Caso Ágatha Félix: PM apontado como autor do disparo é absolvido por júri popular cinco anos depois da morte


Ágatha Vitória Sales Félix tinha 8 anos quando foi alvejada por um tiro em 2019, na comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão. Caso Ágatha: 5 anos após a morte da criança, PM apontado como autor do disparo é julgado por júri popular
O policial militar Rodrigo José de Matos Soares, apontado como autor do disparo de fuzil que atingiu as costas da menina Ágatha Vitória Sales Félix, que há época tinha 8 anos, foi absolvido das acusações por um júri popular na madrugada deste sábado (9). A criança estava com a mãe dentro de uma Kombi na Comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, quando foi baleada e morreu, há 5 anos.
O julgamento começou no início da tarde desta sexta-feira (8) pelo 1º Tribunal do Júri, no Centro do Rio, e durou mais de 12 horas.
O cabo era apontado como o autor do disparo que matou a criança em setembro de 2019. Os investigadores concluíram que o policial atirou ao confundir a esquadria de alumínio carregada pelo garupa de uma moto com uma arma. A família da vítima contesta essa versão.
O primeiro depoimento do dia foi de Vanessa Sales, mãe de Agatha Félix. Ela se emocionou muito ao lembrar como foi o momento em que a filha foi atingida.
“Eu não estava entendendo. Aconteceu um barulho que parecia uma bomba e ela gritando ‘mãe, mãe, mãe’. Eu falando ‘filha, calma’. E até hoje quando eu chego em casa e tenho aquele sentimento assim de que tá faltando”, relembrou Vanessa.
Julgamento
A audiência estava marcada para começar às 11h. No entanto, só foi aberta às 12h15, pelo juiz Cariel Bezerra Patriota, com o sorteio dos jurados.
Dos 21 nomes convocados, 7 foram sorteados para compor o júri. O Conselho de Sentença é composto por 5 homens e 2 mulheres, que ficarão dentro da sala e incomunicáveis até a decisão.
Rodrigo Soares é acusado de ser o autor dos 2 disparos na direção da kombi onde Ágatha estava
Reprodução/TV Globo
Até às 20h, os jurados ouviram os depoimentos de quatro policiais militares que estavam no local com o PM Rodrigo José de Matos Soares, que responde ela morte de Agatha.
Os PMs reafirmaram a versão de que uma dupla em uma moto passou atirando. O relato foi contestado pelas testemunhas de acusação.
Ao todo, foram convocadas 5 testemunhas de acusação. Uma delas faltou, e o juiz decidiu exibir o vídeo do depoimento dessa pessoa ao Ministério Público.
Na parte da noite serão ouvidos dois peritos convocados pela defesa — que prestaram esclarecimentos sobre a investigação.
Entenda como foi a morte da menina Ágatha
Antes da audiência, Vanessa Salles, mãe de Ágatha, contou que há 5 anos aguardava por esse dia.
“Há 5 anos, eu e a minha família aguardamos por este dia. Não está sendo fácil. [É] Até uma resposta para toda a sociedade, para todos aqueles que choraram junto conosco. Para todas as famílias que ainda aguardam uma audiência, aguardam um julgamento e que possa ocorrer a justiça. Que o réu venha pagar pelo que ele fez”, disse Vanessa ao Bom Dia Rio, da TV Globo.
Ágatha Félix
Reprodução/TV Globo
Segundo a investigação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), a versão apresentada pelo agente após o crime foi contestada pela perícia feita no local. Soares e um colega de serviço alegaram que foram atacados por uma dupla que passou de motocicleta atirando.
No entanto, para a Polícia Civil, entretanto, não ocorreu confronto nem havia outras pessoas armadas no momento do crime: homens que passavam com uma esquadria de alumínio foram confundidos com bandidos e alvo de tiros dos PMs.
A investigação apontou que, um dos tiros disparados pelo cabo Soares ricocheteou num poste, entrou pela traseira da Kombi onde a criança estava, rasgou o forro do assento e atingiu a menina.
Segundo a perícia feita no projétil, foi um estilhaço que causou a morte da menina, perfurando suas costas e saindo pelo tórax.
Kombi onde Ágatha Félix estava quando foi atingida no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro
Reprodução/ TV Globo
Soares chegou a participar da reconstituição da morte de Ágatha, 10 dias depois do crime. Colegas do cabo ouvidos pela DHC à época afirmaram que ele estava “sob forte tensão” no momento em que atirou, devido à morte de um policial militar três dias antes, também no Alemão.
Rodrigo José foi denunciado pelo Ministério Público do Estado (MPRJ) pelo crime de homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. A Justiça, por sua vez, aceitou a denúncia em dezembro de 2019 e Rodrigo virou réu.
A defesa do PM diz que acredita na inocência dele e que qualquer condenação seria extremamente injusta.
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