Florianópolis, mais especificamente a região do Norte da Ilha, teve um fim de tarde de caos, com direito a incêndio a ônibus, na quarta-feira (14). Em represália a um confronto com a polícia, criminosos decidiram ‘tocar o terror’ em bairros como Rio Vermelho, Travessão, Santinho, Ingleses, Vargem do Bom Jesus e Canasvieiras.
Para isso, adotaram um modus operandi consolidado pelo crime organizado do Rio de Janeiro e incendiaram um ônibus do transporte público. Segundo a polícia, o PGC (Primeiro Grupo Catarinense) é a facção por trás dos recentes ataques.
Não é a primeira vez que um episódio como este, de incêndio a ônibus, ocorre em Florianópolis. No passado, entretanto, o volume e o período das ações foi maior.
Incêndios tomam Santa Catarina em 2012 e 2013
Cidades de Santa Catarina, inclusive a Capital, Florianópolis, foram alvos de uma onda de violência, com sucessivos episódios de incêndio a ônibus entre 2012 e 2013. Começou em novembro de 2012 e, depois de aparentemente controlados, no início de 2013, novos casos foram registrados.
Naquela oportunidade, há mais de uma década, as investigações apontaram para uma retaliação dos criminosos do PGC reagindo a maus tratos nas prisões catarinenses.
A primeira onda foi entre 11 e 18 de novembro de 2012. Ao todo, 16 cidades tiveram 58 ocorrências, sendo 27 ataques a ônibus.
Em determinado momento, o transporte coletivo circulou escoltado pela polícia, principalmente as linhas do Norte da Ilha, onde ocorreu a maioria dos casos.
A segunda onda começa em 30 de janeiro de 2013 e vai até 20 de fevereiro. Foram 111 ataques, com veículos incendiados, tiros e coquetéis-molotovs contra prédios públicos espalhados em 36 municípios. Dos 111 ataques, 45 foram contra ônibus.
Florianópolis também teve um ônibus incendiado em 2015, no bairro Saco dos Limões. A ação se repetiu em outros municípios da Grande Florianópolis, como Tijucas, São José e Palhoça.
Em abril de 2017, nova onda de ataques. Um ônibus de turismo foi incendiado em Canasvieiras, em mais uma madrugada de terror vivenciada pelos moradores de Florianópolis.
Incêndio a ônibus é modus operandi no Rio de Janeiro
Guardadas as devidas proporções, a intenção de colocar medo na população e passar o recado é praticamente a mesma na Capital catarinense e na fluminense.
Em 23 de outubro de 2023, por exemplo, quando Matheus da Silva Rezende, o Faustão, sobrinho de um miliciano, morreu num confronto com a polícia, 35 ônibus e um trem foram queimados, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, como represália.
A maioria dos 20 veículos incendiados eram da frota municipal, segundo o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro.
Coordenadora do GENI-UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense), Carolina Grillo explica que o ato de incendiar ônibus passou de uma forma de manifestação popular para um meio em que grupos armados demonstram e reafirmam poder.
“Algo que antes era uma prática comum de demonstrar insatisfação, por parte da população indignada com algo, foi incorporado ao modus operandi de chefes locais de grupos armados para demonstrar poder e ameaçar o poder público, por meio da interrupção da ordem”, analisa Carolina.
Conforme o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro, 32 veículos foram queimados de agosto de 2023 a julho de 2024. Outros 2.516 foram vandalizados e 135 sequestrados para barricadas.
Nos últimos dez anos, 423 veículos foram incendiados criminosamente no Rio de Janeiro, sendo 236 na Capital, segundo a Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro (Semove).
*Com informações da Agência Brasil