A Polícia Federal (PF) segue investigando o atentado à bomba ocorrido na noite de quarta-feira (14) na Praça dos Três Poderes, em Brasília. As investigações buscam confirmar se Francisco Wanderley Luiz, autor do ataque, agiu sozinho, se havia financiamento para o ato e qual seria sua possível ligação com grupos radicais organizados. A análise do celular de Francisco, encontrado junto ao seu corpo, e o mapeamento do trajeto feito até o momento da explosão estão entre os focos principais das autoridades. A informação é do jornal Folha de São Paulo.
A PF está analisando as imagens de câmeras de segurança da Esplanada dos Ministérios e tentando rastrear a compra de materiais utilizados na confecção dos explosivos, incluindo um extintor de incêndio encontrado com o autor, que poderia funcionar como lança-chamas.
De acordo com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, há evidências de que o atentado foi planejado. Francisco estava em Brasília desde 27 de julho e havia alugado um imóvel em Ceilândia, além de um trailer estacionado próximo ao anexo 4 da Câmara dos Deputados. O ataque ocorreu por volta das 19h30, após duas explosões na Praça dos Três Poderes, com Francisco se suicidando em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). A polícia também encontrou um carro Kia Shuma carregado com explosivos e em chamas, estacionado próximo ao trailer.
Investigações apontam que Francisco poderia ter ligações com grupos radicais, e a PF está apurando se ele participou dos atos golpistas de 8 de janeiro ou esteve presente nos acampamentos em frente ao Quartel-General do Exército. Um irmão do autor afirmou à imprensa que Francisco esteve no acampamento, mas não soube dizer se ele participou dos ataques.
O celular de Francisco, agora sob análise, pode revelar se ele teve apoio ou se foi incentivado por outras pessoas a cometer o atentado. Em imagens de câmeras de segurança do STF, é possível ver o momento em que Francisco lança um explosivo e, em seguida, exibe outros artefatos ao segurança do local. Pouco depois, ele se deita no chão e aciona a carga explosiva.
O atentado provocou uma ação rápida das forças de segurança. A Esplanada dos Ministérios foi isolada e a Polícia Militar do Distrito Federal iniciou a operação “Petardo”, com o apoio do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que reforçou a segurança nas áreas adjacentes ao Palácio do Planalto.
O corpo de Francisco foi retirado do local pelo Instituto Médico-Legal (IML) após uma verificação de que ele não portava mais explosivos. A área da explosão foi cuidadosamente lavada e desmobilizada pelo esquadrão anti-bomba da PF.
Na noite de quarta-feira, equipes da PF e da PM realizaram buscas em Ceilândia, onde encontraram mais explosivos no imóvel alugado por Francisco. As buscas também levaram à descoberta de uma mensagem escrita em um espelho de banheiro, que fazia referência a Débora Rodrigues, uma mulher envolvida nos ataques de 8 de janeiro, presa por pichar uma estátua em frente ao STF.
Além disso, no trailer alugado por Francisco, a PF encontrou outro celular e mais explosivos, que foram desativados. A investigação revelou também a presença de um boné com o slogan de campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
As investigações se expandiram para a cidade de Rio do Sul (SC), onde Francisco nasceu. Lá, a PF coletou depoimentos de pessoas próximas ao autor e apreendeu aparelhos eletrônicos. A ex-mulher de Francisco relatou que ele teria intenção de matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Os mandados de busca e apreensão foram autorizados por Moraes, antes mesmo de o inquérito ser formalmente atribuído a seu gabinete. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, recebeu as primeiras informações sobre o caso e identificou uma possível conexão entre as explosões e as investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Por isso, o inquérito foi então designado para ser relatado por Moraes.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que o caso está sendo tratado com a linha investigativa de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e terrorismo. O inquérito está sendo conduzido sob sigilo pela Divisão de Antiterrorismo da PF. Rodrigues também questionou a ideia de que Francisco tenha sido um “lobo solitário”, como sugerido por bolsonaristas e por um integrante do GSI. Segundo o diretor, ainda que o atentado tenha sido realizado por uma única pessoa, há sempre a possibilidade de envolvimento com grupos ou ideologias extremistas.