Meninas de seis anos foram encontradas mortas sem sinal de violência em casa. Polícia suspeita de envenamento, mas exames periciais ainda não confirmaram substâncias nos corpos. Um mês da morte das gêmeas em Igrejinha
O caso das gêmeas de seis anos encontradas mortas em um intervalo de oito dias em outubro deste ano segue um mistério para a Polícia Civil de Igrejinha, a 90 quilômetros de Porto Alegre. O segundo óbito completou 1 mês nesta sexta-feira (15), e o inquérito está em andamento.
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Manuela e Antônia Pereira foram encontradas sem vida em casa, sem sinais de violência. A mãe das meninas, Gisele Beatriz Dias, está presa por suspeita de envenenar as filhas.
No entanto, até agora, os exames periciais do Instituto-Geral de Perícias (IGP) não apresentaram substâncias nos corpos que pudessem ter causado a morte delas.
A Polícia Civil não tem dado entrevistas sobre o caso. De maneira reservada, os policiais envolvidos consideram o caso de “alta complexidade” , porque desafia a polícia e o IGP para encontrar provas para que seja solucionado sem, até o momento, ter um indicativo claro do que ocorreu com as meninas e sem testemunhas oculares.
Nesta reportagem, você encontra todos os detalhes conhecidos do caso até então:
As mortes
A prisão da mãe a suspeita de envenenamento
Exumação
Depoimento do pai
Histórico de atendimentos do Conselho Tutelar
O que diz a defesa da mãe
Mortes das gêmeas Antonia e Manoela Pereira são investigadas pela Polícia Civil
Arquivo pessoal
As mortes
A primeira a ser encontrada morta foi Manuela, em 7 de outubro. Ela foi localizada desacordada em casa e foi levada para o hospital, onde já chegou morta. A suspeita inicial era de infarto.
Oito dias depois, em 15 de outubro, Antônia Pereira foi encontrada também desacordada em sua cama, onde antes estava dormindo. O Corpo de Bombeiros atestou o óbito no local.
A prisão da mãe e a suspeita de envenenamento
A partir do segundo caso, a polícia suspeitou do comportamento da mãe. Os indícios foram reforçados após um médico relatar que ela falou ter “ideias perversas” com as filhas durante o período em que esteve internada na ala psiquiátrica para tratamento de um quadro de depressão profunda, semanas antes das mortes.
O depoimento do profissional de saúde levou a polícia a pedir a prisão temporária da mãe, que foi detida enquando prestava depoimento em 15 de outubro.
Além do médico, o depoimento da filha mais velha de Gisele, irmã das gêmeas, também reforçou as suspeitas da polícia. Ela disse que a mãe seria “plenamente capaz” de matar as irmãs.
Segundo o delegado Cleber Lima, na época das mortes, ambas as meninas tiveram quadro de hemorragia. “Foi aspirada grande quantidade de secreção sanguinolenta (…). Acredito que o quadro não tinha aspecto de infecção, aparentando ter sido ocasionado por ingestão de substância medicamentosa ou de veneno”, afirmou.
Nesta quinta-feira (14), a prisão temporária da mãe das gêmeas foi prorrogada pelo Judiciário por mais 30 dias.
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Exumação
A partir da hipótese de envenenamento, a polícia passou a tentar buscar provas técnicas sobre a morte das meninas, que ainda não foram encontradas.
Na terça-feira (12), os investigadores fizeram a exumação do cadáver de Manuela para retirada de material genético da menina, que, quando foi encontrada morta, não tinha suspeita de que tivesse sido morta de maneira intencional.
“Difícil entender”, diz pai
O pai das meninas mortas conversou com a reportagem da RBS TV sobre o caso. Caminhoneiro, Michel Persival Pereira, 43 anos, vive há um mês dividido entre o luto de perder as filhas, a tentativa de respostas sobre o que teria feito sua esposa e a saudade.
“O que é difícil pra mim é entender que alguém queira ou tenha feito mal pras minhas meninas. Eu quero poder pensar que foi simplesmente um botãozinho que se desligou e elas foram pro céu. Agora pensar que alguém fez mal pra elas, pior ainda, a mãe? É muita crueldade fazer isso. Eu não quero pensar nisso”, declarou.
Ele ainda disse que nas duas vezes em que as meninas foram encontradas mortas ele não estava em casa.
“Eu saí pra trabalhar, quando voltei, tinha uma filha morta. Eu saí pra ir no mercado, quando voltei, tinha outra filha morta. É a única explicação que eu tenho. O que aconteceu nesse meio tempo eu não sei, eu não sei”.
Michel já foi ouvido três vezes pela polícia, todas como testemunha. Ele passou a morar na casa de uma familiar e diz ainda não ter conseguido voltar para a residência onde as meninas foram encontradas mortas.
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Histórico de atendimentos no Conselho Tutelar
As equipes da Polícia Civil agora concentram esforços nas cidades em que os pais das gêmeas haviam morado antes de Igrejinha. A tentativa é remontar todos os passos das meninas em vida para reforçar o inquérito.
A RBS TV revelou que, em 2022, a mãe havia perdido a guarda das crianças após deixar as meninas com uma vizinha e sair de casa. As meninas chegaram a morar em um abrigo antes de serem levadas para a casa do avô, pai de Gisele.
Outra frente de trabalho é em Xangri-Lá, no Litoral Norte, onde, em dezembro de 2021, o Conselho Tutelar fez um atendimento a Manuela, Antônia e uma irmã mais velha após uma ocorrência policial. Na época, elas foram retiradas do pai e também levadas para os avós.
Michel Percival Pereira, pai das gêmeas Manuela e Antônia, que morreram em Igrejinha
Reprodução/RBS TV
Advogado da mãe diz que prisão é desnecessária
O advogado que defende Gisele Beatriz Dias, José Paulo Schneider, diz que sua cliente não precisaria ser mantida presa, já que não oferece risco à investigação:
“A prisão tem a finalidade de permitir que as investigações transcorram naturalmente. E tudo o que está sendo feito e já foi feito pode ocorrer naturalmente com ela solta. Veja, já foram apreendidos os celulares e já está sendo feito o teste do material biológico coletado das meninas. A soltura dela não representa nenhum risco para a investigação. Tanto que, em 30 dias dela presa, nós não sabemos se efetivamente essas crianças foram envenenadas ou intoxicadas com medicamentos, porque todos os vários testes já feitos pelo IGP não trouxeram isso até este momento”.
Já o advogado do pai, Fábio Fischer, que acompanha ele nas vezes em que Michel precisa prestar depoimento na delegacia, diz que “se percebe que a polícia está trabalhando com todo o afinco possível”.
“O procedimento de exumação não é algo que se vê corriqueiramente, mas se percebe que é necessário para que complemente o laudo e se tenha uma prova técnica mais robusta possível, porque é isso que vai permitir o Ministério Público lastrear o oferecimento de denúncia e ter uma acusação penal com fundamentação para que eventualmente ela seja julgada e condenada, se assim for o entendimento do MP”, declarou Fischer.
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