Para celebrar o 370° aniversário de Sorocaba (SP), nesta quinta-feira (15), o g1 destaca sobre cinco lugares históricos que carregam nomes de pessoas que nem todos conhecem. Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, em Sorocaba fecha aos fins de semana
Prefeitura de Sorocaba/Divulgação
Se as paredes dos monumentos e prédios de Sorocaba (SP) soubessem falar, contariam histórias que estão preservadas há décadas e seriam facilmente retratadas em filmes. Mas, será que você sabe o que levou essas construções a terem nomes de pessoas específicas?
Para comemorar os 370 anos do município, celebrados nesta quinta-feira (15), o g1 conversou com o historiador José Rubens Incao, que contou detalhes sobre a vida de figuras ilustres de cinco pontos considerados importantes.
Quinzinho de Barros
Casarão de Quinzinho de Barros, ao lado do zoológico
Prefeitura de Sorocaba/Divulgação
Descrito por muitas vezes como uma pessoa generosa, o Capitão Joaquim Eugênio Monteiro de Barros, mais conhecido como “Quinzinho de Barros”, dá nome ao zoológico municipal, localizado ao lado do casarão em que viveu por muitos anos.
Hoje, a residência do capitão abriga o Museu Histórico Sorocabano (MHS), porém, antes de se tornar um patrimônio histórico, Quinzinho chegou a abrigar milhares de viajantes e bandeirantes que passavam pela região, além de acolher os afetados pela gripe espanhola.
“O casarão foi muito importante para a cidade. Ela era feita de taipa de pilão, com uma fachada que servia para acolher visitantes e bandeirantes. Havia quartos sem relação com outros cômodos, com o intuito de receber bem, mas sem depositar confiança”, explica José Rubens.
Quinzinho de Barros abrigava visitantes e bandeirantes em sua residência
Museu Histórico Sorocabano/Divulgação
Além disso, o capitão, que era marido de Hortência Prestes, formando assim a família Prestes de Barros, ajudou muitas pessoas a se instalarem na região, hoje denominada Vila Hortência, localizada na zona leste de Sorocaba. O principal povoado ficava na Rua dos Morros, atual Avenida Nogueira Padilha.
“Ele era uma pessoa muito comunicativa. Uma de suas principais ações era chamar pessoas para migrarem da Espanha ao Brasil, para trabalhar nas plantações. Graças a esses chamados, a Vila Hortência chegou a ser a segunda maior colônia espanhola de toda a América Latina”, conta.
Com o passar do tempo, sua casa, com uma fachada sempre aberta às pessoas, recebeu diversos visitantes e moradores. Entre as figuras marcantes, está Domitila de Castro Canto e Melo, conhecida como a Marquesa de Santos, que chegou a passar alguns dias na residência.
“Ela esteve na casa no ano de 1842, durante a Revolução Liberal, que foi liderada pelo Padre Feijó em Sorocaba. A Marquesa nunca morou lá de fato, mas fez do local sua estadia por alguns dias. Na cidade, ela se casou com o marido, conhecido como Brigadeiro Tobias”, conta.
Brigadeiro Tobias
Casarão era de Rafael Tobias de Aguiar, uma das maiores influências políticas da cidade
Prefeitura de Sorocaba/Divulgação
Rafael Tobias de Aguiar foi um dos grandes protagonistas para a formação de Sorocaba. Com seu nome estampado em um dos distritos mais povoados do município, o marido da Marquesa de Santos teve um papel crucial no desenvolvimento econômico e social de toda a região.
“Rafael também teve um casarão na cidade, onde morou por muitos anos. Fica no bairro que hoje leva seu nome, e é o lugar com maior altitude de Sorocaba. Sua arquitetura também é feita de terra socada, que é uma marca da arquitetura paulista. Foi uma tradição árabe que os portugueses trouxeram para cá”, relata.
Apesar da sua alta influência no quesito financeiro, o Brigadeiro Tobias também foi um grande nome da política. Eleito presidente da província de São Paulo por duas vezes, chegou a ser proclamado pela população para um terceiro mandato, na tentativa de depor Barão de Monte Alegre, então líder da região.
“Ele foi um homem muito afrontoso. Junto com Feijó, chegou a confrontar a ascensão dos conservadores pró-Portugal. Durante seu período na política, Tobias dispensou o salário que tinha direito com o intuito de contribuir no crescimento da cidade.”
Brigadeiro Tobias foi um dos líderes da Revolução Liberal
Polícia Militar/Divulgação
Com o dinheiro inicialmente projetado para ser destinado ao Brigadeiro, foi instalado um serviço de correio, além de melhorias no sistema de saúde e na força pública. Por isso, ele é considerado o patrono da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
“A Rota, que é o primeiro batalhão de choque da PM, leva exatamente o nome dele. A sigla consiste em ‘Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar’. Ele foi muito importante para mecanismos que funcionam até hoje”, conta.
Seu casarão, localizado na Rua Maria Augusta da Silva, dentro da antiga Fazenda Passa Três, hoje fica sob os cuidados da Prefeitura de Sorocaba. Desde então, o local é considerado o centro nacional de estudos do tropeirismo, movimento conduzido por tropas de cavalos e muares, com o objetivo de transportar e comercializar produtos alimentícios até a sede da colônia, à época, no Rio de Janeiro.
Santa Rosália
Estádio Walter Ribeiro, no bairro Santa Rosália, em Sorocaba (SP)
Anderson Cerejo/TV TEM
O bairro, antigamente prestigiado por suas casas de alto padrão e sua localização estratégica nos anos 1980, surgiu após uma romântica homenagem que Frank Speers, um empresário inglês, decidiu fazer à sua esposa, Rosália Oetterer.
“A região era considerada muito afastada no período de 1890, meio ‘fim de mundo’. Junto com seu sogro, George Oetterer, eles abriram uma fábrica de tecidos, chamada Santa Rosália. Lá, foi criada uma pequena vila operária”, conta.
A partir da década de 1940, a fábrica foi vendida e seu comando foi transferido para a Companhia Nacional de Estamparia (Cianê). Liderado por Severino Pereira da Silva, o conglomerado passou a sofrer dificuldades e os operários eram obrigados a trabalhar em condições precárias, beirando a escravidão.
Fábrica de tecido Santa Rosália, em Sorocaba (SP)
Museu Histórico Sorocabano/Divulgação
“Há relatos que a vila operária tinha cerca de 60 casas e um único banheiro para todos. A jornada de trabalho variava entre 12 à 13 horas diárias. Algumas pessoas chegaram a morrer de exaustão, de tanto trabalhar na fábrica”, lamenta.
Em paralelo ao trabalho problemático e excessivo, a Santa Rosália chegou a ter um período de desenvolvimento econômico que se destacou de outras regiões de Sorocaba. Entre as conquistas, está o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
“Severino chegou a construir creches, delegacia de polícia, escola, que hoje é o Senai. Foram muitos serviços para urbanizar e fixar o operário próximo a fábrica. Ele também fez um hospital, que é a atual Policlínica, na Avenida Roberto Simonsen. Houve até mesmo o Cinema Santa Rosália que, seus aparelhos eram tão bons, que funcionavam como teatro também”, explica.
Gualberto Moreira
Ginásio leva o nome do ex-prefeito de Sorocaba (SP), Gualberto Moreira
Prefeitura de Sorocaba/Divulgação
Ex-prefeito de Sorocaba entre 1948 e 1950, seu nome é o responsável por identificar o Ginásio Municipal de Esportes, também situado na mesma Vila Hortência de Quinzinho de Barros.
“Ele fica próximo a antiga Chácara Amarela, pertencente à família Lopes de Oliveira, onde houve a primeira iniciativa de indústria têxtil em Sorocaba. Os funcionários trabalhavam em pequenos teares hidráulicos de tecido em seda. Assim como na fábrica Santa Rosália, era de forma precária e escravizada”, afirma.
Ao g1, José Rubens conta que o ginásio surgiu após Sorocaba ser escolhida como sede dos Jogos Regionais na década de 1950. Sem um lugar apropriado para receber os times e seus torneios, foi necessária a abertura de uma campanha para sua construção.
Gualberto chegou a ser Deputado Federal
Câmara dos Deputados/Divulgação
“Sorocaba precisava muito de um ginásio, mais do que nunca, já que os jogos estavam chegando. Por isso, o prefeito Gualberto Moreira, junto com o Padre André Pieroni, fizeram uma campanha de ajuda, pedindo doações, e conseguiram. Inclusive, o padre participou ativamente da construção, montando tijolo por tijolo”, diz.
Durante o período de campeonato, o estabelecimento, que levou o nome do então prefeito, recebeu times de mais de 80 cidades de todo o estado. Porém, ele não parou por aí: o ginásio chegou a ser um centro de recepção de artistas de todo o Brasil.
“Muitas figuras ilustres, celebridades e artistas pisaram no Ginásio Gualberto Moreira. Eu mesmo me recordo de ter visto a Orquestra Sinfônica de Sorocaba em uma apresentação lá. Toquinho e Vinícius de Moraes também realizaram concertos. O internacional não ficou de fora, com apresentação da grande Sarita Montiel.”
“O lugar também foi a casa do time de basquete feminino nos anos 1960 que, à época, foi considerado o melhor time de todo o estado. A Hortência, grande jogadora da década de 1980, também esteve por lá, além de Falcão e outros jogadores. É um marco importante para o esporte regional”, complementa.
Ginásio de Esportes de Sorocaba (SP) existe há mais de 70 anos
Arquivo pessoal
Renato Sêneca de Sá Fleury
Biblioteca Infantil Municipal ‘Renato Sêneca de Sá Fleury’, em Sorocaba (SP)
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Conhecido por estampar a frente da Biblioteca Infantil Municipal de Sorocaba, Renato Sêneca de Sá Fleury também nomeia uma escola, situada na zona oeste da cidade. Formado na instituição de ensino Caetano de Campos, ele é considerado um dos pioneiros da nova pedagogia brasileira.
“Ao lado de Monteiro Lobato, ele produziu inúmeros livros didáticos para crianças, que eram considerados bem diferenciados. Os cenários e personagens sempre remeteram às brasilidades, e era retratada a realidade cotidiana das crianças”, pontua.
Além da produção completamente voltada ao público nacional, Renato procurava escrever livros pequenos, que coubessem na bolsa das crianças, para serem levados a qualquer lugar sem dificuldades.
“Eram sempre livros pequenos, com letras grandes e recheado com muitas fotos e ilustrações. Além de professor, diretor e escritor, ele chegou a receber o Prêmio Jabuti, que é a maior premiação voltada à literatura em nosso país”, explica.
Biblioteca Infantil Municipal ‘Renato Sêneca de Sá Fleury’, em Sorocaba (SP)
Divulgação
Hoje, a biblioteca fica na Rua da Penha, no Centro de Sorocaba. Antes de ser o que é atualmente, ela passou por várias funções diferentes desde os anos 1890.
“Ela foi erguida inicialmente como uma casa, pertencente à família Soares, e foi uma das primeiras construções de cal e tijolo na cidade, também foi usado areia, era algo considerado bem diferente do que era usado anteriormente. Eles venderam a residência após a filha falecer. Não queriam mais ficar ali, devido ao trauma causado”, destaca.
Quem adquiriu a antiga casa da família foi o Banco Comercial do Estado de São Paulo, transformando-a em uma residência para o então gerente da estatal. Sua fachada foi totalmente reformada, mesclando diferentes formas de arquitetura, que são preservadas até hoje.
“Depois disso, foi passada à Caixa Econômica Federal e, depois, à Prefeitura de Sorocaba. Lá, há muita coisa. Costumo dizer que também existem livros como um complemento. Há um circo com apresentações artísticas, aulas de culinária, tai chi chuan e oficina de bordados. Ela se mantém com as marcas de resistência”, finaliza.
*Colaborou sob supervisão de Matheus Arruda
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