Teremos esse ano, pela primeira vez, a nacionalização do Dia da Consciência Negra, algo que anteriormente era comemorado separadamente por cada estado, inclusive em datas distintas entre si. Se a ideia é criar um ambiente propício à reflexão e ao debate, a unificação de data e a nacionalização do evento são bem-vindos.
É de conhecimento comum que o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. A esse atraso não se pode conferir demasiado peso, porque os EUA, com formação racial/étnica muito semelhante ao Brasil, aboliram antes a sua escravidão e, contudo, tem até hoje questões raciais a equacionar.
Mas a extinção tardia da prática no Brasil pode ser um dos elementos, certamente não o único, a explicar a difícil tarefa de se integrar de fato o negro à nossa sociedade. Trata-se de uma verdadeira saga, muito embora com avanços inegáveis.
Hoje se fala num racismo estrutural, como se a sociedade toda fosse racista. Isso, porém, precisa ser visto cum grano salis. Não temos por aqui uma estrutura jurídica-política fundada no racismo, na separação e tratamento diferenciado da população de acordo com a sua etnia, como foi a África do Sul até os anos 1990 e os EUA até 1954, com o julgamento pela Suprema Corte Norte-Americana do caso Brown x Board of Education.
Não se trata a ponderação acima de negar a existência de racismo no Brasil. Claramente existe racismo em nossa sociedade. O ponto é não haver aqui algo formalmente articulado em termos de leis, estrutura jurídico-social, voltado para algo discriminatório.
O Dia da Consciência Negra deve nos servir de reflexão, especialmente para buscar a integração de todas as etnias em nossa sociedade. E cabe aqui a ponderação de um negro bastante ilustre e conhecido, Morgan Freeman.
De fato, em 2005, numa entrevista ao programa 60 Minutes, Freeman criticou o Dia da Consciência Negra, dizendo que o racismo seria melhor combatido ”se não se falasse sobre o assunto” e afirmou que “o dia em que deixarmos de nos preocupar com consciência branca, negra ou amarela e nos preocuparmos com consciência humana, o racismo deixará de existir”.
Outra negra, extremamente conhecida e querida, a saudosa jornalista Glória Maria, ao ser confrontada em certa ocasião com o tema do racismo e do Dia da Consciência Negra, comentou o seguinte:
“Como lutar contra a desigualdade se não aceitamos as diferenças? Queridos, vivam as suas vidas e nos deixem viver a nossa! Temos que tentar sempre encontrar nosso próprio caminho! Sem criticar e condenar o dos outros! Cada um precisa combater o racismo da maneira que achar melhor! Lembrando sempre do direito e da opinião do outro! Sou negra e me orgulho, mas não sigo cartilhas. Minhas dores raciais conheci e combati sozinha! Sem rede social para exibir minhas frustrações! Tenho direito e dever de colocar o que penso num espaço que é meu! Não imponho e não aceito que me digam como devo viver ou pensar!”
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