Dificuldades em aprender matemática? Você pode ter discalculia


As dificuldades vão desde ver as horas no relógio ou calcular um troco; neuropsicóloga explica a causa e como identificar Dificuldades em aprender matemática? Você pode ter discalculia
As dificuldades vão desde ver as horas no relógio ou calcular um troco; neuropsicóloga explica a causa e como identificar
Com a chegada do Enem e o período de provas de vestibular em todo o país, os cálculos de matemática andam tirando o sono de muitos jovens e adultos. Mas para uma parcela da população, o pânico vai além: a dificuldade com os números está na incapacidade de ver a hora no relógio de ponteiro, de contar certo o troco do supermercado e até de decorar o próprio número de telefone. Pode parecer algo comum, mas na verdade trata-se de um transtorno de aprendizado.
Essa dificuldade fora do normal de entender e manipular os números e conceitos matemáticos, recebe o nome de discalculia. Estudos recentes estimam que entre 6% e 7% dos brasileiros em idade escolar possuem o transtorno de aprendizado.
“São muitas as dificuldades que uma pessoa com discalculia passa em sua rotina diária. Na idade escolar, por exemplo, por mais que estude e se esforce, não é possível acompanhar o ritmo dos demais colegas, pois a pessoa com discalculia não entende as lógicas ou conceitos matemáticos. E essa dificuldade segue pela vida adulta, impactando inclusive na vida financeira, para além do todo julgamento e constrangimento que sofre”, esclareceu a neuropsicóloga, Suzana Lyra (CRP03/9748)
Diretora e Responsável Técnica do Instituto Baiano de Neurodesenvolvimento Suzana Lyra (IBN), a especialista em TDAH, TEA e esquecimentos, explica que diferente de uma dificuldade em matemática, que pode ser suprida através de aulas de reforço, na discalculia o impasse em entender os números é fruto de um transtorno de neurodesenvolvimento, ou seja, a pessoa já nasce com uma disfunção nas áreas cerebrais que processam as habilidades matemáticas.
“Os estudos mais recentes indicam que a causa da discalculia vem de uma combinação de fatores genéticos e neurológicos, mas que os fatores ambientais também podem influenciar ou intensificar os sintomas em pessoas predispostas, a exemplo de estresse emocional, vulnerabilidade social e a baixa qualidade de ensino”, acrescentou.
O diagnóstico da discalculia ainda enfrenta desafios. No Brasil, como não existe um teste específico para identificar a discalculia, é feita uma avaliação multidisciplinar, com diferentes testes, que avaliam as habilidades matemáticas e outras habilidades cognitivas associadas ao desempenho com números, como memória, atenção, velocidade de processamento, e outros. Há ainda a possibilidade de realizar teste de QI ou exames de imagem para excluir outras condições neurológicas que podem estar interferindo no aprendizado.
“É possível chegar no diagnóstico de discalculia ainda na infância, por volta dos sete anos de idade. Neste cenário o professor acaba por ser uma ferramenta muito importante, visto que ele consegue avaliar o desempenho escolar, comparar o aluno com os demais da sala, avaliar se desempenho com números está adequado à idade cronológica. Por isso é tão importante abordar a discalculia, explicar os sintomas do transtorno de aprendizado, para que os profissionais da educação o conheçam”.
Na lista de transtornos de aprendizado, além de discalculia, existem também disgrafia ou disortografia, que é a dificuldade com a escrita, e dislexia, o mais conhecido e que afeta entre 5% e 17% da população mundial, relacionado ao aprendizado e leitura. Estudos apontam ainda que entre 30% e 70% das pessoas apresentam um tipo de transtorno de aprendizagem, podem apresentar outro.
Apesar de não haver cura para transtornos de aprendizado, Suzana Lyra explica que é possível estabelecer um protocolo de tratamento, pautado em intervenções neurocognitivas e pedagógicas, que podem ajudar a melhorar o desempenho e qualidade de vida de quem sofre com esses transtornos.
“A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, é uma ferramenta muito importante, que vai ajudar o paciente a lidar com o impacto emocional e social, garantindo assim melhor qualidade de vida”, concluiu.
Responsável Técnica: Dra Suzana Lyra (CRP03/9748), Neuropsicóloga.
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