Comportamento incomum: fêmeas de onças-pardas são flagradas dividindo mesma mata de Campinas


Registros feitos pelas câmeras da Mata Santa Genebra mostram duas fêmeas ‘residentes’ na área; ambas tiveram filhotes recentemente Vídeo revela nova fêmea de onça-parda em Mata de Campinas
Um casal de onças-pardas caminhando pela floresta no final da tarde, uma suçuarana com dois filhotes em plena atividade noturna e uma onça prenha tranquila, são apenas algumas das aparições flagradas pelas câmeras de monitoramento da Mata Santa Genebra, em Campinas, SP, neste ano.
Esse felino (Puma concolor), conhecido por todos esses ‘apelidos’, pode ser encontrado em várias áreas de mata, inclusive perto das cidades, como é o caso da segunda maior floresta urbana do Brasil (251,77 hectares). A presença da onça-parda foi comprovada ali pela primeira vez, com imagens, há 12 anos. Mas pegadas, fezes e pelos já anunciavam que a onça frequentava o refúgio próximo da área urbana bem antes.
O curioso é que, desde então, muito provavelmente uma mesma fêmea escolheu, espontaneamente, ficar por lá, e já teve seis gestações. Foram pelo menos 10 filhotes, de acordo com o biólogo Thomaz Henrique Barrella, responsável pela instalação e monitoramento das armadilhas fotográficas.
“É muito difícil a gente afirmar convictamente que é a mesma fêmea, porque as nossas onças não têm colar, cicatrizes ou algo que as diferenciem, mas normalmente, quando esse animal estabelece um território, ela permanece nesse território, então entendemos que é a mesma fêmea que está aqui desde”, conta.
Onça-parda que reside na Mata Santa Genebra é registrada com os filhotes
É possível que esse número seja até maior, já que no período da pandemia algumas câmeras quebraram e o monitoramento não foi realizado. Ela foi flagrada com dois filhotes já grandes no início de julho e, logo em seguida, desapareceu por dois meses.
“Isso foi um indício de que ela saiu com os filhotes para dispersá-los para outras áreas e depois retornou, já que a vimos sozinha novamente”, diz o biólogo.
De acordo com Barella, levando em consideração a primeira aparição e a idade que o animal começa a reproduzir (a partir dos dois anos), essa onça fêmea já ultrapassou os 13 anos de idade, podendo ser considerada como um felino ‘idoso’.
Remanescente de Mata Atlântica, a área da Mata Santa Genebra é de 251,77 hectares
Arquivo FJPO
Essa questão da idade ser o que fez a onça aceitar a presença permanente de uma nova onça fêmea na área, algo que, até então, não tinha sido visto no local.
Nova residente da Santa Genebra
Embora diversos machos de onça-parda passem pela Mata Santa Genebra todo ano, eles saem em busca de novos caminhos. Apenas a fêmea se tornou “residente”.
Os machos de onça-parda ocupam um território de quase 200 km², enquanto a área de vida da fêmea é de cerca de 80 km², dados que podem variar dependendo da região. Cada fêmea escolhe um local e tende a não compartilhá-lo com outras do mesmo sexo.
“Só que para a nossa surpresa, esse ano, na mesma época, a gente registrou uma onça acompanhada de um macho e outra onça fêmea com dois filhotes grandes. Tempos depois, tivemos registros da onça grávida. Ou seja, chegamos à conclusão que tinham duas fêmeas aqui na Mata”, conta o biólogo. Os pesquisadores acreditam que a onça que apareceu com o macho e depois foi flagrada prenha já teve os filhotes e que eles ainda estão escondidos em algum local em fase de desenvolvimento.
Onça-parda fêmea está ‘residindo’ na Mata Santa Genebra
Mata Santa Genebra
Os vídeos comprovam que a gente está com duas fêmeas residentes aqui, uma mais velha, já em fim de período de capacidade reprodutiva, e a outra fêmea mais jovem que passou a ficar por aqui também
Há ainda a suspeita de que a onça mais nova seja filha da mais velha, já que estudos apontam que as fêmeas tendem a não se afastar muito da área de nascimento, mas por enquanto essa é apenas uma hipótese.
As armadilhas fotográficas da Mata Santa Genebra têm como intuito acompanhar o estado da fauna local como um todo, afinal sabe-se que a área é visitada por pelo menos 329 espécies de vertebrados, sendo 17 anfíbios, 38 répteis, 220 aves, 51 mamíferos e 3 peixes. Quanto aos invertebrados, não existem estudos, exceto para borboletas, das quais foram identificadas mais de 700 espécies.
Além da onça-parda, outros felinos como a Jaguatirica (Leopardus pardalis) e o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus) foram registrados no local.
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