Rosângela e Alex são moradores de Avanhandava no interior de SP e pais de Elza Mary, de um ano e dois meses. Neste sábado (9) é comemorado o Dia Mundial da Adoção. Após 11 anos de espera, casal realiza o sonho da adoção com quase 60 anos
Arquivo pessoal
À porta dos 60 anos, um casal morador de Avanhandava, no interior de São Paulo, não imaginava que sua vida mudaria de forma tão repentina.
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Como a maioria dos casais dessa idade, Rosângela e Alex, hoje com 58 e 60 anos, respectivamente, há pouco mais de um ano buscavam a estabilidade e a tranquilidade, talvez até se preparando para um novo ritmo de vida.
Mas a chegada, por meio da adoção, da pequena Elza Mary, de apenas dois dias de vida, veio como uma surpresa – uma mudança abrupta que desafiou todas as expectativas e os planos do casal. Neste sábado (9) é celebrado o Dia Mundial da Adoção e para celebrar a data, o g1 conta a história dessa família. (Saiba mais no final da reportagem)
Rosângela Maria da Silva e Alexander Von Buldring se conheceram em Vitória, no Espírito Santo, embora ela seja mineira e ele paulista, com ascendência alemã. O encontro aconteceu através de amigos e familiares em comum, em 2017.
Em seguida, o casal se mudou para o interior de São Paulo, onde passou a trabalhar em uma propriedade rural da família, que atualmente é especializada na produção de leite para empresas alimentícias.
Desejo por filhos
“Já faziam uns quatro anos que estávamos juntos quando começamos a considerar a possibilidade de ter filhos, mas, você sabe, o relógio biológico já não ajudava”, conta Rosângela em entrevista ao g1.
Ela tinha 43 anos e Alex, 45. Embora não houvesse um diagnóstico definitivo de infertilidade em nenhum dos dois, a idade era um fator que dificultava a possibilidade de engravidar. O casal tentou vários procedimentos médicos, incluindo o uso de hormônios e até a doação de óvulos, que seriam implantados nela, mas nenhum dos tratamentos teve sucesso.
“Eu não tinha nenhum problema de saúde, mas, infelizmente, não deu certo. É muito difícil, mexe com o emocional. A gente usa muitos hormônios e, quando nada dá certo, a frustração é enorme”, lembra Rosângela.
“Eu falei assim: ‘Não, Rô, chega, porque isso está judiando de você, mexe com a sua cabeça. E nós decidimos, então, que iríamos entrar na fila de adoção’”, complementou Alex.
Após 11 anos de espera, casal realiza o sonho da adoção com quase 60 anos
Arquivo pessoal
Onze anos de espera
Em 2012, Rosângela procurou o fórum pela primeira vez para obter orientações sobre como ingressar oficialmente na fila de adoção no Brasil. Depois de passar por uma série de procedimentos legais, que incluíam entrevistas com juízes e psicólogos, o casal finalmente entrou na fila.
O perfil procurado era de crianças de até 5 anos, de qualquer sexo e região do Brasil. O casal lembra que, nos primeiros anos de espera no sistema, a ansiedade era grande, mas que, com o passar do tempo, a esperança foi se perdendo.
“Nos primeiros cinco anos em que ficamos na fila, eu cheguei a ir algumas vezes ao fórum para saber como estava o processo, conversava com a psicóloga. Mas, depois de seis anos, já não pensávamos mais nisso, nem lembrávamos direito. Achávamos que não teríamos filhos”, lembra Rosângela.
Duas horas para decidir
Foram 11 anos de espera para uma decisão que veio em apenas duas horas. Em agosto de 2023, Rosângela recebeu uma mensagem do fórum convocando o casal para uma reunião, que aconteceu de forma remota.
Durante o encontro, foram informados de que havia uma bebê disponível para adoção e que eles eram os próximos da fila. O que mais surpreendeu Rosângela e Alex foi o fato de a criança ter nascido muito perto deles, em Penápolis (SP), a apenas 15 km de Avanhandava.
“Quando disseram que era aqui do lado e que era um bebê, nós ficamos em choque. Achei que estávamos sonhando, pensei que era mentira”, conta Rosângela.
Além da alegria, também veio a ansiedade de ter que tomar uma decisão tão importante em poucas horas. Alex, que já tinha 59 anos, lembra que ficou especialmente preocupado com o fator idade.
“O que mais pesou para a gente foi a idade. Eu sou muito racional, virginiano, e fiquei pensando: ‘Quando ela tiver 25 anos, eu terei quase 95’. Eu não queria que ela ficasse dependente de mim ou que eu causasse problemas para ela”, lembra Alex.
A família do casal adorou a ideia e ficou empolgada com o novo membro que chegaria. A resposta, claro, foi positiva, e, em dois dias, os pais de primeira viagem chegaram em casa com Elza Mary Von Buldring, nome que a bebê ganhou em homenagem à mãe de Alex.
Primeira foto de Rosângela com a filha Elza
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De repente, pais
Uma amiga de Rosângela, que hoje inclusive é madrinha de Elza, ajudou com a compra dos primeiros utensílios para receber a bebê e até doou alguns itens que eram de seus filhos, que já estavam com um e quatro anos.
“Ela acompanhou todo meu processo e veio com uma bolsa enorme cheia de coisas dos filhos dela. Ela também foi comigo e me ajudou a comprar a banheira, tudo o que a gente precisava”, conta Rosângela.
Uma outra amiga, desta vez de Alex, que era doula, também ajudou o casal com os primeiros dias de vida de Elza.
“Foi uma sincronia do universo, nós tínhamos as pessoas certas para nos ajudar. Porque eu não sei nada de bebê”, lembra Alex.
Após 11 anos de espera, casal realiza o sonho da adoção com quase 60 anos
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Amor de mãe e amor de pai
O casal conta que, diferente de outros casais que têm nove meses para se construírem como pais, o período deles foi muito curto, mas isso não fez com que a construção da parentalidade fosse diferente.
“Nós ficamos esperando no fórum e, enquanto isso, eles foram até a Santa Casa para buscar ela. Na primeira noite, não conseguimos levá-la para casa porque o médico pediu para que ela ficasse mais uma noite na maternidade. Eu fiquei com a sensação de que a havia abandonado, de que a deixei para trás. Não consegui dormir direito. Foi algo que eu nunca tinha vivido. Quando finalmente a peguei no colo pela primeira vez, nem sequer pensei que ela não tinha saído de mim, foi impressionante”, lembra Rosângela.
Hoje, Elza já tem um ano e dois meses e é oficialmente adotada por Rosângela e Alex, que ficaram como guardiões da filha por alguns meses.
Rosângela e Alexander adotaram Elza Mary com apenas dois dias de vida
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Alex também conta que a idade deixou de ser um pensamento que o visita com frequência.
“Talvez a gente tenha mais experiência e consiga passar por algumas situações. Tem aquela máxima que os pais educam e os avós estragam. Nós somos pais e avós ao mesmo tempo, então a gente sempre procura um meio mais correto de educá-la. E nós estamos aprendendo juntos, não tem fórmula exata”, explica Alex.
“A idade está ali, mas é uma coisa de como você se sente. Eu sinto que hoje estou muito mais preparada para ser mãe do que quando eu era bem mais jovem”, completa Rosângela.
A família mora na zona rural de Avanhandava, e Elza está crescendo em um ambiente com muitos animais e contato com a natureza.
“Ela já está dando os primeiros passinhos, nasceram os dois dentes da frente, ela está querendo conversar e tem muita interação com os bichos: perus, galinhas, patos, vaquinhas”, conta Rosângela.
Dia Mundial da Adoção
O Dia Mundial da Adoção foi criado pelo americano Hank Fortener, fundador do site Adopt Together, que lançou a campanha #WorldAdoptionDay.
A campanha tem como objetivo conscientizar a população mundial sobre os direitos das crianças em situação de acolhimento e promover a adoção como uma alternativa positiva para aquelas que não têm condições de convivência com a família biológica.
No Brasil, o processo de adoção é gratuito e regulamentado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Para iniciar, o interessado deve se cadastrar online no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento e, com o protocolo de inscrição, formalizar o pedido de habilitação na Vara da Infância e Juventude. O candidato passará por uma avaliação da equipe técnica, que inclui entrevistas e a participação em um programa de preparação para adoção.
Após a habilitação, o pretendente entra na fila de adoção. O tempo máximo para concluir o processo é de 120 dias, podendo ser prorrogado uma única vez por igual período, caso o juiz considere necessário. O processo visa garantir que a adoção seja feita com responsabilidade, priorizando sempre o melhor interesse da criança.
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