O fim da guerra entre Israel e Líbano

Socorristas em área montanhosa atingida ao leste de BeiruteFadel ITANI

Talvez o público menos atento não tenha percebido, mas, em vários momentos da guerra entre Israel e o Hamas, os Estados Unidos divulgaram notícias sobre o avanço das negociações de libertação de reféns ou de cessar-fogo que nunca se confirmaram. Não foram casos de excesso de pensamento positivo (o mundo da política não é cor de rosa), mas sim uma tentativa dos democratas americanos de convencer o eleitor local de que chegariam lá – afinal, o fim desta guerra seria um forte empurrão na campanha de Kamala Harris. E quem sai perdendo com esse jogo é Israel, sempre condenado como aquele que diz “não” a tentativas de acordo.

Agora, o mesmo está acontecendo com a guerra entre Israel e o Líbano. Donald Trump já deixou claro que quer o fim dessa guerra – e de qualquer outra, aliás. E a administração Biden, na tentativa de aparecer bem na fita, tem trabalhado sem parar para obter a paz antes de entregar o governo para os republicanos, em janeiro de 2025. 

Em mais um capítulo dessa ladainha, os EUA divulgaram nesta semana uma proposta de cessar-fogo envolvendo quatro partes: Líbano e Israel, obviamente, Estados Unidos e Rússia.

A tal proposta prevê 60 dias de cessar-fogo, durante os quais o exército isralense manteria seus soldados na área até 7 quilômetros de sua fronteira. O restante da sul do Líbano, até o limite do rio Litani, seria controlado pelas Forças Armadas do Líbano (FAL), responsáveis por expulsar de lá os combatentes do Hezbollah e eliminar seu enorme arsenal, o qual se encontra enterrado em túneis. 

Além disso, a proposta prevê que Israel teria o direito de revidar em caso de ataques ou tentativas de reagrupamento do Hezbollah no sul do Líbano. À Rússia caberia garantir que a Síria não será usada para contrabandear novas armas para o Hezbollah (fronteira pela qual o grupo terrorista é armado pelo Irã), enquanto os EUA seriam responsáveis por aplicar sanções às empresas russas – que também fornecem armas ao Hezbollah – que continuem operando ali.

Novamente, os EUA divulgam a proposta como certa, lembrando que, sim, eles são grandes amigos de Israel, mas isso não os impede de usá-lo em prol de seus próprios interesses políticos.

Os motivos de Israel

Esse acordo não parece atender à única exigência de Israel: impedir de fato, e não apenas no papel, que o Hezbollah se posicione na fronteira e continue a lançar ataques contra o vizinho. Nem os prefeitos das cidades e vilarejos israelenses no norte do país, nem o governo em si, acreditam na proposta.

Em primeiro lugar, sabe-se que Hezbollah domina a FAL – o grupo terrorista continua sendo a maior força política, militar e social do Líbano – ou, no mínimo, atua em conjunto com ela. Prova disso é que Israel encontrou armamentos da FAL nos arsenais do Hezbollah. Além disso, Israel não tem razões para acreditar que a Rússia realize de fato o controle da fronteira síria, ou que os EUA possam realmente ser efetivos com as tais sanções. 

Enquanto isso, o exército israelense continua matando terroristas a rodo no Líbano e encontrando um arsenal simplesmente enorme enterrado nas montanhas do sul do país. De uma pequena área, que compreende o terreno a até 300 metros da fronteira com Israel, os israelenses já retiraram mais de 8 toneladas de armamentos. 

A realidade em Israel segue sendo a mesma: todas as semanas soldados são mortos pelo Hezbollah (a maior parte deles reservistas, ou seja, pais de família), mais de 60 mil moradores do norte continuam deslocados de suas casas, o país continua sofrendo violentos ataques diários – só na última terça-feira, foram 175 mísseis em meia hora –, e aviões não tripulados provocam enormes danos, uma vez que Israel ainda não conta ainda com uma solução militar capaz de detê-los (até mesmo a residência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi atingida por um deles). 

Assim, não é à toa que Israel acredite que sua missão de “limpar” o sul do Líbano ainda não esteja completa e que precisa de mais tempo antes de concordar em retirar suas forças dali. Os Estados Unidos podem comemorar dia e noite sua proposta de cessar-fogo – mas sua efetivação são outros quinhentos.

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