Segundo escritora preta e moradora do DF, feriado propõe reflexões, comemora vitórias e coloca em foco questões da negritude. Mulheres com turbantes em evento de comemoração ao Dia da Consciência Negra.
Fernando Frazão/Agência Brasil
Neste ano, o Brasil comemora pela primeira vez o Dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra como feriado nacional. A data já era celebrada no país, mas se tornou feriado em dezembro de 2023.
Mas o que é consciência negra e por que celebramos em 20 de novembro? 🤔
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Consciência negra é a valorização da identidade, cultura e história das pessoas negras. Já o 20 de novembro faz referência ao dia em que Zumbi dos Palmares foi morto (entenda mais abaixo).
Waleska Barbosa, escritora preta e moradora do Distrito Federal, explica que o 20 de novembro é uma conquista do movimento negro.
“A data propõe reflexões, comemora vitórias, coloca o foco da sociedade nas questões da negritude. Esse ano é simbólico, pela primeira vez viveremos um feriado nacional”, afirma Waleska Barbosa.
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Quem foi Zumbi dos Palmares?
Zumbi nasceu no início de 1655, em uma das aldeias do Quilombo de Palmares, que fica na Serra da Barriga, em Alagoas – e à época fazia parte da Capitania de Pernambuco (veja vídeo abaixo).
Os quilombos eram espaços de liberdade e resistência criados para abrigar pessoas escravizadas.
Com poucos dias de vida, Zumbi foi capturado por soldados portugueses e entregue ao padre Antônio Melo, que o batizou com o nome de Francisco. O padre ensinou Zumbi a ler e escrever em português e latim.
Quadro retrata Zumbi dos Palmares; de Antonio Parreiras (1927).
Acervo do Museu Antonio Parreiras
Quando Zumbi tinha 15 anos, fugiu e voltou para o Quilombo de Palmares, abandonando seu nome cristão Francisco. Ele se tornou um guerreiro e estrategista militar na luta para defender Palmares contra os soldados portugueses.
Em 1678, Ganga-Zumba, então chefe do quilombo, morreu após a tentativa de um acordo de paz com o governo de Pernambuco, e Zumbi se transformou no grande chefe.
Durante os anos de 1680 a 1691, Zumbi conseguiu derrotar todas as expedições enviadas contra o Quilombo dos Palmares. Ele só foi capturado no dia 20 de novembro de 1695, quando foi traído por um dos seus comandantes, Antônio Soares. Zumbi foi morto, esquartejado e teve a sua cabeça exposta em praça pública na cidade de Olinda, em Pernambuco.
Serra da Barriga abriga o Quilombo dos Palmares, símbolo nacional da resistência negra
Data foi proposta nos anos 1970
Veja a cronologia da celebração:
O “Dia da Consciência Negra” foi idealizado em 1971, pela mobilização de um grupo de jovens estudantes negros do Rio Grande do Sul, o Grupo Palmares;
Em 2003, o presidente Lula sancionou uma lei federal que considera o 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra” no calendário escolar. A lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas;
A celebração do “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra” em todo o país foi oficializada em 2011, pela ex-presidente Dilma Rousseff, através de outra lei federal;
O presidente Lula sancionou mais uma lei federal, em 2023, que transformou a data feriado nacional.
Integrantes do Grupo Palmares duante congresso do movimento negro
Arquivo pessoal
Outra data que também tem relação com a história dos negros no Brasil é o 13 de maio, Dia da Abolição da Escravidão, quando a Lei Áurea foi sancionada. No entanto, a escritora Waleska Barbosa lembra que a lei não trouxe melhoras significativas.
Pesquisadores alertam que a norma não garantiu nem direitos básicos como moradia, educação e saúde, e nem “humanizou” as pessoas que eram escravizadas.
Valorização da cultura negra no DF
Escritora Waleska Barbosa.
reprodução
A escritora Waleska Barbos é criadora de um projeto que trata de consciência negra no Distrito Federal, o Julho das Pretas que Escreve. A iniciativa reúne autoras negras em todo mês de julho, em Brasília, mês que carrega o Dia Internacional da Mulher Negra, Latinoamericana e Caribenha.
Nestes encontros, as autoras compartilham histórias e se apoiam, além disso, são realizadas performances artísticas, exposição e venda de livros, e homenagem à escritoras. Assim, o evento valoriza a cultura negra e promove debates sociais.
“Queria fazer um encontro para mulheres negras, para que pudéssemos nos reunir, bater papo, conversar sobre as obras que cada uma estava desenvolvendo. Nos encorajarmos de uma forma geral a não desistir do mercado literário”, diz Waleska.
A ideia do projeto surgiu em 2020 quando Waleska foi convidada a participar de uma mesa de autores. Ao questionar quais outros escritores negros iriam compor a mesa, ela recebeu a resposta de que “somente ela” estaria ali para representar o grupo.
Depois disso, Waleska diz que se sentiu motivada a criar uma rede de apoio entre as escritoras de Brasília. A paraíbana começou então a procurar pretas para participar dos encontros anuais. No primeiro ano, foram 30 mulheres, já em 2024, 50 mulheres participaram do evento.
🔎O projeto também realiza outros encontros em ao longo, que são divulgados no instagram do grupo.
Escritoras do projeto Julho das Pretas que Escreve.
Arquivo pessoal
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