduais”, explica.
Por ser um exemplar proveniente da antiga coleção Werner Bokermann – hoje incorporada a coleção do Museu de Zoologia da USP – eles supõem que o anfíbio foi coletado e enviado durante o período em que Bokermann esteve ativo incorporando espécimes em sua coleção.
Cruzando com informações presentes nos seus diários, o espécime pode ter sido enviado para ele em algum momento entre as décadas de 50 e 60.
No caso da perereca-de-fímbrias, o principal fator considerado para declará-la extinta foi a presença de apenas um registro em 1898 e a falta de sucessos em reencontrá-la em uma área historicamnete estudada em relação aos anfíbios.
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