A operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira (19) sobre a organização criminosa que planejava um golpe de Estado e as mortes do presidente Lula, do vice-presidente Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), gerou repercussão entre autoridades do judiciário, do governo e da política brasileira.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, disse a jornalistas que a operação da PF traz elementos “extremamente graves” sobre a participação de pessoas do núcleo do governo do ex-presidente no plano golpista e homicida.
Pimenta se refere à prisão de Mário Fernandes, general que foi secretário-executivo da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro (PL) e ex-assessor do ex-ministro e deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ). Além de Fernandes, foram presos três “kids pretos”, que são militares do Comando de Operações Especiais do Exército, e um policial federal.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT-SP), usou seu perfil no X (antigo Twitter) para afirmar que atos “não são isolados”, se referindo ao plano de assassinato investigado pela PF e a tentativa golpista de 8 de Janeiro. “É preciso chegar em quem estava no topo desse absurdo. Ainda falta um: Jair Bolsonaro”, escreveu.
A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), publicou no X que o caso é “extremamente grave”. “Foram reuniões conspiratórias, descrédito das urnas, desvio de dinheiro para organizar a ida de caravanas bolsonaristas para acampamentos em frente aos quartéis… Lembrem que os cinco são servidores públicos, com o conhecimento técnico-militar que aprenderam através do Estado, atentando contra a democracia e a vida”, disse. A parlamentar adicionou “esse foi o tamanho da nossa vitória em 2022” e pediu que não haja anistia.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, classificou como “estarrecedoras” as descobertas da operação da PF. “Tudo sugere que estivemos mais próximos do que imaginávamos do inimaginável”, afirmou o ministro durante uma sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou estar “preocupado” e “indignado” com o suposto plano para matar Lula, Alckmin e Moraes. “A tentativa de eliminar adversários políticos, inclusive ameaçando as suas vidas, é deplorável sobre todos aspectos possíveis e demonstra um completo desprezo pelos valores democráticos e civilizatórios”, escreveu no X.
O empresário e ex-candidato à Presidência João Amoêdo cobrou a prisão do general Walter Braga Netto, que teria cedido a própria casa para a discussão do projeto golpista e homicida, segundo a PF.
“A Polícia Federal afirma que Braga Netto, ex-vice da chapa de Bolsonaro, planejou o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes. Diante disso, duas perguntas iniciais: – O que falta para ele ser preso? – Alguém ainda acredita que Bolsonaro não tinha conhecimento desse planejamento?”, questionou Amoêdo na rede social X.
Em nota, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que não há espaço no Brasil para quem atenta contra a democraciae que as suspeitas sobre os alvos são “extremamente preocupantes”.
“O grupo, segundo as investigações, tramava contra a democracia, em uma clara ação com viés ideológico. […] Não há espaço no Brasil para ações que atentam contra o regime democrático e, menos ainda, para quem planeja tirar a vida de quem quer que seja. Que a investigação alcance todos os envolvidos para que sejam julgados sob o rigor da lei”, afirma o presidente do Congresso.
Bolsonaristas tentam minimizar operação da PF
Por outro lado, representantes bolsonaristas tentam minimizar a operação da PF, a qual chamam de “narrativa”, e defendem que o planejamento de um atentado contra Lula após a derrota de Jair Bolsonaro não configura crime, uma vez que não houve execução. O ex-presidente, no entanto, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o ocorrido.
Em sua conta no X, o senador Flavio Bolsonaro saiu em defesa dos aliados do pai, afirmando que “Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime”. Na sua opinião, a operação não teria amparo legal.
Em resposta à publicação, a correligionária Carla Zambelli (PL-SP) disse que a operação é “repugnante”.
Outro filho do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) qualificou a prisão dos suspeitos de golpe como “guerra de narrativas”. “O povo não aguenta mais esta guerra de narrativas sempre mirando na direita. 2026 haverá respostas, tal qual EUA em 2024″, afirmou o filho de Bolsonaro.
O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), tenta desvincular o Braga Netto do caso. “Quem era contra a anistia vai usar os fatos dessa operação de hoje para jogar gasolina. Não vejo conexão entre isto e o 8 de janeiro. Não conheço esses militares citados, mas eu conheci o general Braga Netto já na política e posso dizer que ele é de finíssimo trato e não é capaz de matar uma mosca”, afirmou.